Lá onde a natureza dita as regras

Marcelo Almeida fala como os nórdicos são sábios de obedecer a natureza

Uma experiência recente me fez pensar em como é importante ler sobre a história de outros países, inclusive aqueles que parecem distantes de nós, que são pouco conhecidos por aqui. Sempre há tanto para descobrir! Se não temos informação, mesmo o lugar mais interessante do planeta vai parecer menor, menos rico, porque somos cegos à sua riqueza.

O que me levou a pensar nisso foi a viagem que fiz a uma região da Europa que é menos conhecida por nós, brasileiros: a Escandinávia. Tive o privilégio de visitar os países nórdicos e de ler muito sobre a Suécia, a Dinamarca, a Noruega e a Finlândia. São países que têm características muito interessantes. Pra começar, tem aquilo que é definido pela natureza e que eles são obrigados a respeitar.

Nesses países as pessoas vivem concentradas no sul porque o norte, principalmente no caso da Finlândia, está muito próximo do Círculo Polar Ártico e por isso as condições climáticas são muito duras. Tem muita terra desabitada, grandes vazios sem a presença de humanos. É perceptível que as florestas por lá são impenetráveis para o ser humano. São florestas muito densas. Dá para dizer que são países cobertos por coníferas, que são os pinheiros.

Na Suécia, visitei Estocolmo. O que me marcou foi, em primeiro lugar, a presença histórica dos vikings. O reinado dos vikings, guerreiros e exploradores, acabou com a bem-sucedida cristianização do país no final do século XI. A beleza da Suécia é impressionante. É um país grande – eu não sabia, mas é o quinto maior da Europa. Tem 1.600 quilômetros de extensão e quase nada de terra cultivável por causa do frio: só 7%. Uma parte enorme do território sueco já está dentro do Círculo Polar Ártico. E tem cem mil lagos! Isso mesmo, cem mil. A capital, Estocolmo, é formada por 14 ilhas. E eles têm o terceiro maior reservatório de água doce da Europa. É um país deslumbrante e com um respeito muito grande pelas pessoas.

Escandinávia: população restrita ao sul, florestas densas ao norte. Foto: Serviço de Turismo da Noruega.

A descoberta que fiz sobre a Suécia que mais me impressionou foi saber que no princípio do século XIX, por volta de 1805, a Suécia era um país muito pobre porque teve um período de estagnação forte na agricultura e no comércio. Quase um milhão de suecos imigraram naquela época, principalmente para os Estados Unidos. Quem vê hoje o país próspero em que a Suécia se transformou, fica surpreso em saber de que ponto ela partiu.

Ah, e come-se muito bem por lá.

A Dinamarca tem uma paisagem linda, com uma capital maravilhosa, especialmente no verão. Ela é constituída por nada mais nada menos que 405 ilhas, sendo que um quarto dessas ilhas estão na capital, Copenhague. É uma cidade absolutamente dedicada às pessoas, que circulam de bicicleta, de patinete, a pé. No verão, qualquer metro quadrado de sol é motivo para o dinamarquês se expor ao sol e se bronzear. Eles desfrutam de um verão muito curto e suportam um inverno muito longo.

Em Copenhague tem um lugar lindíssimo, que é o Parque Tívoli, que está em operação desde 1843. É um parque muito popular porque tem excelentes restaurantes, shows pirotécnicos, balé e brinquedos tradicionais, como montanha-russa e roda-gigante. Outra coisa muito legal que vi em Copenhague foram os barcos de passeio. A gente vai ouvindo sobre a história da cidade enquanto desliza pelos canais e pode descer para ver algum lugar bacana e depois embarcar em outro barco.

A Finlândia é um país mais frio e mais cinza que os vizinhos, que faz a gente lembrar da União Soviética, que teve uma influência grande sobre os finlandeses. A Finlândia tem uma relação forte com os países da Europa Oriental e isso faz com que seja diferente da Dinamarca, da Noruega e da Suécia. Eu estive em Helsinque, a capital, e peguei dias frios e cinzentos mesmo no verão. Não foi o país que mais me encantou, mas vale a pena passar por lá.

Paisagens deslumbrantes na Noruega. Foto: Serviço de Turismo da Noruega.

E agora eu chego à Noruega, que é o país mais lindo que tive oportunidade de visitar na minha vida. É um lugar que tem um fascínio, uma grandiosidade inversamente proporcional a sua extensão territorial. Tudo impressiona: os cenários, a capacidade das pessoas te acolherem. Os noruegueses parecem concentrados o tempo todo em respeitar o espaço do outro: respeitam filas, não usam celulares em locais públicos para não fazer barulho.

Além de Oslo, a capital, estive em Bergen, na costa oeste, que é considerada uma das cidades mais lindas do mundo. É o ponto de partida para se ver os fiordes na costa, que é muito recortada. Os fiordes foram formados por geleiras durante a última era glacial, há  cerca de 12 mil anos. Quando as geleiras derreteram, o nível do mar se elevou e a água preencheu os profundos vales criados pela erosão. Então é uma paisagem extraordinária. Você vai em um barquinho junto aos paredões de rocha e a água espelha tudo porque é muito cristalina e muito parada.

Mais de 95% da Noruega corresponde a terras não cultivadas e florestas. Isso mesmo, a população tem pouco espaço para ocupar e convive bem com essa natureza poderosa que está por toda parte.

A grande sacada dos escandinavos é a maneira de perceber o meio ambiente e a relação com o outro. Para eles não existe frio, chuva, vento, o que existe é roupa inadequada para o momento. Eles se alimentam bem, fazendo pequenos lanches ao longo do dia. A gente nota que ninguém come muito. Tudo é muito pouco, tudo é em pequenas porções.

O que mais diferencia a Escandinávia do restante da Europa é o respeito ao cidadão. O que impacta você vai impactar no outro. Fale baixo, fique na fila, respeite horário, não suje a rua, diga bom dia. Para mim, eles são hoje um exemplo para o mundo.

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