Que se dane o hacker de Araraquara

O ponto é saber se temos democracia, se a eleição foi manipulada pelo Judiciário

O país está alvoroçado: descobriram um hacker em Araraquara, capital da laranja. Aparentemente, fuçava em celulares de quem não devia – até ministros, quem sabe o do próprio presidente. As manchetes se sucedem, as especulações são muitas. O hacker de Araraquara, de repente, se transformou no centro do país.

Ele podia estar a mando de alguém, gritam uns. Isso mostra que os vazamentos não valem nada, arrotam outros. E se divertem os bolsonaristas com o “silêncio sepulcral” dos que exigiam apurações sobre o conteúdo do Telegram de Sergio Moro e da força-tarefa da Lava Jato.

Ora, modus in rebus, senhores. A bem da verdade, a notícia sobre o hacker de Araraquara é – a não ser que se descubra mais algo – uma nota de rodapé dos fatos do país. Um hacker é só isso: um sujeito que invade contas alheias em busca de algo: dinheiro, informações, sabe-se lá. Não estamos falando de Fernandinho Beira-Mar, muito menos de Al Capone. É apenas um rapaz que nem sabia esconder seu número de IP. Convenhamos.

Como notícia, o hacker de Araraquara tem o valor de “Caetano estacionou no Leblon”. Como interesse social, equivale à última notícia sobre A Fazenda 8. O hacker é um zero à esquerda. Que responda por seus crimes, mas, em última instância, é preciso dizer: Dane-se o hacker de Araraquara.

O que está em jogo é outra coisa. É saber se Sergio Moro, o ministro da Justiça, mandou prender um ex-presidente por interesses eleitorais. O que está em jogo é saber se a Justiça atuou com interesses partidários e ideológicos. Se o Ministério Público ainda é independente. Se se pode confiar na independência dos Poderes.

O que é preciso saber não é se existe um menino em Araraquara querendo invadir celulares. É se existe ou não democracia no país. É saber se o atual presidente da República foi eleito legitimamente ou se sua eleição se baseou numa fraude jurídica que envolveu a Lava Jato, a Justiça, a imprensa, com STF, com tudo.

O hacker de Araraquara que pague pelo que fez. Mas me importa muito mais saber se as mensagens do celular de Moro, se as conversas de Deltan são reais. Quando vão apreender o celular do coordenador da Lava Jato? Quando Moro vai ser chamado a se explicar? Quando se fará uma investigação sobre os fatos mais estarrecedores divulgados até hoje sobre uma eleição presidencial no Brasil?

O hacker é um pato, um bode expiatório. Enquanto olhamos para ele, os prestidigitadores de Brasília e de Curitiba sorriem, passando impunes depois de possivelmente terem manipulado uma eleição e feito de tolos 200 milhões de brasileiros.

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

O (des)encontro com Têmis

Têmis gostaria de ir ao encontro de Maria, uma jovem vítima de violência doméstica, mas o Brasil foi o grande responsável pelo desencontro

Leia mais »

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima