O que a ancestralidade genética revela sobre saúde da população negra brasileira?

Diabetes, hipertensão e anemia falciforme acometem mais a população afrodescendente do país devido a marcadores genéticos, aponta pesquisa da UFPR

Por Bruna Alvares e Giovani Pereira Sella, sob supervisão de Alice Lima

A maior parte dos estudos de genética no mundo é focada nas pessoas de origem europeia. Um levantamento publicado na revista Nature Medicine expôs que até junho de 2021, 86% das pesquisas da área foram conduzidas em indivíduos de ascendência europeia.

Esse cenário preocupa, como explica uma das coordenadoras do projeto de extensão da Universidade Federal do Paraná “A Genética Tem Cor?”, Claudemira Lopes, já que apenas uma pequena parte desses resultados pode ser aplicada a outras populações. “A maioria dos estudos ainda priorizam populações brancas, deixando de lado as populações negras, indígenas e asiáticas, sendo que menos de 25% dos estudos em populações brancas se aplicam a outras populações”, reforça a pesquisadora, que é professora de Licenciatura em Educação do Campo – Ciências da Natureza da UFPR.

O projeto “A genética tem cor?” é focado em divulgar e popularizar os achados da pesquisa da pesquisa “Ancestralidade africana na população brasileira e os processos evolutivos que influenciaram na sua composição alélica”, desenvolvido sob orientação da professora Marcia Beltrame, que faz parte do Departamento de Genética da UFPR e também coordena o projeto, ao lado de Claudemira.

Essa pesquisa identificou que pessoas negras no Brasil são mais propensas à ocorrência de doenças como anemia falciforme, diabetes e hipertensão. A intolerância à lactose é outro exemplo. A maior ocorrência dessa condição acontece porque a digestão do leite é permitida por mutações genéticas específicas, que possibilitam a produção da lactase. Uma dessas mutações é mais comum na população brasileira de origem europeia, que é em grande parte branca.

A pesquisadora Marcia Beltrame explica que essa mutação já existe em todo o país e na população negra também. “Porém, temos maiores índices de mutação nas pessoas brancas, que em média possuem maior ancestralidade europeia”, esclarece.

Fatores genéticos, como explica Claudemira Lopes, podem ser a causa ou parte da origem de diversas doenças. Podem interferir, inclusive, na resposta e eficácia de muitos medicamentos. A pesquisadora acrescenta que conhecer a genética dos grupos raciais pode impactar no cuidado com a saúde das pessoas, já que a partir desses marcadores genéticos, o caminho para identificar possíveis doenças ou condições – e poder tratá-las – é facilitado.

A genética tem cor?

“A genética tem cor?” tem o objetivo de promover a divulgação dos processos e resultados encontrados a partir do projeto da pesquisa já desenvolvida da prof. Marcia Beltrame, além de outras pesquisas de interesse da população.

A iniciativa surgiu a partir da necessidade de fornecer e divulgar indicadores de saúde para a população afro-brasileira. Ainda existem diversas perguntas a serem respondidas para aumentar o registro de dados sobre a saúde da população brasileira e sobre as variantes genéticas que podem ajudar a decifrar diagnósticos e tratamentos.

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