Medo de coisas reais

Notas sobre a extrema direita brasileira

Tenho medo de ser atropelado, de bater o carro, de cair da sacada e de cair de avião. Principalmente, tenho medo de gente ruim, de psicopata e de bandido. Dentre os piores medos tenho muito de gente com más intenções que tem a máquina nas mãos: de juiz parcial, de agente da lei bandido ou de político com as costas quentes para fazer o que quiser, mas isso não é só um medo é um chamado ao combate, pois o medo é emoção basal que alerta sobre a necessidade de lutar ou fugir.

No caso de gente ruim os alertas são claros, pois a estratégia sempre é minar tudo que dá sustentação e potência ao outro. Uma forma de injustiça perversa reside na tentativa de imobilizar, de impedir qualquer revide, de evocar direitos. Por isso, nesse caso a reação nunca pode ser a inércia. Fugir também faz parte da estratégia, mas ficar parado não.

Paralisamos diante da fantasia de um outro superpoderoso que quer nos destruir, mas essa é justamente uma estratégia do fascismo, quando afirma que tem todas as armas, todos os meios, todos os poderes e nada se pode contra eles. Essa onipotência, entretanto, não existe.

Da pre ver que a extrema direita brasileira morre de medo da esquerda, pois seu delírio paranóico é uma declaração de crença na super força dos adversários. Daí a necessidade delinquente de tentar assumir o controle de todos os poderes, de penetrar todo o estamento político, fazendo nascer uma paranóicracia onde quanto mais leal ao surto maior o cargo.

Dentre a banda de amalucados a razão não é o forte. O vocabulário é pobre e os conceitos filosóficos sobre democracia e justiça passam longe de serem compreendidos em sua totalidade. Não é incomum que na falta de metáforas mais elaboradas a extrema brasileira se refira aos adversários como demônios e eles como os escolhidos de Deus. Aliás qualquer um que não seja um deles é o próprio capeta. O que se desenha é um medo irracional que se deixa ceder em nome da segurança contra essa ameaça. Um novo AI-5, uma guerra, uma bomba, qualquer coisa vira aceitável se for pra não deixar nossa bandeira vermelha.

O problema é que nesse surto coletivo somente uma ideia infantilizada de comunismo impõe medo, enquanto coisas muito reais, como a fome, a ameaça do totalitarismo e a corrupção não ganham mais o alerta que provocaria o ímpeto para a luta.

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