Foram quatro anos de um discurso perverso reverberando pelos poderes da república. Zero empatia com quem morreu, zero respeito às minorias, mas muita tolerância com o ódio e o rancor. Quatro anos de narcisistas incapazes de serem civilizados para poderem viver em sociedade de maneira inteligente, sensível e elegante. Veja, parece que ser babaca egoísta é traço comum entre o escalão do governo Bolsonaro, pois o que se viu foi uma gente com enorme dificuldade de viver com as diferenças e quando confrontados contra a própria perversidade soltaram os mais absurdos impropérios. Não querem dividir o mundo com mais ninguém que não seja a sua própria imagem de grosseria, assim evitam confrontar suas próprias fragilidades. Principalmente as masculinidades brochas, suplementadas de viagra, armas e motociatas, ou o feminino servil que mira apenas o lar e o recato. Na verdade os perversos não aguentam ver no espelho o quanto são cafonas e incapazes de existir com profundidade.
Passado este período de trevas caretas, precisaremos de algo que nos sirva de guia mestre para uma práxis de vida mais poética. E depois de tanta perversidade violenta, dura e rancorosa, engessada e cega, o que temos de melhor para nos guiar para os próximos passos não é a economia, mas a arte.
A arte, a poesia, a ciência, a filosofia e tudo aquilo que consiga segurar a dúvida nas mãos e com ela seguir com coragem pelo mundo que ainda está por ser feito.
Precisamos daquilo que é a matéria da sensibilidade e não tem formatação definida. Temos que lembrar que coração é recurso de alta qualidade, que ética vem antes de riqueza, que todo trabalho é digno e que o capitalismo deve ser mero coadjuvante, uma ferramenta para ordenar uma parte do mundo e nada mais. Os últimos anos foram de fascismo fanático com notas de neoliberalismo tosco,
insistente em simplificar a grandiosidade da vida em duas categorias absolutas: bens ou
serviços, esquerda ou direita, azul ou rosa, nós ou eles.
Não dá mais para aguentar esse papo sectário. A vida é grande demais pra ser colocada na caixinha das seitas políticas sem compreensão ampla de mundo ou das lógicas de mercado que não contabilizam os valores da alteridade e do amor. Saudemos a capacidade de expandir a vida, de fazer de nossos corpos um ensaio livre e desimpedido para uma vivência melhorada. Que erga a voz quem for da arte, da ciência, da poesia, da experimentação. Que falem alto, pois estiveram muito tempo calados. Agora o melhor é fazer a perversidade voltar a ser um zero à esquerda e guiar o futuro pela sensibilidade que nos faz sentir e conectar com o mundo em toda a sua complexidade.
Sobre o/a autor/a
Guilherme Zawa
Escritor, psicanalista e artista visual. Tem um jeito agradável para tratar de coisas sérias. [email protected]