Uma luta que vai muito além do direito ao voto

Para Guimarães Rosa, viver é perigoso. E muito mais para as mulheres, mas, felizmente, e também graças a elas, a história toma novos rumos e segue neles

Por conta de uma reportagem que apenas o jornalismo Plural permite e disponibiliza, temos que, em Curitiba, 9 mil mulheres vivem, ou sobrevivem, sob medidas protetivas e, desde 2014, a Patrulha Maria da Penha, da Guarda Municipal, realizou mais de 42 mil atendimentos, conforme reportagem de Cecília Zarpelon.  

E, felizmente, graças também a elas, temos que “a representatividade feminina nos poderes Legislativo e Executivo ainda é pequena, mas a cada eleição ocorre um avanço. Na Região Metropolitana de Curitiba, das 29 cidades, 3 delas serão comandadas por prefeitas, o que nunca ocorreu na história política de duas delas”, como destacou outra matéria, agora de Mauren Luc.   

Voto só com autorização do marido  

É forçoso não esquecer: no Brasil, a mulher só obteve direito ao voto em 1934, quando o governo Vargas regulamentou o voto feminino. Mas quem era casada tinha que apresentar autorização do marido – isso mesmo. No entanto, em um país continental, geográfica, política e administrativamente desunido, temos que a primeira prefeita do país foi Alzira Soriano, eleita em Lages, Rio Grande do Norte, em 1928. Antes mesmo de as mulheres conquistarem o pleno direito ao voto. E, pela primeira vez em toda a América Latina, um cargo do Poder Executivo foi ocupado por uma mulher. Vale frisar que as restrições ao voto feminino foram banidas quando da publicação do Código Eleitoral, em 24 de fevereiro de 1932. Passo seguinte, com a publicação do Decreto n.º 21.076, chegamos ao voto secreto, à Justiça Eleitoral e, finalmente, ao voto feminino nacional.  

Dilma Rousseff. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil.

A primeira mulher presidente  

Ainda voltamos no tempo, já que o dia 8 de março, Dia da Mulher, foi oficializado pela Organização das Nações Unidas na década de 1970, mas, mesmo com o passar dos anos, há quem insista em ignorar que a diversidade é uma realidade irreversível. Um exemplo, registrado quando da eleição de Dilma Rousseff, que, em 2010, aos 63 anos, tornou-se a primeira mulher presidente do Brasil – com mais de 56% dos votos válidos (quase 56 milhões de votos).

E vale lembrar (ou lamentar) mais uma vez: em um concorrido bar de Curitiba, no Juvevê, todo mundo de olho no televisor, aguardando o final da apuração. Silêncio até o momento em que o apresentador anuncia a vitória de Dilma. Aí, um troglodita dos novos tempos, aquele para quem lugar de mulher é na cozinha, quebra o silêncio ao disparar um comentário calhorda:  

– Ganhou, mas não vai assumir. Tem 1.200 soldados prontos para impedir a posse…  

Isso mesmo, não uma tropa ou batalhão, mas exatos 1.200 soldados, para impressionar. E não era o tal do Jair, mas, certamente, um futuro bolsominion que, diante do silêncio (de reprovação) da galera, pagou a conta e saiu de fininho pra evitar alguns cascudos. E Dilma voltaria a ser eleita presidente em 2014, virando novamente alvo preferencial do PIG – o Partido da Imprensa Golpista.  

“Se há uma coisa que aprendi na vida é o poder de usar a própria voz.”

Michelle Obama.  

“Não se nasce mulher, torna-se mulher. ” 

Simone de Beauvoir .

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