Um genocida entre nós – livre e todo faceiro

O adjetivo faceiro meio que caiu em desuso, mas, infelizmente, voltou e ganhou destaque no noticiário pelo mundo afora – e nos remete ao Anjo da Morte no Brasil

O termo genocídio surgiu em 1940. A perseguição nazista com o extermínio frio e calculado de judeus, durante a II Guerra Mundial, levou o advogado Raphael Lemkin a defender, em 1943, em livro publicado no ano seguinte, um trágico carimbo histórico das atrocidades nazistas. Título: Axis rule in occupied Europe – Domínio do Eixo na Europa Ocupada.  

E Lemkin denuncia que os nazistas implantaram o genocídio para exterminar judeus e também ciganos – visando alcançar outros objetivos. A palavra é resultado da combinação de duas outras — genos (do grego que significa raça) e cide (do latim que significa matar). Assim, a junção genos + cide carimbou a crueldade: ações coordenadas com o objetivo de exterminar pessoas de determinado grupo.  

Anjo entre nós

A distância entre Curitiba e Rio do Sul é de 293 km. O tempo estimado do percurso da viagem entre as duas cidades é de aproximadamente 4 horas e 17 minutos. Em 1967, sem a altíssima tecnologia de hoje, com muita facilidade para ler e obter informação de qualquer canto do mundo, repórter de jornal tinha que seguir a máxima da época, nas redações, ou seja, lugar de repórter é na rua. Ou na estrada.  

Certo dia, naquele ano, a redação de O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná, então na Rua Barão do Rio Branco, recebeu uma visita nada comum: Erich Erdstein, que se intitulava caçador de nazistas e chegou a lançar um livro cujo título dizia tudo: O Renascimento da Suástica no Brasil. Era sobre Mengele, que ele pronunciava Mêngele…  

O criminoso nazista estaria numa cidade de Santa Catarina. E lá, muita gente também levou um susto: Mengele no Brasil? Não acredito…  

Em Curitiba, o consulado da Alemanha ficava na Avenida João Gualberto, Juvevê, numa casa ao lado da agência do Banco do Brasil. E, é claro, foi o primeiro lugar a ser visitado pelo repórter. O funcionário que o atendeu levou um susto ao ouvir o nome Mengele. O mesmo se repetiu até em Dona Ema, Santa Catarina. Do delegado ao prefeito, passando por antigos moradores. Uma longa jornada, assustando muitas pessoas, mas nada de concreto.  

A ficha do monstro  

Josef Mengele: Günzburg, 16 de março de 1911 – Bertioga (SP), 7 de fevereiro de 1979 – oficial da Schutzstaffel (a sanguinária SS) e médico no campo de concentração de Auschwitz durante a II Guerra Mundial. Um membro da equipe de médicos responsáveis ​​pela seleção das vítimas a serem mortas nas câmaras de gás e, também, por realizar experimentos humanos mortíferos em prisioneiros. Os que chegavam e eram considerados aptos a trabalhar eram poupados e, os que eram considerados incapazes, seguiam para a câmara de gás. Mengele deixou Auschwitz dia 17 de janeiro de 1945, pouco antes da chegada das tropas do Exército Vermelho. Depois da guerra fugiu para a América do Sul, onde tratou de evitar a sua captura pelo resto vida.  

No Brasil desde 1961, morreu em 1979: estava tranquilo, mas sofreu um ataque cardíaco quando nadava numa praia de Bertioga, na época ainda parte de Santos; usava nome falso, é claro. Somente em 1985, graças a um exame forense, seus restos foram identificados. Gerhard era um dos muitos pseudônimos que Josef Mengele utilizava.  

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