Que falta faz o professor Darcy Ribeiro

Atuando nas áreas da antropologia, etnologia e educação, ele era movido pelo inconformismo diante das mazelas do Brasil e não aceitava o pensamento mesquinho e imediatista

Certos livros mantêm o fascínio e levam à releitura. É o caso de Crônicas Brasileiras, de Darcy Ribeiro, Editora Agir, 2009 (primeira edição). Mineiro de Montes Claros, ele nasceu no dia 26 de outubro de 1922. Formado em Ciências Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em 1946, construiu uma brilhante carreira intelectual de projeção internacional, notadamente nos campos da antropologia, etnologia e educação. Além de ter sido um estudioso do modo de vida dos povos indígenas, Darcy os defendeu arduamente. Em 1954, organizou no Rio de Janeiro o Museu do Índio, o qual dirigiu até 1957. No mesmo ano elaborou o plano de criação do Parque Indígena do Xingu, situado ao norte de Mato Grosso.  

Figura sempre marcante  

Destacou-se como escritor, educador e político, além de ter sido figura decisiva em momentos decisivos da história brasileira da segunda metade do século XX. Ministro-chefe da Casa Civil do governo João Goulart (durante o qual ocuparia também o cargo de ministro da Educação), tornou-se vice-governador do Rio de Janeiro em 1982. Neste período, foi concomitantemente secretário de Estado da Cultura e coordenador do Programa Especial de Educação, com a missão de implantar 500 CIEPs – Centro Integrado de Especialidades Pediátricas no Rio de Janeiro. Uma peça fundamental para a criação da Universidade de Brasília, em 1962, da qual seria o primeiro reitor. Senador da República entre 1991 e 1997 e membro da Academia Brasileira de Letras.  

Todos os indígenas numa só tribo  

Um breve relato, mas que dá a dimensão e a importância de Darcy Ribeiro: foi um antropólogo, historiador, sociólogo, escritor e político brasileiro, filiado ao Partido Democrático Trabalhista e conhecido por seu foco em relação aos indígenas e à educação no país. Suas ideias de identidade latino-americana influenciaram estudiosos posteriores. Com obras traduzidas para diversos idiomas (inglês, alemão, espanhol, francês, italiano, hebraico, húngaro e checo), Darcy figura entre os mais importantes intelectuais brasileiros. 

Entre os cerca de 20 livros que escreveu temos Maíra, que trata de uma tribo fictícia, os mairuns, criada, segundo depoimento do próprio autor, a partir de características de vários grupos indígenas brasileiros.  

As “duas pátrias”  

Na opinião de Alfredo Bosi, professor emérito da Universidade de São Paulo, crítico e historiador da literatura brasileira, membro da Academia Brasileira de Letras de 2003 a 2021, o tento (capacidade de avaliar as coisas com bom senso e clareza) raro e lúcido de Darcy Ribeiro foi conseguir “emigrar e imigrar da antropologia para o romance, da ciência para a ficção, sem perder o pé em nenhuma das duas pátrias”.  

Em 1995, Ribeiro publicou o seu último livro, O Povo Brasileiro, sendo talvez a sua obra mais ampla e completa sobre a formação antropológica do Brasil. Em 17 de fevereiro de 1997, o antropólogo morreu em Brasília, em decorrência de complicações causadas por um câncer, descoberto em 1995. Darcy Ribeiro foi agraciado com doutorados honoris causa emitidos pela Universidade de Sorbonne, Universidade de Copenhague, Universidade do Uruguai, Universidade da Venezuela e Universidade de Brasília. Em 1992 foi nomeado membro da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira de número 11. Faleceu no dia 17 de fevereiro de 1997, em Brasília.  

Lições do professor:  

– Só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar. E eu não voume resignar nunca.  

– O Brasil, último país a acabar com a escravidão tem uma perversidade intrínseca na sua herança, que torna a nossa classe dominante enferma de desigualdade, de descaso.  

– Mais vale errar se arrebentando do que poupar-se para nada.  

– Viva aceso, olhando e conhecendo o mundo que o rodeia, aprendendo como um índio… Seja um índio na sabedoria.  

– Fracassei em tudo o que tentei na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.  

– A crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto.  

– Somos um povo novo.  

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