Organizadas desde o início do século XX, as Exposições Internacionais de Arquitetura, as Internationale Bauaustellungen conhecidas pela sigla IBA, são eventos de arquitetura e urbanismo utilizados como instrumentos do planejamento na Alemanha. Através delas são revitalizadas regiões degradadas, por meio da construção de edifícios que propõem novos paradigmas de habitação, tecnologias construtivas e ocupação das áreas urbanas. Mais do que uma exibição de objetos arquitetônicos de um determinado período, uma IBA reúne diversos setores da sociedade – poder público, empresas, ONGs e a população em geral – com o objetivo de discutir as formas de habitar as cidades, impulsionando novas ideias e projetos para o desenvolvimento urbano, social, cultural e ecológico.
Desde o início, as IBA se caracterizaram pela grande reunião de artistas e arquitetos em seu desenvolvimento. A edição realizada em Stuttgart, em 1927, reuniu os arquitetos mais importantes da Arquitetura Moderna da época: Mies van der Rohe projetou o bairro Weissenhof, que contou com projetos de Le Corbusier e Walter Gropius, entre outros.
Décadas mais tarde, já durante a reconstrução do país no segundo Pós-Guerra, Berlim Ocidental organizou a Interbau em 1957, em um bairro central próximo ao seu maior parque público. Resultado de um concurso, a proposta urbanística seguia os princípios da Cidade Moderna, e para seu desenvolvimento foram convidados 53 arquitetos de 13 países, dentre os quais o brasileiro Oscar Niemeyer. As construções incluíam diferentes tipos habitacionais, como edifícios em fita, torres e conjuntos de casas, implantados em meio ao parque, que serviram como uma vitrine do mundo ocidental para o lado soviético da cidade, já dividida, mas ainda sem o muro (1961-1989).
No final dos anos 1980, para as comemorações dos 750 anos de Berlim, foi realizada a IBA Berlin 1987, com intervenções localizadas próximas aos vazios da fronteira demarcada pelo muro. Diferente do modelo anterior, os edifícios, escolhidos por concursos, voltavam a conformar os quarteirões tradicionais e promoviam a multiplicidade de usos, valorizando a rua e o espaço público como os locais do encontro e da socialização.
A partir da reunificação do país, as IBA passaram a ter um caráter regional, como a IBA Emscher Park (1999), que envolveu 17 comunidades junto a uma zona industrial degradada do Vale do Ruhr; e as IBA Fürst-Pückler-Land e IBA Stadtumbau, ambas em 2010 e localizadas em regiões da ex-Alemanha Oriental que assistiram à fuga de seus moradores para o oeste do país.
Nesse mesmo sentido, a IBA Hamburg (2013) promoveu intervenções no porto de Hamburgo, o mais movimentado da Alemanha e um dos maiores da Europa, e nas “cidades-dormitório” de sua periferia. Essas intervenções foram definidas sempre por concursos públicos de arquitetura, tanto para a ocupação das áreas quanto para os edifícios, cujos usos incluem habitação, trabalho e lazer. A última edição, IBA Basel (2020), ocorreu na região metropolitana que se espalha entre as fronteiras da Suíça, Alemanha e França e que possui cerca de 800 mil habitantes, buscando soluções para sua integração.
Essas exposições representam um instrumento bem sucedido do planejamento urbano no país. Em primeiro lugar, não são apenas eventos pontuais, isolados e de simples propaganda, mas fazem parte de um processo de organização participativo, que envolve os setores públicos e privados na condução dos trabalhos – as exposições mais recentes são planejadas ao longo de 10 anos.
Além disso, a definição dos projetos urbanos e arquitetônicos através dos concursos públicos (bandeira historicamente levantada pelas entidades de Arquitetura no Brasil) garante maior transparência e a participação ativa da população, que pode conhecer desde o início o resultado final do processo: a futura imagem da cidade.
Por fim, e talvez mais importante, as IBA são exposições. Além de impulsionar o planejamento das cidades, a população visita e conhece os espaços públicos, os edifícios, os apartamentos. Assim, as IBA possuem um importante papel educador: mesmo quando os cidadãos que não se beneficiam diretamente das intervenções, eles podem aprender e estabelecer os parâmetros para exigir de seus governantes espaços urbanos com mais qualidade, colaborando na construção de uma cultura coletiva do projeto e do planejamento.
Sobre o/a autor/a
Eduardo Verri Lopes
Arquiteto e urbanista, mestre pela UEM e doutorando pela FAUUSP, professor da UEM e Conselheiro do CAU/PR.