Quando uma notícia deixa de ser noticiada

Nos tempos do jornal papel, uma retificação demorava um dia para chegar ao leitor, quando isso ocorria, é claro, já que nem tudo poderia se tornar de domínio público

Mesmo chovendo no molhado, sempre vale destacar que há bons profissionais e outros nem tanto em diversas áreas de trabalho. E vale destacar alguns episódios. Tempos atrás, um conhecido, pilotando seu fusquinha de segunda mão, parou numa rua quase no centro de Curitiba. Não percebeu que ali era proibido estacionar. Aproxima-se um PM do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran), bloco de notificação na mão, confere a placa (Rio Negrinho, Santa Catarina) e, pronto para dar uma bronca, aborda o motorista:  

– Ô catarina…  

Mas não conclui a frase, posto que, tranquilamente, o motorista sai do veículo, encara o policial e, calmamente, se identifica:  

– Catarina, sim. E capitão da Polícia Militar.  

Meio nocauteado, o soldado ensaia um pedido de desculpa, quase bate continência e sai de fininho. Aí, o tal motorista reassume o volante e trata de encontrar um local para estacionar sem risco de multa ou, pior, falta de respeito por parte de quem deveria limitar sua atuação à fiscalização do trânsito.  

Quando delegado pede socorro  

Ainda sobre pisadas na bola durante o trabalho – e em qualquer profissão: certo dia, em um jornal de Curitiba, que, aliás, deixou de existir faz muito tempo, a telefonista avisa o chefe de redação:  

– Ligação da Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes…  

Era o delegado, que, revelando nervosismo ao falar, foi direto ao assunto, com um apelo bastante dramático. Segundo ele, ao receber repórteres e fotógrafos para apresentar o resultado de uma tremenda operação policial, que resultou na apreensão de muita maconha, houve um pequeno descuido de sua parte. Por conta disso, concluída a entrevista coletiva, ficou estarrecido ao constatar que tinha sumido a metade de um baita tijolo de maconha.  

Ainda segundo o delegado, um dos repórteres havia surrupiado a erva, que fora lançada pela janela que dava para o pátio da delegacia, até os braços do motorista do jornal – à espera do parceiro. Daí o apelo: quem soubesse do paradeiro da maconha deveria devolver a erva à delegacia, para não complicar o doutor delegado, e que, assim, daria por totalmente encerrado o episódio. Sem acusados ou suspeitos de colaboração.  

E foi o que aconteceu, para não complicar também o(s) autor(es) da tremenda barbaridade. Chamados pela chefia, a dupla, ou trio, recebeu uma nova pauta para cumprir NGM: devolver para o delegado a camonha, isso mesmo, camonha pra despistar, caso contrário eles poderiam ir direto ao departamento de pessoal para receber a carta de demissão. Caso encerrado. Mas foi por pouco, muito pouco.  

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