Para movimentar a arte: o que tem para ver em Curitiba hoje

Dados anteriores à pandemia revelam números que merecem uma reflexão: 38% dos curitibanos foram a algum museu da cidade ao menos uma vez nos últimos 12 meses

A arte paranaense está em vários pontos da cidade, das calçadas às paredes das instituições. Mergulhando nessa realidade, esta coluna pretende olhar para a arte atual. Traremos à discussão a arte em movimento. Como o ontem chega ao nosso tempo, como molda e transforma o que vemos?

A frase de Maria José Justino, curadora e historiadora paranaense, reflete o objetivo proposto aqui: “o mundo é o alimento do artista. Mas o universal exige a passagem pelo particular. Contando a nossa aldeia, exaltamos o universal”. Falamos e vemos tanto o que Rio de Janeiro e São Paulo produzem, podemos e devemos, portanto, visibilizar outras produções, especialmente a local.

Nada melhor do que iniciar olhando para as instituições curitibanas. Os dados anteriores à pandemia revelam números que merecem uma reflexão: 38% dos habitantes foram a algum museu da cidade ao menos uma vez nos últimos 12 meses, segundo dados de 2018. Esse número é o segundo maior entre as demais capitais do país, ficando atrás de Belo Horizonte.

Neste primeiro olhar para o panorama artístico local, trazemos um roteiro de exposições e obras de arte para visitar hoje em Curitiba. Esse passeio entre museus e ruas que propomos aqui traça um pano de fundo da produção artística paranaense.

Pra ver no Museu Oscar Niemeyer

Tecendo Tramas Vitais 

A intervenção do artista curitibano Geraldo Zamproni faz parte da BienalSur 2021 e tem como proposta causar uma reflexão sobre espaços culturais, seu uso e esquecimento. A obra tece conexões entre arte e cidade por meio da grande agulha que atravessa o edifício do museu. A curadoria é de Renan Archer e está na área externa no MON.

Concurso como Prática: a Presença da Arquitetura Paranaense

A exposição mostra a importância de arquitetos paranaenses em concursos nacionais e internacionais de arquitetura nos últimos 40 anos. A pesquisa traz 402 profissionais, que participaram de 165 concursos e obtiveram 252 premiações. Além de uma homenagem aos arquitetos vencedores e finalistas, tem como objetivo mostrar ao público a maneira de fazer projetos com mais liberdade por meio dos concursos. A curadoria é de Elisabete França, coordenação de Fábio Domingos, produção de Alexandre Ruiz e pesquisa de Marina Oba, além de outros colaboradores.

Exposição Concurso como Prática. Foto: João Vitor Sarturi.

O MON fica na rua Marechal Hermes, 999, e funciona de terça a domingo, das 10h às 18h. A entrada custa R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia-entrada). As quartas são gratuitas.

Museu de Arte Contemporânea (dentro do MON)

Verdeazul

A exposição mostra a produção recente de Dulce Osinski, com obras de 2008 a 2020, e tem como recorte uma das grandes utopias da modernidade: a natureza. Com curadoria de Benedito Costa Neto,  parte dos olhares de cima, de grandes paisagens, mas também do ínfimo, do que os olhos nus não veem. Os visitantes podem flutuar por florestas, rios e mares e apreciar detalhes que normalmente não paramos para olhar. A mostra fica aberta até dia 19 de setembro..

Exposição Verdeazul no MAC-PR. Foto: Kraw Penas.

Pequenos Gestos, Memórias Disruptivas

Com curadoria de Fabrícia Jordão, a exposição teve como princípio olhar para o acervo do MAC-PR e apresentar artistas que criaram contranarrativas, ou seja, que se colocaram criticamente frente a seus contextos. A exposição se divide em três núcleos temáticos que enfocam três tipos de gestos: alegórico, contranarrativo e ecopolítico. É importante destacar nesta exposição o esforço da equipe do MAC-PR em realizar mais do que uma exposição de peças do seu acervo, mas colocar um novo olhar sobre ele, partindo de questionamentos atuais. Fica visível a potência das artes na disputa de narrativas e na construção de outros futuros possíveis.

Museu Nas Ruas

O projeto tem como objetivo levar obras do acervo do MAC-PR para as ruas de Curitiba, por meio de formatos de murais ao ar livre com a técnica lambe. Com realização de Giusy de Luca e Bernardo Bravo, a exposição traz obras de quatro artistas, Moara Tupinambá, Bruno Moreno, Elias de Andrade e Rogério Vieira. As obras foram incorporadas ao acervo do museu pelo prêmio do 67˚ Salão Paranaense de Arte Contemporânea e ganharam instalações que tendem a aproximar a arte contemporânea do cotidiano da cidade.

“Museu nas ruas” está no Teatro Universitário de Curitiba (TUC) (Galeria Júlio Moreira, Tv. Nestor de Castro) e no Moinho Rebouças (Rua Engenheiros Rebouças, 1732).

Obras de Rogério Vieira em formato de lambe. Foto: site do MAC-PR.

O MAC-PR está temporariamente funcionando nas salas 8 e 9 do MON, de terça a domingo, das 10h às 18h. A entrada custa R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia-entrada). As quartas são gratuitas.

Para ver no caminho

Saindo do MON você pode ir em sentido ao Centro e passar pela Rua Cruz Machado ou pegar o Largo da Ordem. Se for em direção ao Museu Municipal de Arte, pode passar pela Av. República Argentina. Seja qual for, no caminho você provavelmente vai encontrar um grafite de Rimon Guimarães, artista curitibano que já levou seus bonecos e cores a mais de 28 países. Fique de olho nas ruas.

Obra de Rimon Guimarães no edifício da Casa Hoffman, no Largo da Ordem. Foto: site do artista.

Se você optar por passar pelo calçadão da Rua XV de Novembro, fique atento na quadra entre as ruas Monsenhor Celso e Barão do Rio Branco. Olhando pro chão, você vai passar por uma discreta escultura: “Ladrilhos”, de Laura Miranda. Instalada ali desde 1992, ela fez parte do Projeto Escultura Pública como uma obra que, ao longo do tempo, passou a fazer parte da paisagem urbana e se integrou completamente ao cotidiano.

Museu Municipal de Arte

O sentido do olhar

Estela (Teca) Sandrini é artista veterana formada na Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP). Na sua exposição individual, propõe uma mostra voltada a quem tem, assim como ela própria, limitações visuais. Utilizando-se de tecnologia assistiva, o objetivo é que o público forme imagens mentais por meio do tato.

O Silêncio e a Eroticidade da Gravura

A exposição marca os 40 anos de trajetória da artista curitibana e conta com cerca de 150 gravuras, cujas técnicas variam entre metal, litogravura, fotogravura, xilogravura e monoprint. Uiara Bartira tem grande importância para a gravura paranaense e brasileira, sendo considerada pelo crítico José Roberto Teixeira Leite a primeira mulher mestre de gravura local.

Gravura de Uiara Bartira. Foto: site da Prefeitura Municipal de Curitiba.

O MuMA fica na Av. República Argentina, 3430, e funciona de terça a domingo, das 10h às 19h. A entrada é gratuita.

As obras públicas de Tomie Ohtake

Saia do MuMA em direção à parte de trás do museu, sentido contrário ao terminal de ônibus. Desde 1996, lá está uma escultura de Tomie Ohtake, uma das mais relevantes artistas abstratas do Brasil. Com obras em várias capitais do Brasil, todas elas conservam seu traço característico: formas curvas graciosas em ângulos desafiadores, quase sempre em cores únicas e marcantes.

Perto dali, na Praça do Japão, está o Largo Tomie Ohtake com a obra Curitiba, a segunda feita especialmente para a cidade, inaugurada em 2018. É uma das últimas obras da artista, falecida em 2015. Lembra muito o estilo característico de Tomie, com sua forma orgânica monumental, na cor que a artista parece ter atribuído à cidade: o vermelho vivo.

Curitiba, de Tomie Ohtake. Foto: CurtaCuritiba.

Museu de Arte indígena

O MAI não é propriamente um museu voltado à arte contemporânea, mas ele ganhou espaço nesta lista por alguns motivos. Um deles é por ser o primeiro museu particular do Brasil que se dedica exclusivamente à produção artística indígena brasileira. Também por dar cada vez mais espaço à produção indígena no circuito da arte. Sobre a produção artística paranaense, o MAI conta com quatro objetos Kaingang e é possível realizar uma visita virtual.

Interior do MAI.

O MAI fica na Av. Água Verde, 1.413, e funciona de segunda a sexta, das 10h às 17h30. A entrada custa R$ 24,00 (inteira) e R$ 12,00 (meia-entrada).

Museu Paranaense 

Exposição Educação pela Pedra

O Museu Paranaense já mostra, pelo seu acervo permanente, parte da história do Estado. O que nem todos sabem é que ele também tem exposições temporárias de arte contemporânea. Proveniente de uma parceria entre o MUPA e a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj, Recife), a exposição Educação pela Pedra tem como recorte temático o centenário do nascimento de João Cabral de Melo Neto. Os trabalhos da exposição dialogam, seja de forma direta ou indireta, com o poema do escritor, e mostram que tanto a pedra quanto a arte têm a capacidade de nos ensinar por elas próprias. A curadoria é de Moacir dos Anjos e a mostra está em cartaz até dia 26 de setembro.

Obra de Cinthia Marcelle na exposição Educação Pela Pedra. Foto: Museu Paranaense.

O MUPA fica na rua Kellers, 289, e funciona de terça a sexta, das 9h às 17h30, sábado e domingo das 10h às 16h. A entrada é gratuita.

Esse roteiro é apenas uma parte do que pretendemos abordar nesta coluna. É também uma amostra do que sabemos que a cidade pode nos ensinar através das exposições e seus artistas. Em todo lugar, e aqui não é diferente, o cenário da arte contemporânea é complexo, fragmentado, difícil de rastrear e sempre muito intrigante.

A cada quinze dias, vamos mergulhar cada vez mais fundo na artisticidade curitibana e analisar seus discursos, cruzar suas contradições, revelar sua inventividade.

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