O petróleo é nosso. Mas até quando?

O (des)governo federal é uma sucessão de absurdos, algo como alguém metido a fogueteiro que insiste em consertar um relógio de pulso usando luva de boxe

Na quinta-feira passada, durante transmissão ao vivo nas redes sociais, Bolsonaro criticou duramente o reajuste anunciado pela Petrobras e afirmou que “alguma coisa” ocorreria com a petrolífera nos próximos dias, sem entrar em detalhes. E fez ainda uma ameaça indireta ao presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, ao citar que o comandante da estatal disse não ter “nada a ver com os caminhoneiros”. Segundo o chefe do Executivo, isso teria “uma consequência, obviamente”.  

E, no dia seguinte, anunciou a substituição do presidente da Petrobras por um general, o general Joaquim Silva e Luna. Por conta disso, é claro, as ações da estatal sofreram um forte abalo. Na Bolsa de Nova Iorque, as ações negociadas no after market (negociação após o fechamento do pregão) caíram mais de 9%.  

Do eucalipto ao pré-sal  

Sempre é bom lembrar: a tal Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) foi criada em 1960 – objetivo: atuar na elaboração de políticas sobre produção e venda do petróleo dos países integrantes do grupo. Não muito tempo depois, ela fez um alerta: a queda do investimento devido aos preços baixos poderia pôr em perigo o futuro abastecimento de petróleo devido à quebra da descoberta e das explorações de novas jazidas.  

Quanto aos intereSSe$ de fora, dos que se consideram donos do mundo, basta lembrar que, ainda nos anos 60, o futurólogo Hermann Khan, do Hudson Institute, de Nova Iorque, e a serviço do Departamento de Estado norte-americano, defendeu (para o Brasil do futuro) o projeto Grandes Lagos Amazônicos. Isso porque, segundo ele, as áreas pesquisadas eram mais indicadas só para o plantio de eucaliptos.  

Hermann Khan. Crédito da foto:  arquivo da Biblioteca do Congresso dos EUA.

E a resposta brasileira, não oficial (hoje, com o Boso, certamente seria bem diferente) veio em tom de piada, com o maior sarro em cima dos gringos do Departamento de Estado e dos entreguista$ nativos (hoje mais do que nunca na ativa, bem mai$ e$timulado$).  

– Quantos barris de eucalipto a Petrobras vai mesmo produzir por dia?  

Autonomia, soberania  

Há quem tenha recordado também a luta para a criação da Petrobras. Ela ganhou força em 1946, em defesa da soberania brasileira sobre o recurso natural. Sete anos depois, surgia a Petrobras. E, no momento atual, em defesa do pré-sal, há que se invocar o velho grito de guerra:  

– O PETRÓLEO É NOSSO!  

Até porque o monopólio integral do petróleo pela Petrobras é imperativo de segurança nacional.  

Afinal, para um país que não teria um pingo petróleo, a avaliação era de que dispunha entre 70 e 100 bilhões de barris equivalentes de petróleo e gás natural mineral. Assim, poderia se tornar grande exportador de petróleo.  

Coisa antiga, de 1939  

Primeira jazida de petróleo foi descoberta em Lobato (Bahia), em 1939. Crédito da foto: reprodução.

A busca pelo que também era chamado de ouro negro no Brasil vem de longa data, desde os tempos coloniais, mas a primeira jazida de petróleo do país só foi descoberta em 1939, na região de Lobato, periferia de Salvador. Coincidentemente, o local tem o mesmo nome de um dos ícones da defesa da exploração petrolífera no Brasil, o escritor paulista Monteiro Lobato. Ele batalhou de maneira incansável para provar que o país tinha potencial no setor e que o petróleo poderia dar ao povo brasileiro um melhor padrão de vida.  

É de Lobato, inclusive, a frase “O petróleo é nosso!“, que virou bandeira da campanha nacionalista lançada em 1946 “em defesa da soberania brasileira sobre o recurso natural”. Sete anos depois, surgiria a Petrobras. Foi no dia 3 de outubro de 1953, com a Lei 2004, sancionada pelo então presidente Getúlio Vargas, que estabeleceu o monopólio estatal do petróleo e a criação da Petrobras, empresa de capital aberto, estatal de economia mista que tem o governo federal (União) como acionista majoritário.  

Monteiro Lobato liderou a campanha do “O petróleo é nosso”. Crédito da foto: arquivo.

País exportador de petróleo  

Estudos bem anteriores ao entreguismo bolsonarista avaliaram que o Brasil tenha entre 70 e 100 bilhões de barris equivalentes de petróleo e gás natural mineral. Uma tremenda riqueza e, segundo a até então ministra Dilma Rousseff (na época do anúncio), o Brasil poderá se tornar exportador de petróleo. Ocorrendo dessa forma tremenda geração de riquezas e empregos, além de o país adquirir maior poder de decisão política. Sem desprezar o eucalipto e o restante da mata brasileira. Infelizmente, o que temos hoje não é um sonho tornado realidade, mas uma realidade ameaçada por personagens de inominável pesadelo. Para quem o pré-sal tem cloroquina.  


Para ir além

Pois é, e não foi por falta de aviso e alertas

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