Diálogo numa estação tubo, mais precisamente na que fica em frente ao Passeio Público:
– Qual o pior emprego que se pode ter em Curitiba?
– Cobrador de ônibus em estação tubo…
– Ué, como assim?
– No verão, faz um calor terrível, isso aqui vira uma fornalha. No inverno, o frio aqui dentro é de matar. Vento encanado. Quando chove e venta, não tem como fugir dos respingos e do frio… Sem esquecer da turma fura catraca.
De fato. E não bastasse isso, tem os atrapalhados. Passageiros que entram no tubo errado (“Eu quero ir pro Juvevê, tô indo pro Centro!”), os esquecidos (“Xi! Deixei a carteira em casa!”), os abertamente mal-intencionados, os vendedores ambulantes, os cantores e artistas de rua e os que pagam a passagem com moedas. Isso é bacana quando é para facilitar ou dispensar o troco. Mas nem sempre.
Como tudo é possível, dia desses um rapaz entrou no tubo e pagou a passagem com moedas. Um montão de moedas, já que eram todas elas de 5 centavos. Depois de franzir o cenho, pacientemente a cobradora foi separando as moedinhas, uma por uma, até chegar ao total. Trabalho paciente e demorado. Basta ver que, para chegar a 50 centavos, tinha de separar (e ir somando) 10 moedinhas. E, como se sabe, a passagem custa R$ 4,50…
E a fila para entrar no tubo ia aumentando, aumentando. Igualmente as reclamações.
– Pode deixar que eu pago a passagem do mala! – alguém chegou a bradar.
O trabalho e a tortura
Sobre a origem (etimológica) da palavra trabalho. Vem do latim tripalium, ou seja, termo formado pela junção dos elementos tri, que, por supuesto, significa 3 e palum, madeira. O dito cujo tripalium vinha a ser um instrumento de tortura: três estacas afiadas e de emprego bastante comum na Europa dos velhos tempos. Assim, trabalhar significava ser torturado. Pobres e escravos eram os mais torturados, já que não tinham condições de pagar impostos (aos ricos). Do latim transposto para o francês, chegamos ao travailler, “sentir dor”, “sofrer”. Mais tarde, a palavra indicava uma atividade exaustiva, uma atividade difícil, dura.
O Dicionário do Aurélio remete ainda para o substantivo feminino feitiçaria, ação maléfica, bruxaria, trabalho.
Daí, talvez, o motivo para tanta gente querer distância do batente. E virar político picareta.