Coisas que remetem ao velho tambor

Diante dos efeitos arrasadores da tal gripezinha, ela mesma, há quem recorra ao Barão de Itararé, para quem tambor faz muito barulho, mas é vazio por dentro

Diálogo numa fila, aguardando a vez para entrar numa agência bancária:  

– Como diria Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly…  

– Quem? Nunca ouvi falar. Joga em que time?  

– Não, o Barão de Itararé, jornalista, escritor, consagrado como o pioneiro no humorismo político brasileiro.  

– Ah, e hoje, com o desgoverno federal, o coitado teria assunto de sobra…  

Coisas do Barão  

Gaúcho nascido no município de Rio Grande, no dia 29 de janeiro de 1895, Aparício, jornalista e escritor, é apontado como o pai do humorismo político brasileiro. Morreu no Rio de Janeiro, no dia 27 de novembro de 1971. Em 1938, acabou preso pela ditadura do Estado Novo – ou a Terceira República Brasileira, regime instaurado por Getúlio Vargas no dia 10 de novembro de 1937, vigorando até 31 de janeiro de 1946. Como ele, a centralização do poder, nacionalismo, anticomunismo e, claro, autoritarismo.  

Por conta das sátiras que fazia ao regime, em 1938 o Barão foi em cana. Interrogado pelos juízes do (terrível) Tribunal de Segurança Nacional. Dá para imaginar a cena:  

– O senhor sabe por que está preso?  

– Sei, sim. Porque desobedeci a minha mãe.  

– Não entendi…  

– Muito simples… doutor juiz. Eu sempre gostei muito de café. Minha mãe reclamava: meu filho, não tome tanto café que um dia você ainda vai se dar mal. Eu desobedeci e continuei tomando café. No mês passado, estava eu com alguns amigos do Rio de Janeiro tomando um cafezinho na Galeria Cruzeiro quando chegaram os homens da polícia e me levaram. Minha mãe tinha razão: eu ainda ia me dar mal por causa do café. E me dei. O interrogatório foi encerrado.  

Dos textos do Barão  

– O que se leva desta vida é a vida que a gente leva.  

– A criança diz o que faz, o velho diz o que fez e o idiota o que vai fazer.  

– Os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes.  

– Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.  

– A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.  

– Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância.  

– Não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar.  

– Mantenha a cabeça fria, se quiser ideias frescas.  

– Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.  

– Neurastenia é doença de gente rica. Pobre neurastênico é malcriado.  

– De onde menos se espera daí é que não sai nada.  

– Quem empresta… adeus.  

– Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.  

– O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.  

– Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.  

– O casamento é uma tragédia em dois atos: um civil e um religioso.  

– Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta…  

– Tempo é dinheiro. Paguemos, portanto, as nossas dívidas com o tempo.  

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