Certas coisas mudam – mas não para melhor

Dos velhos tempos, voltando ao século 14, temos que a expressão pet surgiu no sentido de animal domado e virou bichinho de estimação, exceção dos vira-latas

Do tempo em que cachorro não era pet e ficava confinado no fundo do quintal, numa casinha de madeira, com coleira muitas vezes improvisada a partir de um cinto que o dono da casa iria jogar fora depois de muitos anos de uso, há quem, a caminho do pet shop, onde virou cliente, cliente por levar diariamente o bichinho para lá e arcar com as despesas, há quem tenha viajado no tempo. Pet, como se sabe, é uma expressão em inglês que designa um animal de estimação. Até aí, nada de novo. O que pode causar surpresa é que expressão pet teria surgido no fim do século 14, na Escócia e norte da Inglaterra, no sentido de animal domado.  

Mais adiante, em sua caminhada pelo Juvevê, topou com um painel de propaganda de um consultório veterinário, isso mesmo, consultório. Tempos atrás, lembrou, o que se tinha à disposição era um veterinário. Consultório? Coisa exclusiva de médicos e dentistas. E, um amigo, tinha dado uma dica:  

– Vacina? Eu conheço um ótimo veterinário. Bom, barato e pertinho de sua casa.  

As coisas mudam e continuam mudando, mas, de repente, uma plaqueta, pendurada no galho de uma árvore de pequeno porte, num galho bem visível para pedestres, chamou sua atenção: VENDO. Isso mesmo e aí, sem largar a coleira, e o pet, é claro, ficou intrigado. Quem estaria vendendo uma árvore plantada por uma equipe de arborização da prefeitura de Curitiba?  E aproximou-se, já que, depois do VENDO em caixa alta, havia algo escrito com letras bem pequenas:  

– Cabos e fios elétricos · ‎tomadas e interruptores – telefone xxxxxx.  

Proibido – dentro e fora  

Já na volta, mudou o trajeto e, na calçada, sob a marquise de um supermercado na Avenida João Gualberto, ainda no Juvevê, levou um pito de um segurança:  

– O senhor estava fumando… Aqui é proibido fumar.  

– Pensei que era proibido fumar lá dentro, não aqui fora, na calçada…  

– Regras do proprietário.  

– Perfeito, mudarei de trajeto…  

E ficou aliviado: ainda bem que não é proibido transitar com cachorro… Ou melhor, pet.  

Um mundo paralelo  

Horas depois, cumprida a pauta canina e, instalado no bar, ouve alguém solicitar:  

– Por favor, me traz mais uma Antarctica da Brahma…  

Silêncio. Não demorou muito e outro freguês, abduzido por um livrinho de palavras cruzadas, faz um apelo aos presentes:  

– Assustado, com 11 letras.  

Alguém, para surpresa geral, mata a charada:  

– Espaventado.  

– Beleza! Obrigado.  

Não demorou muito e a galera recebeu novo pedido de ajuda:  

– Bizarro, com 12 letras.  

Nova surpresa:  

– Estapafúrdio.  

– Valeu. Obrigado. Agora já posso ir embora.  

Depois de pagar a conta, agradecer o anônimo colaborador, que, imaginou com seus botões, “deve ser da Academia Brasileira de Letras”, foi obrigado a ouvir, na frente do bar, alguém indignado, não contra o desgoverno, mas defendendo as trapalhadas do desgoverno federal, para quem a arrasadora Covid-19 era uma gripezinha.  

– O Brasil no buraco? A culpa não é do presidente! É que houveram e houvem muita gente agindo contra ele…  

E veio a sua mente uma afirmativa de Adolf Hitler, ele mesmo, o genocida nazista: “Sou e sempre fui um católico e sempre serei”. Aí quase voltou à mesa para tomar um engradado de cerveja e um galão de cachaça. Pelo menos.  

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