Carnaval em Curitiba – com samba no pé?

Por conta da pandemia, a outra, não a que vem do Palácio do Planalto, há quem tenha resgatado registros curitibanos sobre a folia sob a batuta do Rei Momo

Tempos atrás, com o Carnaval em Curitiba era a esperada chance de deixar a cidade para curtir uma praia ou visitar parentes em outras cidades. Desta vez, nem isso será recomendável. E não poucos garantiam no mês de janeiro que em fevereiro não tinha Carnaval. Quando muito um arremedo na (vã) tentativa de copiar o Rio de Janeiro. Isso causava outras dúvidas: curitibano tem samba no pé? É fã do Rei Momo?  

Como se sabe, de velhos carnavais, Rei Momo vem a ser personagem da mitologia grega, devidamente adaptado e incorporado ao imaginário das folias de Carnaval, inicialmente caracterizado como um homem gordo, divertido e extravagante.  

Um mestre no assunto  

Aramis Millarch (1943-1992) foi um dos mais importantes jornalistas e críticos de música e cinema, reconhecido nacionalmente pelo significativo trabalho que desenvolveu durante seus 32 anos de profissão, com destaque por sua passagem pelo jornal O Estado do Paraná. Um dos poucos paranaenses que receberam o Prêmio Esso de Jornalismo, marcou presença nos principais festivais, concursos ou prêmios de âmbito nacional onde a arte ou a cultura eram objeto de discussão. Foi também um dos fundadores e o primeiro presidente da Associação dos Pesquisadores da Música Popular Brasileira.  

Aramis Millarch. Crédito da foto: reprodução.

Era o titular da coluna Tabloide, que, hoje, o leitor pode acessar pela internet: Tabloide Digital – e entrar em contato com três décadas de bom jornalismo.  

E aí temos registros históricos sobre o já chamado tríduo momesco. Isso mesmo. Quem saía às ruas?  

– Mocidade Azul, Dom Pedro II, Acadêmicos da Realeza, Embaixadores da Alegria, Bloco Asas da Alegria, Não Agite, Colorado, Enamorados do Samba e Acadêmicos da Sapolândia. Vale lembrar que bailes de Carnaval eram restritos à alta sociedade. Só depois da década de 1940 é que a folia (com gente rica, pobre ou remediada) ganhou as ruas.  

Época do samba-de-enredo  

Em um artigo, originalmente publicado na edição do dia 11 de janeiro de 1985, de O Estado do Paraná, Aramis noticiava que “os compositores da cidade estão colaborando para que ao menos musicalmente as escolas de samba melhorem as apresentações no Carnaval-85. Gerson Fisbein, 31 anos, um dos nossos mais inspirados compositores, fez um belo samba-de-enredo para a Escola de Samba Portão II – “Trinta Anos de Colunismo Social”, homenageando o jornalista Dino Almeida. Em parceria com Jozomar Vieira da Rocha, o samba-de-enredo de Gersinho é dos mais comunicativos, e na apresentação feita para a imprensa e convidados, na noite de quarta-feira, no Champagne, todos vibraram com a bela música e seu refrão.  

Dino Almeida foi homenageado pela Escola de Samba Portão II, no Carnaval de 1985. Crédito da foto: arquivo.

Mais transcrição das colunas, com a grafia da época:  

– Até os anos 60, as Escolas de Samba de Curitiba não se apresentavam com sambas-de-enredo. Embora haja divergências a respeito, atribue-se ao inspirado Paulinho Vitola, então ainda adolescente, o mérito de Ter criado o primeiro samba-de-enredo de repercussão. Foi o “Ciclos Econômicos do Paraná”, que a então campeoníssima Não Agite cantou na avenida, encantando o público. Glauco Souza Lobo, carnavalesco histórico e hoje dirigindo a Fundação Cultural, reivindica para si o mérito de ter introduzido três anos antes, o samba-de-enredo. Discussões à parte, o fato é que, nos últimos anos, todas as escolas – mesmo as menores – têm saído com sambas-de-enredo. Infelizmente, por falta de divulgação e, principalmente, pelos sambas serem feitos às vésperas do Carnaval, poucos são os que conhecem sua letra.    

– O samba-de-enredo “Trinta Anos de Colunismo Social” estará sendo gravado neste fim-de-semana, para ser catituado nas próximas semanas. Infelizmente pouquíssimas escolas têm condições de bancar gravações de Sambas-de-enredo. E a idéia de gravá-las em fita e distribuir cópias às emissoras da cidade esbarra na insensibilidade dos programadores e diretores artísticos de nossas FMs: colonizados, culturalmente, pelo que há de pior no rock internacional, preferem divulgar o lixo pop do que as músicas de nossos autores. E, com isso, os curitibanos ficam sem ouvir o som de seu carnaval.  

PS: Mas, como se diria mais tarde, segue o baile…  


Para ir além

Depois do Fantasma, o Leão do Iapó

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