Elevador de Serviço e a Síndrome de Burnout

Os profissionais mais afetados são aqueles que precisam estar atentos o tempo todo, como os motoristas de ônibus, atendentes de telemarketing, bancários e executivos
Na última coluna Elevador de Serviço, falei a respeito dos ônibus, e de como os motoristas são os verdadeiros heróis nesta atividade tão estressante.
Agora veio a notícia de que a OMS (Organização Mundial de Saúde) incluiu em sua lista de doenças, a vigorar a partir de 2020, a Síndrome de Burnout. Basicamente é o esgotamento físico e mental causado pelo trabalho.
Os profissionais mais afetados são aqueles que precisam estar atentos o tempo todo, o que coloca os motoristas de ônibus entre as primeiras posições no ranking – além dos atendentes de telemarketing, bancários e executivos.
Parece incrível imaginar que existe algo em comum entre um atendente de telemarketing e um executivo. Em tese, todas as profissões podem estar sujeitas a este mal, e já existem vários estudos a respeito.
A psicóloga Mary Sandra Carlotto, professora da Ulbra (Universidade Luterana do Brasil), pesquisou a doença no trabalho dos professores. Ela explica que a definição mais aceita é a de que a Síndrome de Burnout se constitui de três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal no trabalho.
Aponta, ainda, que o processo do Burnout é individual; sua evolução pode levar anos, e até mesmo décadas. Seu surgimento é paulatino, cumulativo, progressivo, não sendo logo percebido pelo indivíduo, que custa a acreditar estar acontecendo algo de errado com ele. As pessoas sentem-se infelizes consigo próprias e insatisfeitas com seu desenvolvimento profissional, e tendem a se autoavaliar de forma negativa.
 
Os estudos apontam cinco elementos comuns:
1 – Exaustão mental e emocional, fadiga e depressão.
2 – Os sintomas são mais comportamentais e mentais do que físicos.
3 – Os sintomas são relacionados ao trabalho.
4 – Os sintomas manifestam-se em pessoas que não apresentavam distúrbios psicopatológicos anteriores.
5 – Menor desempenho no trabalho por causa de atitudes e comportamentos negativos.
 
Mas parece claro que não é apenas o trabalho em si que ocasiona a síndrome – se assim fosse, todos os trabalhadores ficariam doentes. São determinadas atividades, e determinadas formas de realizar o trabalho, que passam a ser prejudiciais.
É provável que não haverá problemas desta ordem com quem trabalha com o que gosta, sente-se realizado, é valorizado, e consegue sustentar a família.
Mas se o trabalho é estressante, seja por sua própria natureza ou por falta de condições adequadas, o terreno será fértil para o surgimento desses problemas.
Por certo há quem ache que isso tudo é frescura, ou até malandragem, coisa de quem quer arranjar desculpa para não trabalhar. Argumenta que, no tempo do pai e do avô, não existia nada disso.
Pois eu digo o contrário; já existia sim, mas as pessoas sofriam em silêncio e sozinhas, escondendo sua fraquezas por vergonha. A mesma vergonha que sente a criança abusada. A mesma vergonha que sente a mulher sexualmente assediada.
Quando se trata de problemas de ordem psicológica, a primeira atitude que ajuda a pessoa é deixar que ela mesmo se permita admitir que está doente.
E para esta finalidade, a aceitação da existência da Sindrome de Burnout como doença é fundamental.
 

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