Pequeno manual para conviver com quem teve um AVC

Por favor, parem de nos dar bolinhas para amassar

1 – Não temos problemas mentais nem psiquiátricos. Lesão neurológica é outra coisa. Procure no Google.

2 – A gente não sabe se vai voltar ao “normal”. Nem o médico fala isso para não criar falsas expectativas na gente. Sabemos que a intenção é boa, mas o efeito deste adjetivo pode ser devastador.

3 – Não nos compare com a evolução de outro sobrevivente. Cada lesão é única, assim como cada recuperação.

4 – Parem de nos dar bolinhas. Por favor, cada um de nós temos umas quinze bolinhas para amassar e elas não ajudam na recuperação da nossa lesão. Pelo contrário, elas estimulam que nossas mãos se fechem.

5 – Todos nós lutamos contra a sequela, cada um do seu jeito, sem exceção.

6 – Não somos preguiçosos, tomamos remédios fortes. Então não brinquem com isso.

7 – Não toquem nas nossas partes “sequeladas” sem nos pedir permissão. Sério, é muita falta de noção. Toda vez que me apertam o braço sequelado para perguntar se é ” este que eu não sinto” eu tenho vontade de esmurrar a pessoa com a “mão boa”.

8- Não nos perguntem sobre a nossa vida sexual, a não ser que demos abertura para isso. (É constrangedor).

9 – Não nos incentive a fazer coisas que não estamos a fim. Não nos coloque a força numa bicicleta se não estamos a fim de pedalar.

10 – Eu já falei da maldita bolinha? Pelamor, jogue essa bolinha para um cachorro!

11 – A gente chora muito. Além de ter parte do sistema nervoso danificado, e junto com ele o nosso sistema emocional, passamos por algo muito difícil. Merecemos chorar quando precisamos.

12 – O INSS é bem complicado.

13 – AVC acontece com gente bonita também, não é um “privilégio” de gente feia. Nenhuma doença é. A maioria dos sobreviventes que conheci são bonitos (por dentro e por fora). Sério, somos praticamente uma agência de modelos.

14 – Esta é importante. NÃO SOMOS COITADOS. Somos valentes e vencedores. Não precisamos de piedade. Aliás, quem pensa isso tem muito a aprender conosco.

Resumindo, lidar com um avecista é como lidar com qualquer pessoa, só basta ter empatia e bom senso.

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