Esvaziamento estético. Porque a Arquitetura brasileira passou a criminalizar a forma?

Projetos de arquitetura contemporâneos têm se tornado cada vez menos plásticos no Brasil, deixando a exuberância e riqueza estética no passado

Em meados dos anos 50, um jovem neerlandês ao ver Brasília na revista Time, tomou uma decisão: “Eu vou ser arquiteto, mas não qualquer arquiteto, eu quero ser um arquiteto brasileiro”. Esse jovem era nada mais nada menos do que Rem Koolhaas, fundador do OMA (Office for Metropolitan Architecture).

Anos depois, uma jovem Zaha Hadid, que em início de carreira produzia trabalhos angulosos, provenientes da arte Suprematista russa, se converteu às curvas de Niemeyer ao visitá-lo na casa das canoas, na Barra da Tijuca.

A Arquitetura brasileira, desde seu berço colonial, permaneceu incógnita, oculta por trás da irrelevância dos pastiches portugueses, franceses e de um passado escravocrata. Tudo mudou com a chegada do movimento Moderno, que em sua variante nacional, obliviou o funcionalismo extremo em prol de formas sensuais e da experiência sensorial de seus usuários, enchendo os olhos da crítica internacional.

O caráter plástico da Arquitetura produzida em um Brasil “livre”, encantou o mundo e influenciou arquitetos a levarem a técnica à sua máxima potência, esticando, torcendo e puxando o concreto armado aos moldes de Niemeyer. No entanto, o idealismo da Arquitetura Brasileira e seu caráter político, tinha suas formas exuberantes criticadas por arquitetos locais que não compreendiam que ambos poderiam coexistir de maneira plena. Essa crítica ao caráter estético da produção moderna nacional, foi internalizada e replicada dentro das academias, que nas últimas décadas formaram arquitetos pragmáticos, cuja produção é baseada em formas ortogonais, racionais e contidas em parâmetros construtivos pré-estabelecidos.

Na contemporaneidade, vivemos tempos em que a técnica voltou a ditar a forma, em um Modernismo bauhausiano tardio. Vemos concursos públicos de Arquitetura sendo vencidos por propostas formalmente modestas, com composições que ressaltam a técnica e entregam o método construtivo de maneira explícita. O metal e concreto nunca foram tão bem e tão mal empregados ao mesmo tempo.

O ambiente seguro criado pelo pragmatismo, diminui o papel do arquiteto em empurrar a barra e forçar o surgimento de novas técnicas em solo brasileiro. O país que exportava engenheiros ambiciosos, especialistas em concreto armado, para resolver projetos no mundo todo, hoje se acomoda em tecnologias estáveis e soluções exógenas para colocar edifícios mais complexos de pé.

Por conta disso, projetos de arquitetura contemporâneos, tem se tornado cada vez menos plásticos no Brasil, deixando a exuberância e riqueza estética no passado, produzindo projetos que agradam críticos e acadêmicos, mas pecam em não estimular seus usuários visualmente. O país vai assim ficando para trás em uma revolução que ele mesmo catalisou, com escritórios estrangeiros carregando o legado brasileiro enquanto vamos caindo em ostracismo.

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