Aumentam casos de alunos filmando professores para provar “doutrinação”, diz APP

Desde que começou a onda bolsonarista no país, aumentou a quantidade de alunos que usa telefones celulares dentro de sala de aula para filmar professores. A ideia seria comprovar que eles estão tentando doutrinar os alunos durante a aula.

A onda de filmagens faz parte do ambiente criado nos últimos dois anos pelo projeto Escola sem Partido, que tenta impor a fixação de cartazes em todas as escolas do país (públicas e privadas) indicando quais limites um professor não pode ultrapassar.

No rastro da eleição de Bolsonaro, houve um recrudescimento do discurso. Uma deputada eleita por Santa Catarina pelo PSL (partido de Bolsonaro) foi imediatamente ao Facebook, ainda no domingo do segundo turno, instigando os alunos a filmarem os supostos discursos que professores doutrinadores fariam contra o presidente eleito.

“Esse tipo de coisa já vinha acontecendo”, afirma Hermes Leão, presidente da APP-Sindicato, que representa os professores da rede estadual de ensino no Paraná. “Temos tido um número crescente de casos, e mesmo antes dessa deputada e do presidente Bolsonaro falarem sobre isso”, diz.

Segundo Hermes, muitas vezes os vídeos são editados ou tiram as informações de contexto, na ânsia de mostrar que os professores estariam usando a sala de aula para cooptar os alunos. “Estamos inclusive tentando criar uma legislação que discipline o uso dos celulares dentro de sala de aula”, afirma o presidente do sindicato.

Luta vai ser intensa

Enquanto o outro lado diz que os professores são esquerdistas que faltam com a honestidade intelectual ao lecionar, os professores afirmam que isso não passa de uma intriga destinada a deslegitimar qualquer tipo de pensamento crítico em relação ao poder estabelecido.

Neste ano, com a posse de Bolsonaro e a eleição de um Congresso bem mais conservador, a expectativa é de que o Escola sem Partido, que foi barrado em Brasília até agora, volte com toda força. A deputada federal eleita Joice Hasselmann (PSL-SP) já afirmou que vai apresentar a proposta.

Segundo Leão, a melhor estratégia para evitar a aprovação da lei, tida pelos professores como uma mordaça, é convencer os pais da necessidade de que seus filhos tenham uma escola que possa falar sem amarras, sem qualquer tipo de censura que interdite a discussão.

Além do projeto no Congresso, há várias cópias idênticas tramitando em assembleias legislativas e Câmara Municipais. A OAB, o Supremo Tribunal Federal e diversas outras instituições já afirmaram que as propostas são inconstitucionais.

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

O (des)encontro com Têmis

Têmis gostaria de ir ao encontro de Maria, uma jovem vítima de violência doméstica, mas o Brasil foi o grande responsável pelo desencontro

Leia mais »

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima