A UFPR mudou minha vida, formou minha alma

A UFPR é minha segunda casa. Minha alma mater. A mãe da minha alma. A mãe da nossa alma

Quando passei no vestibular, não existia Internet comercial no Brasil. Para saber se você tinha passado, existiam basicamente três jeitos. Um era ir aos lugares que tinham as listas penduradas. Outro, ver na edição extra da Gazeta do Povo. O terceiro, ficar escutando os nomes, recitados um a um, no rádio. Eu fui à Santos Andrade.

Fiquei lá com minha mãe. Meu pai foi na Carlos Gomes esperar a edição extra do jornal. Meu irmão, que tinha desistido do conservatório de música e fez vestibular junto comigo, nem foi ver. Ficou dando aula de violão, como se não estivesse nem aí. Eu estava desesperado.

Saiu o resultado: o Caetano, claro, passou em primeiro lugar. Fiquei em segundo no meu curso (o sujeito que passou em primeiro nunca se matriculou, só fez a prova pra me tirar o gostinho de ficar em primeiro; sim, sou rancoroso). Mas o importante é que passamos: o esforço, o nosso e principalmente o dos nossos país, valeu a pena.

Da Vila Ipase até o Ensino Médio, meus pais fizeram de tudo por aquele momento. Compraram de livros infantis à Barsa, investiram em coleções de livros, pagaram os melhores colégios que podiam. Lembro de ter entreouvido meu pai comemorando com minha mãe no dia, dizendo: “Conseguimos!”. De fato, o mérito era muito mais deles. Nós, como diz aquele cartaz famoso, só tínhamos feito a obrigação.

Como fui bem na prova, fui chamado para uma palestra que o reitor fazia para os mais bem colocados. Era o Carlos Alberto Faraco, sujeito fabuloso, intelectual de respeito que mais tarde teria lugar mais próximo nas nossas vidas como orientador do mestrado do meu irmão. E me lembro de duas coisas que ele disse. Como girino que era, não entendi bem a profundidade e a sabedoria daquilo.

Primeiro: a universidade era basicamente uma biblioteca, que calhava de ter salas de aula em volta.

Segundo: as aulas eram importantes, mas não passavam de 1% do que a universidade podia nos oferecer.

De fato, passei muito, muito tempo na belíssima biblioteca de Humanas da Reitoria. A UFPR me fez leitor, o que significa que me fez quem sou, pois ler é que me faz quem sou. Li o que precisava e o que quis, o que os professores indicavam e o que ouvia meus amigos comentarem.

As aulas tinham muita coisa boa. Tive o prazer de fazer cursos com gente como a Isabel Limongi (até hoje minha orientadora) e o Cristovão Tezza (que hoje acho que posso chamar de amigo). Com o Marcelo Sandmann e a Raquel Bueno.

Mas havia de fato muito mais. Fui a seminários, festivais, participei de filmagens, escrevemos panfletos, livros secretos, estudei e conheci o mundo. Nos divertimos tirando sarro dos problemas das universidade e aprendemos sobre o mundo.

E o melhor de tudo: havia as pessoas. Os amigos. O ambiente de efervescência intelectual, de contestação, sim, mas também de solidariedade. A universidade é um humanismo. E quanta gente boa conheci lá!

Não só me orgulho dos meus amigos pelo que eles fazem hoje (há romancistas, atrizes, publicitários, jornalistas, empresários), mas me orgulho de ter visto o crescimento deles, e do que fizemos juntos. Das bobagens às coisas grandes.

Basta dizer que na UFPR conheci os padrinhos dos meus três filhos.

Que lá vi meu irmão passar de um aluno prodígio a um professor prodigioso.

Que lá conheci a Sandra, esse símbolo de inteligência e correção que o Caetano teve a sorte de encontrar.

E, principalmente, que lá, no sétimo e último ano da minha graduação, da minha linga graduação, conheci a pessoa com quem divido a vida, a família e os filhos hoje. A UFPR, além de tudo, me deu a Rosiane, o amor e minha família.

Eu não seria o mesmo sem a UFPR. Mas quem nessa cidade seria?

Me lembro que antes de estudar lá, só tinha entrado uma vez no imponente prédio da Santos Andrade: meu irmão precisou de algum serviço que o curso de odonto prestava. Nada sério, nem lembro. Mas hoje aquilo é minha segunda casa. Minha alma mater. A mãe que me nutriu para a vida adulta.

A UFPR é a mãe desta cidade. Gera a cada ano uma miríade de novos filhos que atendem nos hospitais, constroem nossas estradas, nos ensinam a ver o mundo. Abro mão de muita coisa. Mas dessa fazedora de homens, de mulheres e de almas, jamais.

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