Era só usar máscara. Parabéns aos irresponsáveis

A falta de respeito de quem abandonou a máscara neste fim de ano colocou em risco as crianças. Mas quem se importa, não é mesmo?

O Brasil se segura para uma nova onda de Covid-19. Apesar de estar há um mês sem dados do Ministério da Saúde (para que a pressa, né?), os números dos municípios não deixam dúvidas: os casos estão aumentando. E para diversão adicional (#ironia), temos também transmissão comunitária do vírus da influenza. O que nos leva a primeira semana do ano com unidades de saúde do SUS e dos planos particulares lotadas, falta de exames e muita, mas muita gente doente.

Quem poderia imaginar, não é mesmo? Que a aglomeração de muita gente que não convive pessoalmente e a total ausência do uso da máscara facial (ou seu uso de forma incorreta) iria promover novas contaminações, né? Só qualquer pessoa alfabetizada que não viveu numa caverna nos últimos dois anos.

Dava para reunir a família nesse fim de ano? Dava. Dava para fazer festa? Dava. Mas não dava para dispensar a máscara, nem relevar sintomas e permanecer entre os seus.

Claro, estamos quase todos vacinados. Mas é preciso respeitar o direito a saúde de quem não está. E quem não está vacinado? As crianças menos de 11 anos. “Ah, mas criança não pega”. Mentira. As crianças podem até ter menos complicações ou mesmo nenhum sintoma. Mas sim, há crianças com complicações graves e que vão ter sequelas da infecção pelo resto da vida.

Então existe o risco real de uma criança morrer ou ter sequelas neurológicas por 50, 60 anos. Isso tem um custo social e econômico altíssimo. Quem vai cuidar dessa criança? Quem vai dar conta dessas sequelas durante esse tempo todo? Quem vai apoiá-la economicamente nesses 50, 60 anos? Você?

Como mãe de três crianças que ainda não foram vacinadas (culpa do inútil do nosso ministro da Saúde, mas vamos deixar essa bronca para outra hora), fico me perguntando: qual a grande dificuldade desse gesto simples de usar máscara? Claro, é desconfortável. Eu sei, eu trabalho o dia todo de máscara. Meu nariz entope assim que coloco a máscara. E termino o dia com dor de cabeça (mas nesse caso não sei se é a máscara ou são as pessoas sem máscara que circulam no escritório – é um coworking).

Mas qualquer desconforto é infinitamente menor que o que um doente irá vivenciar. Então aqui estamos, no menor de dois males. E a máscara é sim um meio eficaz de prevenção da Covid (e da Influenza). Temos dois anos de dados comprovando isso. É o que temos. Máscara e vacina.

Minha mãe morreu de fibrose pulmonar, meu pai de insuficiência renal. Duas mortes terríveis. Se usar máscara pudesse poupá-los do sofrimento, eu seria a primeira da fila. Mas nem precisava ser alguém próximo. Ninguém merece sofrer com doença. MUITO MENOS CRIANÇA. Porque criança nem entende porque ficou doente. Ela não vai saber que o pai, tio, irmão, amigo da família é um irresponsável que a colocou em risco à toa.

Mas não, você – alecrim dourado – não pode. Não fica bem nas fotos do Insta. Pois bem, meu amor, vá tirar foto no meio do mato, na [trecho censurado]. Mas perto de outros a cuja saúde você deve, no mínimo, respeito, bote a máscara e sossegue. Vai beber, comer? Fique perto dos seus, fique em áreas sem aglomeração e ventiladas.

E PELAMORDEDEUS, se for usar máscara, use direito. Cubra o nariz, deixe-a bem colada ao rosto. Para o seu bem, e o dos outros.

Pisou na bola no fim de ano? Tudo bem, o estrago está feito. É provável que exista alguém doente neste momento por culpa sua. Aceite e se responsabilize. E aproveite o resto do ano todo para melhorar. Não demore. A saúde da sua comunidade agradece.

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7 comentários em “Era só usar máscara. Parabéns aos irresponsáveis”

  1. Já vou começar com o óbvio: Rosane está mais uma vez certa, e quem não está igualmente cansado é porque já largou os bets (ou nem nunca pegou neles).

    Um país é feito de pessoas que o habitam ou de políticos que o (des)governam?

    Duvido que alguém, em sã consciência, responderia que são os políticos.

    Pois bem: se a situação está como está, a culpa, em boa parte, é das pessoas mesmo.

    É claro e evidente que os governantes poderiam e DEVERIAM estar fazendo muito mais — e isso desde 2019, quando a questão ainda estava lá na China.

    Mas as pessoas ainda tem o “livre arbítrio” e a capacidade de acatar ou recusar determinações que não consideram como boas ou legítimas.

    OU SEJA: os governos deveriam tomar as rédeas da situação e direcionar o povo de maneira mais firme, sim. Mas o próprio povo já deveria ter colocado a mão na consciência também.

    (inclusive, chega a ser tragicômico: o ser humano se acha tão melhor que outros animais ditos “não inteligentes”, mas não consegue exercer nem o mínimo autocontrole)

    1. Rosiane Correia de Freitas

      Oi Mari, como diz o comediante: a culpa é minha e eu coloco em quem quiser. Brincadeirinhas à parte, queria muito estar enganada pq odeio usar máscara. Entope meu nariz, me dá dor de cabeça. Mas enfim, é o que temos: vacina e máscara.
      Obrigada pela leitura.
      Abraço

  2. Rosiane, captei em seu texto (pode ser a minha lente ao ler) seu cansaço e sua indignação com a falta de senso de comunidade dos que não usam máscara, aglomeram, etc. E para “ajudar” temos um governo que não faz a sua parte, ao contrário, mais atrapalha. Foi assim desde o começo da pandemia, não seria diferente agora, quando estamos muito mais estafados.
    Sinceramente não sei se dá para culpar apenas os que não usam máscara por essa nova onda, são tantas variáveis juntas, desde a desigualdade na distribuição das vacinas ao negacionismo científico. Claro que se todo mundo usasse máscara e se cuidasse estaríamos melhor. Mas quem controla os outros? Cansa esperar que o outro se preocupe com os susceptíveis, dentre elas as crianças. Estou ansiosa desde já em ter que mandar meu filho não vacinado pra escola. E ficar longe da escola já foi tão ruim por tanto tempo. Não é fácil mesmo.
    Acho que a saída (pelo menos é a que tento por aqui) é a gente cuidar dos nossos (e quem mais for possível cuidar). Como o André falou, (mesmo que ironicamente) é caprichar em uma boa máscara para nós e para as crianças. De preferência PFF2 ( E aqui já fica difícil pra tanta gente que não tem $ para tal). E continuar com tudo que já estamos fazendo. Talvez fazer mais pelos que estão precisando. Única coisa que conseguimos ter algum controle é a nossa consciência. Apesar do seu texto, acho pouco provável que os que não usaram máscara se sintam culpados, mal por qq coisa. Mas espero que fiquemos todos e todas (mesmo os que não usam máscara) bem.

    1. Rosiane Correia de Freitas

      Oi Tati,
      Tudo bem? Concordo contigo. Não dá pra culpar só quem não usa máscara. Mas é o que está ao nosso alcance, né? Penso que o fato de muitos terem aberto mão de usar máscara força quem está se cuidando a ser ainda mais cuidadoso, sem direito a falhar, sabe? Além disso, quem tem criança pequena não escapa de depender do cuidado do outro, pq criança tira máscara, criança quer falar de perto, dar abraço.
      Mas no geral, você tem razão. Estou cansada. Exausta, na realidade. Não só da pandemia, mas de ser a chata do rolê.
      Obrigada pelas ponderações.

  3. Depois de tanto tempo de pandemia achei que não leria mais absurdos como esse. Vamos culpabilizar as pessoas por depois de tanto, mas tanto tempo mesmo, ir na casa dos parentes no fim de ano e tirar a máscara? Mesmo depois de estar vacinado com duas doses?
    Será que se os governos federal e estadual tivessem feito algo de realmente efetivo durante o longo período de pandemia, ainda assim teriam jornalistas culpando a população por se infectar?
    Acho que o timing dessa matéria está errado, há 1 ano atrás eu concordaria totalmente com ela, mas à essa altura do campeonato não acho justo esse tipo de discurso

    1. Rosiane Correia de Freitas

      Oi Carlos, tudo bem? Olha, temos aí duas coisas. De um lado um governo que mais atrapalho do que ajuda. Mas do outro temos as pessoas. Entendo perfeitamente a vontade que todos estamos de abraçar os nossos. No entanto, infelizmente a pandemia não acabou. Estamos vacinados, mas isso não impede a transmissão, apenas reduz o risco (mas não o elimina) e reduz as chances de complicação, o que já é, claro, fantástico. Mas o principal é: estarmos vacinados não nos isenta do cuidado com quem não está. E as crianças não estão vacinadas. Fato.
      Você pode não ter filhos, mas certamente convive com quem tem e isso as coloca em risco.
      Por fim, isso não é uma matéria, é um artigo de opinião.
      Obrigada pela audiência

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