Com título a Olavo, Câmara consolida sua insignificância

Com vereadores mais. dedicados a combater fantasmas do que os reais problemas da cidade, o respeito à população fica em segundo plano

Esta semana a Câmara de Curitiba aprovou em primeiro turno um título de cidadania honorária a Olavo de Carvalho, guru da direita radical, do movimento antivax brasileiro e do bolsonarismo. Não foi uma surpresa, dado que a aprovação de homenagens é a principal atividade dos 38 vereadores eleitos da cidade. Mas mostra o quanto a maior parte dos legisladores curitibanos trabalha em prol da insignificância do próprio trabalho, ao invés de trabalhar em prol da população que os elegeu.

Na semana passada, enquanto a Câmara colocava a irrelevante homenagem a Carvalho em pauta, a cidade esteve a dias de uma grave crise: o aumento de 40% no ICMS cobrado sobre o litro do diesel, principal insumo e responsável por 23% do custo por quilômetro rodado dos ônibus da rede de transporte coletivo da cidade.

Onde estava a Câmara enquanto esse problemão se avizinhava? Em lugar nenhum. Nossos bravos vereadores nem sabiam que essa bomba estava prestes a estourar. O aumento do ICMS foi adiado para maio, o que dá a Curitiba menos de um mês para discutir como mitigar os efeitos da medida e a Câmara continua sem fazer absolutamente nada. Nossos vereadores não acham relevante discutir um serviço cujo custo retira, empresários estimam, R$ 20 milhões do comércio da cidade.

O que já sabemos de antemão, no entanto, é que quando a prefeitura for precisar de crédito suplementar para pagar a conta dessas mudanças, a maior parte dos vereadores irá votar sem ler no que a prefeitura mandar.

É o mesmo que fizeram com o aumento do valor venal dos imóveis para o cálculo do IPTU. Como o Plural alertou inúmeras vezes, a medida teve impacto principalmente nos bairros mais pobres da cidade, com aumentos que chegaram a 70% em alguns casos. A única intervenção dos vereadores beneficiou os imóveis mais caros.

Agora a Câmara, por iniciativa da vereadora Amália Tortato (Novo), quer obrigar a prefeitura a mostrar os cálculos do IPTU cobrado dos contribuintes, uma medida populista e inútil, dado que já existe a obrigação de informar tanto na Constituição Federal quanta na Lei de Acesso à Informação.

Se a prefeitura não respeita a lei é porque a Câmara faz pouco ou quase nada para fiscalizar a administração municipal, sua principal atribuição. Isso porque os vereadores estão ocupados demais combatendo o petismo (que em Curitiba tem apenas três vereadores eleitos), o comunismo – esse fantasma inexistente e vereadores negros que entram em igrejas (outra grande ameaça que registrou o total de UM caso desde o início dessa legislatura).

Aparentemente nossos parlamentares vivem tão isolados da realidade que não sabem que o prefeito da cidade é do PSD, tem como aliados PP, União, PSD, PSC, PMB, Republicanos e Cidadania, e está de vento em popa vendendo uma cidade que não existe fora do mundo encantado do Instagram.

Quanto aos grandes problemas da cidade, como a falta de livros didáticos nas escolas municipais, a morte de um rapaz de 17 anos pela Guarda Municipal e o custo descontrolado do transporte coletivo, esses ficam bem longe do plenário, alvo de uma ou outra iniciativa isolada do PDT, PV, MDB e o famigerado PT.

A bancada do Novo, eleita com o discurso de uma “nova política” ensaiou uma atuação independente e técnica, mas vem cimentando um caminho pela direita mais radical e de apoio ao prefeito de mãos dadas com os principais representantes do movimento na Casa: Eder Borges e Pastor Ezequias. E esteve junto aos colegas na aprovação do título a Olavo de Carvalho com voto de Indiara Barbosa.

É o fim da esperança de uma Câmara com corpo menos radical e cordado, com representantes da oposição e independentes de diversas vertentes dispostos a desafiar o terraplanismo político local para abrir espaço para os debates que a cidade tão desesperadoramente precisa.

Quando chegou a Câmara, Indiara personificava a ideia de que era possível romper com dualidade esquerda-direita e propor um caminho do meio. Liberal, racional e independente. Num primeiro golpe a essa esperança, Indiara se juntou a Eder Borges para promover homeschooling. Agora consolida a adesão ao radicalismo mais improdutivo.

Curitiba merecia uma Câmara menos preocupada com o irrelevante, mais dedicada à população que paga a conta.

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4 comentários em “Com título a Olavo, Câmara consolida sua insignificância”

  1. Há tempos que esses vereadores pouco produzem e não justificam os salários e mordomias que recebem…
    Pensam mais em ‘homenagens’ a cidadãos ‘ilustres’ do que projetos para a cidade…

  2. Por isso que em países de primeiro mundo não existem vereadores e as leis são estaduais. Aqui no Brasil perdemos muito dinheiro com esse monte de gente que não produz nada.

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