Depois da primeira onda da Covid-19, houve quem apostasse na continuidade da transmissão da doença, mas de forma mais branda – com surtos isolados, rastreáveis e controlados. A realidade se impõe. Os novos números da Covid-19 em países europeus, ou em Israel, onde o governo anunciou a retomada do confinamento da população, mostram que a nova onda de contaminações será forte no Hemisfério Norte. É difícil dizer, mas o fato é que cada vez mais cientistas discutem e trabalham com a hipótese de que o vírus Sars-CoV-2 pode circular por muitos anos entre nós.
O médico infectologista Esper Kallás, professor titular da Faculdade de Medicina da USP e colunista da Folha de S.Paulo, publicou em 10 de setembro, na Ilustríssima, um artigo com o título, “Covid-19 veio para ficar, e precisamos nos preparar para conviver com o vírus”.
Na mesma linha, professor titular de medicina de emergência e membro do comitê científico do hospital público Pitié Salpêtriere – um dos mais renomados de Paris, Yonathan Freund alerta: “A questão não é se haverá uma segunda onda, é saber até quando irão as próximas fases da epidemia”. E completou: “sabíamos que a epidemia não iria acabar, vamos conviver com isso ainda por alguns anos. A vacina – se acontecer – demorará muito e provavelmente não será 100% eficaz”.
A cientista-chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Soumya Swaminathan, por fim, deixou claro que a vacina não estará disponível para todos antes de 2022.
Haverá várias vacinas com graus diferentes de eficácia variando em função da idade, carga genética, sexo e talvez comorbidades. Sem a garantia de imunização total, o vírus continuará a circular onde não houver barreiras. “Há ainda o fato de que parte da população não conseguirá desenvolver imunidade esterilizante por longo tempo e isso junto ao fato de um grande contingente de infectados não apresentar sintomas, explica porque será mais difícil erradicar o Sars-CoV-2”, diz o professor Esper Kallás.
As incertezas continuam, conforme matéria de O Globo, além da imunidade. Jamal Suleiman, médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, diz que ainda não se sabe quais os fatores que determinam que algumas pessoas se infectem e outras não. Não há um padrão entre as ocorrências que possa explicar isso. “Sabemos as formas de transmissão, mas quais fatores determinantes que fazem com que alguns se infectem, e outros não, mesmo estando no mesmo espaço? Falamos que idosos e pessoas com doenças crônicas são mais vulneráveis, mas ainda é muito raso.”
A ciência trabalha sem parar na busca de tratamentos para reduzir o agravamento da doença e no desenvolvimento de vacinas com eficácia e segurança capazes de fazer o mundo continuar parecido com o que existia antes da pandemia. Só que talvez as aglomerações sejam com máscaras, ventilação, distanciamento e lavagem de mãos e/ou álcool gel, entre outras formas de desinfecção que estão sendo criadas para neutralizar o vírus.
Sobre o/a autor/a
Teresa Martins
Teresa Martins, jornalista formada pela UFPR, trabalhou 15 anos em redações de jornais como correspondente da Folha de S.Paulo e chefe da sucursal da Folha de Londrina, ambos em Curitiba. Mais 15 anos na área pública como superintendente de Comunicação da Prefeitura de Curitiba e coordenadora de redação da Agência Estadual de Notícias. Entre um tempo e outro, participou de várias campanhas eleitorais.