Entrar no ar ao vivo usando máscara é algo que nenhum repórter poderia imaginar antes de 2020. Coletivas de Imprensa por videoconferência, também não. A pandemia do coronavírus, porém, obrigou os jornalistas a se adequarem a novas medidas de segurança e atuação. Atividade essencial, liberada para circular neste período, a reportagem encontrou novas maneiras de apurar e levar informações para a sociedade, seja na TV, no rádio ou no jornalismo on-line.
Nesta semana, os repórteres de TV do Paraná começaram a usar máscara também durante passagens ao vivo. Para a jornalista Lenise Aubrift Klenk, professora do curso de jornalismo da PUCPR, em termos de produção, a principal diferença se percebe mesmo na TV, que depende muito de imagem externa. “As entrevistas estão sendo feitas através de videoconferências e repórteres chegam a fazer suas passagens dentro de casa ou nos estúdios de TV. Não é o ideal, já que a qualidade cai. Mas é compreensível devido ao cenário.”
O produtor da Band Paraná, Dirk Lopes, conta que a TV está trabalhando com equipes reduzidas e em revezamento. “Trabalhei em home office por duas semanas e agora voltei para a TV. Os repórteres vão pra rua, mas estamos restringindo ao máximo as entrevistas presenciais. Sempre que possível, pedimos para os entrevistados gravarem vídeos e enviarem por WhatsApp ou WeTransfer. Nossa equipe não entra em hospitais e UPAs.”
A mudança, tão necessária para o momento, também mudou o formato de edição das matérias. “Com o aumento das entrevistas gravadas por vídeo, também aumenta o tempo para receber, assistir, avaliar e encaminhar os vídeos para repórteres e editores”, completa Dirk.
Ele ressalta que na empresa há álcool em gel em todos os setores e panos para limpar teclados, computador, mesas e telefones. “Todos os funcionários receberam máscaras e as equipes de reportagem, além do uso de máscara, também usam luva e levam álcool em gel no carro para higienização do microfone a cada entrevista”, explica Dirk.
Em jornais impressos ou on-line, grande parte da equipe de profissionais está trabalhando remotamente. As entrevistas são feitas por telefone, videochamadas ou até por áudios e mensagens. As reuniões de pauta são feitas também nestes formatos.
“Nossa discussão sobre pautas é 24h no grupo online. Conforme a notícia vai surgindo, alguém já sugere, os repórteres vão mandando novas informações e contatos e a pauta vai ganhando espaço, seja no factual ou nas reportagens especiais”, frisa a jornalista do Plural, Mauren Luc. “Nesta pandemia, nossos leitores têm sido ótimas fontes e nos enviado muitas imagens e denúncias impactantes, que rendem importantes matérias.”
Trabalho dobrado
Outro impacto sentido pelos profissionais foi o acúmulo de funções e a pressão por alta produtividade. Ainda assim, alguns veículos optaram pela redução da carga horária, com consequente redução no salário – permitidas pelo governo por meio dos contratos individuais.
“Estamos enfrentando um corte no salário dos jornalistas o que é um problema gravíssimo, que pode gerar outro: a redução de salário não vir acompanhada, de fato, da redução de carga horária. É muito comum os jornalistas trabalharem mais do que sua jornada contratual, sem gerar hora extra”, avalia a presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Maria José Braga, ressaltando que com o trabalho em domicílio, fica mais difícil de garantir a redução da jornada.
“Nos parece uma incoerência que, em um dos momentos em que os jornalistas mais têm sido requisitados pela sociedade – inclusive com o reconhecimento da atividade como essencial, os profissionais venham a ser reduzidos, sofrendo uma série de prejuízos, que certamente terão efeitos sobre sua saúde mental”, enfatiza Gustavo Vidal, presidente do Sindicato dos Jornalistas do Paraná (Sindijor-PR).
A psicóloga Juceli Argenton Lima Pereira lembra que é importante trabalhar o emocional preventivamente para não elevar o nível de estresse. “O ideal é que se tente mudar o foco quando não está trabalhando. Fazer coisas que lhe tragam conforto, como ver um filme, um livro interessante ou ouvir músicas que trazem aconchego.”
Na linha de frente
O Sindijor e a Fenaj têm monitorado os casos de coronavírus na categoria mas ainda não há um número oficial de profissionais da imprensa infectados com a covid-19. Em abril, a Globo informou que 13 jornalistas da sua equipe estavam com a doença. Nesta semana, a jornalista e apresentadora da CNN Brasil, Luciana Barreto, retomou os trabalhos após se recuperar do vírus.
No Paraná, oficialmente, o Sindijor acompanhou um único caso. Foi de um jornalista da rádio Caiobá FM e da TV Evangelizar, que conseguiu se recuperar. “Dependemos que as informações cheguem oficialmente até nós pela categoria, ou mesmo por familiares e outros colegas de trabalho”, destaca o presidente do Sindijor-PR.
Informações e denúncias podem ser feitas pelos e-mails [email protected] e/ou [email protected].