Diário (ou quase) de uma quarentena

Dia 4 - A tentativa de manter a sanidade

Lançando mão de meus recém adquiridos dotes culinários, faço uma porção de empanadas argentinas para agradar minha mulher. Ela observa, astutamente, que nesse ritmo de trabalho em casa e comidas gordurosas o isolamento social pode acabar trazendo consigo alguns resultados indesejáveis.

Procura na Internet algum vídeo de exercícios para fazer em casa. Na tela, um rapaz muito elástico e muito gritalhão coordena os movimentos: “Frita! Agora eu só aceito o seu melhor! Ok, três segundinhos pra respirar, vai! Um dois, três! Puxou! Voltou! Puxou! Voltou!”. Um fôlego impressionante.

Como eu detesto gente que exclama.

Não posso escapar do noticiário, e nesse momento nem quero. Governos ao redor do mundo dispensam bilhões de euros, dólares, ienes, libras, rúpias, para socorrer as parcelas mais frágeis da população. Os reais correm para socorrer bancos e empresas. Preste atenção, no ano que vem, quando seu banco divulgar o balanço contábil.

Por mais que eu tente, não consigo não pensar nos psicopatas que nos governam. Eu nem sequer sabia que era possível um presidente odiar tão profundamente seu próprio povo. Admito que já tinha me acostumado com a ideia de um governo que não sabe nem o formato do planeta, mas quando descobri que a solução deles para resguardar o emprego era deixar o trabalhador sem salário por quatro meses, fiquei à beira do colapso nervoso.

Já disse o Zeca Baleiro, “tá todo mundo com medo do fim do mundo, mas pior que o fim do mundo para mim é o fim do mês”.

57 milhões de pessoas miraram no Lula e acertaram em seus avós, pais, filhos e irmãos.

No fim da tarde, a notícia de que houve recuo nessa brilhante medida serve como um alívio, mas quanto alívio é necessário em um cenário de terror e negação da realidade?

Esses meses serão longos. Preciso começar a fazer exercícios.

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