As cozinhas do Ipiranga

Guardávamos boas lembranças das visitas ao Museu do Ipiranga, em São Paulo. Lembrava das escadarias centrais, da sala com a pintura do quadro que retrata o Grito da Independência, dos corredores e a exposição de carruagens, além de um ou outro quarto mobiliado com as camas antigas e da festa do sesquicentenário da independência, quando andei por aqueles jardins cheios de gente, de mãos dadas com o amor da minha vida.

O nosso museu tão familiar fechou suas portas para uma grande reforma e durante alguns anos, nas visitas a São Paulo ficamos curiosos para saber como ficaria depois de tanto tempo.

Mó de moinho de trigo, usada na fabricação da farinha. Foto: Rosa Maria Dalla Costa

No sábado passado, de novo na cidade, conseguimos reunir os primos e ir visitá-lo. Quanta mudança! Não agendamos previamente a visita, mas a entrada foi tranquila. Orientaram-nos a começar pelo último andar, onde tem um mirante – novidade – e assim o fizemos. De cara deu para perceber uma nova organização e um novo sistema visual de informação. Lá de cima, apreciamos o histórico bairro do Ipiranga a partir de seus telhados e de seus novos prédios. Sempre se tem a impressão de que não cabe mais nada em São Paulo, mas diversas construções pipocam em todas as direções.

Ainda lá em cima, mas não mais no mirante e sim na sala de exposição, chamou-nos atenção as pedras de moagem de grãos, utilizadas muito antes da independência pelos jesuítas para fabricar hóstias. Um dos primeiros objetos utilizados para alimentação em terras brasileiras.

Descendo mais um andar, viajamos no tempo e chegamos mais próximos ao século XIX, o da Independência. Aí sim, o novo museu nos apresenta coisas de casa e destaca entre elas, coleções de porcelanas de diversas origens, francesa, inglesa, chinesa e brasileira. Mas, é exatamente nestes itens que ficamos frustrados ao encontrar objetos – louças e utensílios – do nosso tempo de infância, portanto… nem tão antigos assim (pelo menos, é o que julgamos).

Foto: Rosa Maria Dalla Costa

Estavam expostas peças de porcelana real, de Mauá-SP, dos anos de 1943-1960, juntamente com conjuntos de café Nadir e de jantar, da Duralex. Entre os utensílios, várias latas de biscoitos também do século XX, batedores de bolo manuais de diversos formatos e tamanhos, bem como forminhas de gelo de alumínio, balanças para cozinhas, alguns fogões daqueles brancos que todo mundo já viu em casa (nem que seja na casa das avós!) e vários eletrodomésticos, entre uma escarradeira, paliteiros e cremeiras.

Para quem ainda não foi, ou para quem já foi antes da reforma, vale a pena a visita. O museu está muito mais organizado e informativo, com coleções interessantes, como a de moedas, essas sim, mais antigas. A grande sala com o quadro do grito da independência é o ápice de toda a visita. Nele, numa das paredes laterais, o quadro da princesa dona Leopoldina e seus filhos, o que preferi fotografar aqui numa singela homenagem à participação feminina em tão importante episódio da vida histórica brasileira.

Leopoldina e os filhos. Foto: Rosa Maria Dalla Costa

Saímos da visita procurando pelas carruagens nos corredores. “Foram para a reserva técnica”, contou-nos um dos seguranças. É, sem dúvida alguma, o Museu do Ipiranga não é mais o mesmo da nossa doce lembrança, mas saímos revigorados de lá pela imersão nas nossas raízes e tradições, das políticas às simplórias do dia a dia.

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