Depois do fogo, famílias do Parolin lutam para recomeçar a vida

Incêndio destruiu 35 casas e deixou cerca de 150 pessoas desamparadas. Doações podem ser feitas pelo Disque Solidariedade da prefeitura ou em um dos 69 pontos de coleta da cidade

Roseli Andrade, de 51 anos, estava dormindo quando o fogo invadiu sua casa. Era meia-noite quando seu filho arrebentou a porta e a tirou de dentro da residência. Roseli, que trabalha como catadora, só conseguiu salvar a TV e um botijão de gás, que agora estão guardados na casa do vizinho. 

“Não tem mais o que fazer. Tá difícil. Não sou só eu que estou nessa luta, todo mundo que está aqui perdeu tudo e ninguém tem condição para construir de novo”, relata Roseli, que atualmente está ficando em um quarto da casa de uma amiga.

Além da residência de Roseli, pelo menos outras 34 foram destruídas pelo incêndio no Morro do Sabão, no Parolin, na madrugada do último sábado (26). Cerca de 150 pessoas (79 adultos, 70 crianças e dois idosos) ficaram desamparadas. Até agora, o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) Parolin já atendeu 51 famílias, sendo que 35 delas perderam totalmente as casas e 16 tiveram prejuízos parciais.

Eliel Rosa Cavalheiro, de 39 anos, trabalha com recicláveis e mora no bairro com a família desde 1994. Ele, sua esposa e os dois filhos pequenos estavam em casa quando o fogo começou, no sofá da sala. “A gente não aguentava a quentura, era muito extensa, queimava a gente. A bebê estava com uma virose, vomitando, quando começou o fogo. A gente ficou desesperado atendendo ela porque podia se engasgar e morrer, e o fogo vindo, vou acudir quem?”, relembra.

Eliel conseguiu salvar o botijão de gás, o carrinho da filha e os documentos. Sem ter para onde ir, Eliel conta que, sem nenhuma ação efetiva da prefeitura, ele mesmo pretende começar a construção da nova casa. “Se eu tivesse estudo, eu ia lutar para ajudar a população, falar por eles, ter uma voz por eles porque isso daí foi um descaso.”

Eliel e o filho Jeremias, de três anos. Foto: Tami Taketani/Plural

Ações

De acordo com a gestão municipal, desde o dia do incêndio, equipes da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab), da Fundação de Ação Social (FAS) e da Administração Regional do Portão estão mobilizadas para atender a população atingida pelo fogo. 

Na última terça-feira (1), o local foi vistoriado e agora equipes da prefeitura fazem a limpeza dos resíduos e escombros. A maior parte dos terrenos onde estavam as casas incendiadas são particulares, sendo uma pequena parte do município.

Foto: Tami Taketani/Plural

Conforme informou a Cohab, a área atingida estava ocupada de forma adensada e não tinha infraestrutura necessária para uma boa qualidade de vida. As vias de difícil acesso não permitem a entrada de veículos como ambulâncias, caminhão de bombeiros e coleta de lixo, por exemplo. Por isso, estão sendo feitos estudos para a definição de um projeto habitacional que atenda a comunidade do Parolin de maneira apropriada.

“A ideia é desadensar o local com a transferência das famílias para locais na mesma região, possibilitando assim abertura de ruas, implantação de redes de esgoto, drenagem, elétrica e iluminação pública”, informou em nota. 

Foto: Tami Taketani/Plural

A prefeitura também está auxiliando as famílias na busca por emprego. Uma equipe do Sistema Nacional de Emprego (Sine) do município está trabalhando na unidade do Cras Parolin para cadastrar e encaminhar trabalhadores para cerca de 1.400 vagas em empresas da capital.

Mobilização

Isete do Rocio Portes, conhecida como Elisete, mora no Parolin há 34 anos. Depois do incêndio, ela e a família se mobilizaram para ajudar as pessoas atingidas. Até agora, Elisete recebeu 400 quilos de alimentos, além de panelas, roupa de cama e vestimentas para doar às famílias. 

“Eu estava em casa e falaram que estava pegando fogo nas casinhas do morro. Em questão de segundos uma casa que estava inteira estava totalmente destruída. Era a mesma coisa que se estivesse dentro de um forno, sabe. Muito fogo, chega a me arrepiar. As crianças desciam chorando e diziam: ‘Tia, queimou minhas coisinhas. Ninguém acudiu minhas coisas’. Eu chorei junto. Queimou tudo, não sobrou nada”, relembra.

Foi após servir um café da manhã para as famílias no dia seguinte ao incêndio que Elisete decidiu começar a preparar as refeições diárias. “Eu estou à frente para ajudar esse povo até o final. Eu não vou desistir nem virar as costas para nenhum deles. Na medida do possível, se eu tiver que tirar de dentro da minha casa para ajudar eu vou tirar”, afirma. 

Todos os dias ela prepara um café da tarde, com bolo, pães e às vezes um cachorro quente, tudo feito com as doações da população. Só na terça (1), Elisete serviu 50 marmitas.

Quem também decidiu ajudar com doações foi dona Amália Depra, de 62 anos, moradora do CIC. “Nós queríamos doar material de construção, mas [o pessoal do Cras] disse que não estão recebendo esse tipo de doações para que as famílias não se recoloquem no mesmo local. Mas daí para onde esse povo vai? Ninguém está ali por gosto, né. Agora, vão ficar na rua? Nem todo mundo tem uma família, um amigo para ir”, pontua. 

Como doar

Para ajudar no atendimento às famílias do Parolin por meio de doações, a população pode ligar para o Disque Solidariedade, pelo 156, ou procurar um dos 69 pontos de coleta espalhados pela cidade.

Os itens podem ser entregues diretamente no Disque Solidariedade, que fica na sede da FAS, na Rua Eduardo Sprada, 4.520, bairro Campo Comprido, todos os dias das 8h às 12h e das 13h às 17h. As doações de material de construção devem ser feitas na Associação dos Moradores da Vila Parolin, na Rua Francisco Parolin, 586, que funciona 24 horas.

Segundo a FAS, as doações mais necessitadas pelos moradores são fraldas, pomada para prevenção de assadura, itens de higiene pessoal, sabonete, absorvente, lenço umedecido, desodorante, escova de dente, roupas íntimas e leite.

Desde o dia do incêndio, as famílias receberam 2.500 peças de roupas, 71 cestas básicas, 358 litros de leite, 85 colchões, 131 cobertores, 32 kits de higiene e limpeza, 150 itens avulsos de higiene (fraldas, escova e creme dental e sabonete), além de 30 litros de água. E, ainda, uma lona, três kits escolares, 95 utensílios domésticos, dois fogões, um armário, uma máquina de lavar roupas, um berço com colchão e dois carrinhos de bebê.

Roupas e alimentos também podem ser entregues nos 10 Núcleos Regionais da FAS, que funcionam nas Ruas da Cidadania, com exceção da Matriz, onde a coleta é feita no Cras Cidadania. Ou então nas 57 lojas das redes de supermercados Condor, Festval e Muffato, que são pontos permanentes de coleta da campanha Doe Solidariedade, desenvolvida pela prefeitura para arrecadar doações a famílias em situação de vulnerabilidade social.

Para doação de móveis, eletrodomésticos, eletrônicos em maior tamanho ou itens em grandes quantidades em Curitiba, pode ser solicitada a retirada pelo telefone 156, pela Central de Atendimento 156 (via chat online) ou ainda pelo aplicativo Curitiba 156. Nesses casos, uma equipe da FAS fará o recolhimento das doações de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 11h30 ou das 13h30 às 16h30.

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