Vacina anti-Covid da UFPR fecha o ano com 39% da verba garantida; doações seguem essenciais

Pesquisa para imunizante nacional e de baixo custo depende de arrecadação de instituições e sociedade civil

A vacina contra a Covid-19 em desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) terá em 2022 seu ano decisivo. Está prevista para o ano que vem, sob aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a execução das duas primeiras fases clínicas do estudo, por meio das quais os pesquisadores começam a controlar em humanos a resposta imunológica e possíveis reações em um pequeno grupo. Mas hoje, todo o trabalho depende de verbas que, efetivamente, ainda não estão nas mãos da instituição e, por isso, o apoio – inclusive da sociedade civil – segue sendo o principal respaldo à continuidade da pesquisa.

A UFPR estima R$ 76 milhões para a conclusão de todas as fases do estudo, previsto para terminar em 2023. Até agora, contudo, o investimento arrecadado corresponde a apenas 2% do total – R$ 1,52 milhão. Entram no cálculo financiamentos da Rede Vírus, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), recursos próprios da universidade do Governo do Paraná, e doações individuais.

As boas novas de 2022 prometem mais R$ 10 milhões de emendas parlamentares impositivas, compromisso da bancada federal do Paraná, e outros R$ 18 milhões destinados pelo Tribunal de Contas do estado (TCE), recursos esses vinculados a um convênio entre a Fundação da UFPR (Funpar) e a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).

Assim, a expectativa é de que R$ 29,52 milhões – algo em torno de 39% da previsão orçamentária total para a vacina – ajude a manter o fôlego dos estudos ao longo do primeiro semestre. O dinheiro já está quase todo carimbado e será empregado na construção de um laboratório de produção de insumos, na compra de insumos e equipamentos essenciais, e no pagamento das bolsas dos pesquisadores envolvidos na produção do imunizante – um dos únicos que podem ter selo 100% nacional.

No entanto, a corrida atrás das arrecadações continua. Para tirar do papel as fases clínicas 1 e 2 são necessários R$ 10 milhões. Para a fase clínica 3, que começa a testar as doses em um grupo muito maior, de cerca de 20 mil voluntários –, a estimativa é de outros R$ 40 milhões.

“Caso nós não tenhamos efetivamente esses recursos que, no nosso entendimento estão já garantidos, não temos condições hoje de continuar a pesquisa porque ela depende totalmente desse dinheiro. Por isso que essas doações, mesmo as espontâneas de Pessoa Física e também da iniciativa privada, são essenciais para que a gente, de fato, consiga avançar”, ressalta o superintendente de parcerias e inovação da UFPR, Helton José Alves.

No último dia 2, a campanha de arrecadação de recursos para desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19 lançada pela universidade completou cinco meses. Nesse meio tempo, aproximadamente R$ 206 mil vieram de doações de pessoas e empresas, em valores individuais que variam desde R$ 5 a cifras mais altas, como R$ 60 mil, por exemplo. Na cola do lançamento, a doação desse grupo somou R$ 87,2 mil, caindo para R$ 6,3 mil e R$ 2,5 mil nos meses de agosto e setembro, e subindo novamente para R$ 85,8 mil em outubro.

O pedido é que a sociedade continue apoiando a iniciativa. Conforme a UFPR, o recurso de pessoas físicas e jurídicas é essencial para o pagamento de bolsas dos alunos que executam diariamente o passo a passo da pesquisa.

“As doações de pessoas físicas e também das empresas é que estão  garantindo o pagamento de bolsas para os alunos que trabalham nos laboratórios e também são para a compra de insumos, dentre outras demandas. Então é um dinheiro decisivo. Se não fossem esses recursos, a gente não estaria conseguindo manter a pesquisa”, apela Alves.

Segundo ele, apesar da inconstância nas arrecadações, a expectativa é que, à medida que o estudo avançar e os resultados forem se concretizando, se torne mais fácil captar verbas.

“Agora estamos na fase mais crítica porque estamos ainda  finalizando a fase pré-clínica e precisamos ao mesmo  sensibilizar as pessoas para acreditarem no projeto. Se a gente passar por isso agora e, até o início do ano que vem conseguirmos garantir os recursos já previstos, o resto vem como consequência”, avalia o superintendente.

A vacina anti-Covid da UFPR tem fórmula promissora: agrega o uso de matéria-prima nacional associado a um baixo custo. Os valores estimados de produção variam entre R$ 5 e R$ 10 por doses, desenvolvidas a partir de nanopartículas de um polímero encapadas com partes específicas da proteína Spike, à qual o SARS-Cov 2 se conecta para invadir as células dos humanos. A “receita” dispensa o uso do coronavírus inteiro para a produção da vacina, uma vez que são as nanoesferas as responsáveis por ativar o desenvolvimento de anticorpos pelo sistema imunológico.

O imunizante é resultado de pesquisas conduzidas pelo Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da instituição e outro diferencial é que a tecnologia criada funciona para outros vírus, ou seja, a partir dessa pesquisa, poderão ser produzidas também pela UFPR vacinas contra outras doenças, como dengue, zika vírus e Chikungunya – epidêmicas no Brasil.

Como doar

A doação pode ser feita por transferência ou depósito em conta específica da Funpar. O pix também está liberado. Informações sobre conta e chave pix estão na página oficial da campanha da vacina da UFPR. No site também estão relacionados todos os detalhes da pesquisa e das arrecadações já feitas.

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