O cônsul que enfrentou o nazismo e salvou mais de 30 mil vidas

Aristides de Sousa Mendes é comparado ao alemão Oskar Schindler, que também salvou milhares de judeus da morte pelo nazismo

O cônsul português Aristides de Sousa Mendes salvou a vida de mais de 30 mil pessoas que fatalmente seriam assassinadas pelo regime nazista durante a 2.ª Guerra Mundial. Ele não pensou duas vezes em desafiar as ordens do então ditador de Portugal, Antonio Oliveira Salazar, que havia proibido os cônsules de entregar vistos a “estrangeiros de nacionalidade indefinida, aos apátridas e aos judeus”.

Graças à sua atitude e ao senso de humanidade que sempre o acompanhou ao longo de sua vida, Aristides tornou-se um daqueles homens que ajudaram, na prática, a derrubar o regime nazifascista, que vitimou mais de seis milhões de judeus durante o Holocausto.

Nessa semana, o Museu do Holocausto de Curitiba e a Comunidade Israelita da Paraná homenagearam esse homem – que é considerado Justo entre as Nações. Foi promovida uma atividade com a presença de autoridades e o descerramento de uma placa comemorativa enaltecendo os feitos de Aristides, colocada dentro do museu.

Quando prestava serviços de cônsul em Bordeaux, na França, em 1940, Aristides concedeu, em nove dias, vistos a todos os refugiados que solicitaram, sem estabelecer diferenças entre nacionalidades ou religiões. Ao todo, Mendes salvou mais de 34 mil pessoas, incluindo 10 mil judeus.

“A essência dele era a humanidade. Esse é o grande legado que ele passou para mim e para a sociedade”, pontua o neto António Moncada Sousa Mendes, que esteve presente em Curitiba para participar dos eventos.

Católico praticante, Aristides não se importava com a religião do outro, com a cor de pele das pessoas ou com a etnia de cada um. Ele respeitava acima de tudo o ser humano. Tomado por esse sentimento, Aristides não se furtou de suas responsabilidades e ajudou a combater os regimes totalitários durante os anos 1940. “Foram essas pessoas, com ações como a do meu avô, que derrotam o fascismo e o nazismo”, afirma o neto do diplomata.

Aristides é frequentemente comparado ao alemão Oskar Schindler, que também salvou milhares de judeus da deportação durante o nazismo. Sousa Mendes foi designado em 1966 como “Justo entre as Nações” pelo Memorial do Holocausto em Jerusalém, uma instituição que recorda o genocídio do povo judaico durante a 2.ª Guerra Mundial.

A sua atuação, porém, não passou ilesa pelo regime de Salazar. Ele foi destituído de suas funções após um julgamento e viveu na miséria até sua morte, em um hospital de Lisboa em 1954, com 69 anos.

Todavia, o tempo passou e os feitos de Aristides se tornaram reconhecidos e enaltecidos. Em 1986, as autoridades portuguesas o condecoraram com a Cruz do Mérito e chegou a ser, postumamente, reincorporado à carreira diplomática. Em outubro desse ano, seu nome entrou no Panteão Nacional, em Portugal.

Relação com Brasil

Nascido em 19 de julho de 1885, em Cabanas de Viriato, Aristides desde cedo se interessou pela carreira internacional. Em 1910, com 25 anos, ele e o irmão gêmeo César apresentaram-se às provas de admissão à carreira diplomática. Ao fim de um mês de estágio no Ministério dos Negócios Estrangeiros, César foi nomeado para o Pará; Aristides, para a Guiana Britânica.

Em 1918, Aristides foi nomeado para ser cônsul de Portugal em Curitiba. Foi na capital paranaense que nasceu uma de suas filhas, inclusive. “A passagem dele por Curitiba foi muito importante para ele crescer na carreira diplomática”, assinala o neto António. Aristides permaneceu na capital paranaense até 1919.

Lição

Em tempos que a extrema-direita ganha novos adeptos, sustentada por um discurso racista, xenófobo e preconceituoso, nada melhor do que olhar para o passado e visualizar exemplos de cidadania e de humanidade, como os de Aristides. A sua atitude é atemporal e serve de lição para a história da sociedade. Sempre será possível encontrar formas de fazer com que a empatia, a alteridade e o princípio de justiça prevaleçam. Nem que para isso seja necessário desobedecer àqueles que julgam mandar e desmandar no país e no mundo. 

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