Nada de novo – e não foi por falta de alerta(s)

Chega a ser inacreditável o que ocorre na Amazônia, que deixou de ser uma preocupação nacional para virar um tremendo pesadelo mundial

Por conta dos desmandos bolsonaristas, em todas as áreas, há quem tenha recorrido a um livro, por conta do que já foi chamado de pulmão do mundo. Trata-se de um trabalho de quem realmente entende do assunto. Caso de Sergio Ahrens, engenheiro florestal, bacharel em Direito, pesquisador em Planejamento da Produção e Manejo Florestal (Embrapa).  

Ele mata a charada sem rodeios ou firulas, posto que não atua para impressionar a plateia:  

– As leis da natureza não são revogáveis pelas leis dos homens.  

Não é de hoje, é de bilhões de anos  

Como explica Sergio, as leis da natureza surgiram há cerca de 3,5 bilhões de anos e o homo sapiens é um recém-chegado. Além disso, as leis (dos homens) não existem “em isolamento, individualmente”.  

Enquanto alguns, diante da reação em fúria da natureza batem cabeça, Sérgio mantém a sua batalha. Um incansável Quixote – em prol da natureza e do ser humano, que deveria ser melhor parceiro da primeira. Basta ver a posição (técnica) do nosso engenheiro florestal e pesquisador quanto ao Código Florestal. De um lado, aponta, temos “percepções progressistas que buscam promover a vida, em todas as suas formas e manifestações, como condição essencial e necessária para possibilitar a existência humana”. Do outro, “argumentos efêmeros, conhecimentos técnicos superficiais e interesses econômicos de curto prazo e insustentáveis, que propõem a extinção do Código Florestal afirmando que o mesmo não teria bases científicas”.  

Espécies extintas e as novas  

É ainda no trabalho O Código Florestal e as Leis da Natureza que Sergio destaca:  

– Estima-se que a Terra tenha se formado há aproximadamente 4,5 bilhões de anos e a vida, unicelular, há cerca de 3,5 bilhões de anos, a partir do que toda biodiversidade existente no planeta evoluiu, mesmo as espécies já extintas e aquelas que ainda serão criadas pelo fenômeno da “especiação”. A espécie humana, Homo sapiens, é “recém-chegada”: talvez exista há somente 200 mil anos.  

Consagra-se, também, no meio científico, que a agricultura tenha sido concebida há cerca de doze mil anos, na Mesopotâmia, região também conhecida como “crescente fértil”.  

Mais do que um referencial  

– Desde então, na história da humanidade, a domesticação de espécies, vegetais e animais, para uso na alimentação humana, sofreu vertiginoso desenvolvimento, especialmente ao longo do último século. O fato possibilitou fosse desenvolvida a agricultura empresarial, intensiva na aplicação de tecnologias como, por exemplo, o melhoramento genético, a mecanização (desde o preparo do solo, o plantio, os tratos culturais até a colheita) e o uso de insumos químicos como adubos e defensivos agrícolas. Em síntese, em todo o planeta, o desenvolvimento tecnológico tem promovido crescentes níveis de produtividade na agricultura.  

– De outro lado, no universo, e assim também neste planeta, sempre existiram leis da natureza, especialmente da física e da química que antecedem as leis dos homens. Ao longo do tempo, tais leis, acrescidas de outras, principalmente da biologia, foram consagradas pela comunidade científica e constituem importante referencial para as atividades humanas.  

A vida alimenta a vida  

De maneira ilustrativa, Sergio Ahrens registra que a lei da gravitação universal permite, por exemplo, como parte do ciclo hidrológico, que as chuvas “caiam” sobre a terra e que as águas dos rios “corram” para os oceanos. A mesma lei da gravidade, explicada por Isaac Newton, possibilita entender a atração dos corpos celestes. As leis dos movimentos planetários, segundo Kepler, explicam a forma elíptica da órbita dos planetas. Da rotação da Terra em torno do seu próprio eixo origina-se o magnetismo que, sabe-se, também afeta o clima no planeta. Adicionalmente, observando-se as cadeias alimentares, verifica-se que a vida alimenta a vida, que dela necessita como suporte para se manter e se renovar continuamente, no tempo e no espaço, em perpetuidade.  

– Para citar a máxima de Lavoisier, “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” Nesse sentido, é fundamental entender, e aceitar, a total dependência da espécie humana em relação às outras formas vida.  

Ainda do livro: como homem descobriu a carne assada? Fogo na floresta, animais queimados viraram alimento. E, a partir daí, cada vez que o homem queria consumir carne assada, tocava fogo na floresta.  

A “panela fervendo”  

E vale recorrer também ao “universo, uma panela fervendo”, citando o físico Marcelo Gleiser, sobre o comportamento do Universo e, é claro, da Terra.  

– Embora aparentemente sereno, o Universo está em permanente ebulição, como se fosse o caldo de uma panela fervendo. Ou seja, em transformação. E, para que o cidadão comum possa entender o que se passa, é ainda do físico a receita para fazer uma galáxia numa xícara de café. Basta você pôr um pouco de creme bem devagar sobre o café e misturar delicadamente os dois fluidos por alguns segundos. Em pouco tempo você verá uma galáxia espiral surgir na sua xícara. Assim, já que o homem não revoga as leis da natureza, há que cuidar das panelas e da cozinha para não entornar o caldo. 

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