Brooks was here

a Neri e a Giulia tocam das oito às duas e das duas às oito era a Rafa e a Kaw. a Kaw saiu. arranjou outro trampo. segunda tá pra colar uma mina fazer teste porque fds o bagulho é loco. somos em quatro pessoas de horário fixo, eu meio que vou flutuando. semana passada papo de dez pras duas pousei na sombra da árvore. fiquei fumando com a Kaw

– pior que essa parada que você contou me lembrou outra parada piá

(barulho de isqueiro)

– quando eu era criança li um bilhete que minha mãe deixou pro meu padrasto tá ligado?

– hum

– e não lembro direito mas era tipo Olha como as crianças cresceram, não são crianças mais, alguma coisa assim

– o tempo é um bagulho loco né parça?

– é

a parada que contei pra Kaw foi que uma vez olhei pra cima e perguntei quantos anos meu pai tinha. eu tava com seis acho. ele trinta e poucos. tinha contado pra Kaw que às vezes, quando tô quase dormindo, lembro dessa fita. aí a gente começou a falar de Elis Regina na sombra da árvore mas deu duas horas.

no geral é bike ou bonde então no uber aproveito tipo dog brisando no vento. esses dias tinha até escolhido a música mas o motorista fechou o gps, abriu a galeria, mostrou o muro que ele tá grafitando e a real é que curti a pira. em vez de atropelar os pixos que fizeram antes, ele manda uma moldura em volta e escreve nem tudo são flores. desci no museu. entrei no café. a criança esbarrou no cappuccino e lá fui eu de pano com balde. na segunda torcida saiu

– sabe que quando eu tinha a sua idade

(se ajeita na cadeira)

– eu derrubei um galão de vinte litros no chão?

– sério??

– sério. minha mãe ficou pu, ficou de cara comigo

terceira torcida. estalactites de café com leite na parte de baixo da mesa

– cê tinha cinco

– ?

– cê tinha cinco quando sua mamãe ficou bába

– ligeirinha. tinha essa idade memo. mas sabe que ela não ficô só bába?

– você panhô?

– não. ela tendeu que foi sem querê

um tempo depois, a menininha e uma mulher voltaram no balcão: pagaram pelo cookie e levaram um cappuccino na faixa.

tive aula com um professor que sempre perguntava Quem é que tá pagando? se pa ele queria que a gente valorizasse a universidade pública, ou o almoço a R$ 1,30, sei lá. a fita é que aprendi a diferença entre preço e valor na manhã que um piazão da nossa turma tava de aniversário e esse professor tirou vintão da carteira. com a grana deve ter dado menos de um copo de bera por cabeça mas, na minha, o que valeu foi o gesto. numa prova de Marx tirei a nota mais baixa da sala. na defesa da monografia ouvi que algumas coisas se resolvem na terapia e, depois de aprovado, agradeci, pedi licença, dei um tempo no pátio e parti pro xerox. imprimi dez currículos. tava desempregado.

não tem prateleira de livro no tubo Centro Cívico (Assembleia) e o povo espera no zap, na lua, segurando bebês mochilas sacolas. o cobrador largou a colher quando dei boa noite: pausou a séri, engoliu o risoto, contou moedas e liberou a catraca. osso. o Inter II vem socado até domingo de noite e, na fron do terminal do Cabral, tem um minion grafitado no muro: ele tá vestido de papai noel e num dos balõezinhos em volta da sua cabeça diz suicidas no comando. fico olhando, olhando, até que a arrancada do bonde sacode.

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