A psique humana

Fiquei pensando: como os EUA têm neuras. Como tem maluco de verdade por lá. Não que aqui não tenha. Mas lá tem MUITA neurose

Duas psicólogas: uma brasileira e uma estadunidense. Dois livros. O que as duas têm em comum? Praticamente nada.

Eu sei: foi um equívoco. Mas vamos lá.

Ana Canosa escreve sobre sexo. Tem uma coluna no Uol, editoria Universa. Tem podcast. Tem Instagram e site: @anacanosa e anacanosa.com.br. Tem mais de um livro. Amo a coluna dela. Fala sobre sexo, livre e abertamente, como poucas pessoas nesse Brasil. Sigam no Instagram, ela é maravilhosa. 

Eu vou falar de Sexoterapia, obra que eu li.

Lori Gottlieb. Escreveu o livro Talvez Você Deva Conversar com Alguém. Comprei por recomendação de uma amiga bem mais jovem. Gostei? Mais ou menos. Pulei uns pedaços. 

Gosto da parte que ela fala dos casos que atendia. John, executivo do cinema (ela mora em Los Angeles), por exemplo, é um clichê. Tão clichê que acaba se tornando interessante. Dentes excessivamente clareados, xinga todo mundo de idiota na tradução – acredito que seja um palavrão – e vive grudado no celular, mandando mensagens pros imbecis fdp estúpidos que não entendem de nada, só ele.

Já quando ela narra o próprio caso, deu um tédio. Ela estava noiva. Separada, tem um filho. O namorado/noivo é tudo de bom. Chega uma noite, diz que não quer mais ficar com ela porque… ela tem um filho. Vai embora. O universo inteiro dela derrete. Ela chora por qualquer coisa. Liga pras amigas. Todas dizem que ele é um canalha. Ela vai, então, procurar um terapeuta. 

Lori, porém, esclarece vários aspectos da terapia. Isso me interessa porque faço terapia há 23 anos com um psiquiatra – sou bipolar. Em um trecho do livro, ela fala sobre a posição das cadeiras no consultório. A poltrona do terapeuta dela fica em uma “rota de fuga” – caso ele precise escapar se a coisa ficar muito feia durante a sessão. Bom, meu psiquiatra não tem isso. Não sei se outros terapeutas brasileiros têm.

Fiquei pensando: como os EUA têm neuras. Como tem maluco de verdade por lá. Não que aqui não tenha. Mas lá tem MUITA neurose. E o caso dela… tudo bem, estava apaixonada. Mas não parece coisa de mulher atrás de um príncipe?

Lori Gottlieb.

Em Sexoterapia, começo pela capa, feita por Melissa Gomes Baltazar, que também ilustra os capítulos da obra. Excelente. (Cada caso atendido por Ana é abordado com consentimento dos pacientes e tem nomes trocados).

Um caso: a mulher ganha mais do que o homem. Ana esclarece que “dinheiro costuma ser um ponto de tensão entre casais, mas ainda hoje não me sinto confortável para dizer se esse seria o cerne da questão”.

Gays, lésbicas, profissionais do sexo, casais que fazem swing, uma faxineira que tomava três ônibus para ir até o consultório (nesse caso, ela cobrou beeeem menos): Ana atende todos e fala sobre todos. 

(No caso da mulher pobre, ela não sabia o que era um clitóris; depois o marido foi junto, e levaram uma cesta de pães e bolos…).

“Pensamos, quando jovens, que nossa felicidade depende do outro (…). É um pensamento um tanto egoísta porque a juventude é centrada em si mesma e no seu próprio prazer”. 

Trecho que vale para qualquer pessoa acima de… 35? Quarenta? 55? O que é juventude, para você?

“Começamos nossa vida querendo nos adequar e então, quando menos se espera, algo acontece”.

Por fim, uma frase de Ana. “A terapia não resolve, elucida: não faz desaparecer, acomoda. Ela lapida ferramentas”.

MIXÓRDIA 

Série: Sessão de Terapia, Globoplay, com Selton Mello e uma pá de atores incríveis 

Filmes: A Odisseia dos Tontos, A Cordilheira, Neve Negra e, lógico, Relatos Selvagens, com Ricardo Darín. Por quê? Ora, nossos hermanos são chegados em psicologia e Darín é ótimo, maravilhoso, tudo que ele faz é bom; e Um Método Perigoso, longa de 2011 sobre Jung, Freud e Sabrina Spielrein. Com Keira Knightley, Viggo Mortensen e Michael Fassbender. É exagerado, mas vale a pena. Amazon Prime.


Para ir além

Sobre o/a autor/a

Compartilhe:

Leia também

Há saída para a violência?

Há que se ter coragem para assumir, em espaços conservadores como o Poder Judiciário, posturas contramajoritárias como as que propõe a Justiça Restaurativa

Leia mais »

Melhor jornal de Curitiba

Assine e apoie

Assinantes recebem nossa newsletter exclusiva

Rolar para cima