Muitas doenças, sobretudo psicológicas, antes de assim serem reconhecidas, não passam de turbulências da vida. A linguagem não apenas descreve a realidade, mas constrói, de modo que a significação e a comunicação contribuem para consolidar e conformar contextualmente certos estados de coisas.
Em “A invenção de uma doença”, subcapitulo da obra “A tinta da melancolia: uma história cultural da tristeza”, Jean Starobinski traz um excelente exemplo disso: a nostalgia.
Hoje sinônimo de saudade da infância ou de um tempo passado, o termo “nostalgia” surge no final do século XVIII, como um neologismo, para designar a doença marcada pelo desejo de retorno à pátria, tipicamente manifestada por soldados e marinheiros.
Quanto mais falada, mais temida. Ao longo do século XIX, a nostalgia preocupava médicos e levava inúmeros soldados à morte.
Com o desenvolvimento da medicina e as mudanças culturais do século XX, entretanto, seu significado se altera e, assim como a melancolia e a histeria, perde sua conotação técnica. Começa-se a falar, então, em “reação depressiva de inadaptação social”.
A questão é: o que essa história tem para nos ensinar?
Sobre o/a autor/a
Giovanni Guaragni
Giovanni é professor de filosofia do direito e levaria livros e chimarrão a uma ilha deserta.