O cinema talvez seja a mais tecnológica das artes, e é normal que você associe a produção de um filme a tudo que existe de mais moderno: câmeras digitais, filmagem tridimensional, efeitos especiais. Mas para muita gente o charme de uma produção cinematográfica passa longe disso: a ideia de um cinema artesanal, barato e caseiro ainda reúne fãs do formato Super 8 no mundo todo.
Curitiba tem um dos mais importantes festivais do formato no país, que neste ano chega à 17ª edição. O “CURTA 8 – Festival Internacional de Cinema Super 8 de Curitiba acontece de 27 a 30 de outubro no Cine Passeio e vai mostrar as várias possibilidades que as antigas e revolucionárias câmeras de filme em oito milímetros oferecem.
O Super 8 foi uma febre nos anos 60 e 70, principalmente em função do custo baixo e das câmeras portáteis de pequeno tamanho. Muita gente usava para filmar eventos familiares e cenas do cotidiano, mas também surgiu uma cena artística importante – e que nunca morreu. Mesmo com a chegada das fitas de vídeo e depois das mídias digitais, os fãs do formato jamais abandonaram seus equipamentos, e seguem com uma produção impressionante.
“Tem coisas que só o Super 8 faz por você”, diz Antonio Carlos Domingues, superoitista experiente e um dos organizadores do festival desde sua terceira edição. ” A textura da imagem, da película, não tem igual. Até existem hoje programas que emulam, que tentam simular o resultado, mas nunca vai ser a mesma coisa”, afirma ele. Por isso os cineastas ainda hoje, quando querer recriar um espírito de época, numa cena dos anos 70, por exemplo, apelas para as câmeras Super 8.
Além disso, os aficionados dizem que o “barato” é você poder participar de todas as etapas do filme. Num celular, por exemplo, você aperta o botão de gravação mas não tem domínio do processo, não interfere nos mecanismos. No Super 8, brinca Antonio Carlos, a única etapa de que você não participa é a confecção do filme. Depois disso, o superoitista pode editar na própria câmera, montar colando pedaços físicos de filme, sonorizar, tudo.
A sonorização, aliás, é um elemento à parte e que, embora pelos fãs de tecnologia possa ser vista como um ponto negativo, para os fãs é uma graça a mais. Os filmes produzidos hoje não têm mais a banda magnética que gravava o som. Portanto, se você quiser sonorizar o filme com diálogos ou trilha, precisa fazer isso posteriormente. No festival, por exemplo, é comum que as pessoas executem música ao vivo para acompanhar os filmes.
“É uma sensação à parte. Você precisa gravar junto em outra mídia, para marcar os tempos, ou então anotar. Porque os filmes em geral são feitos em tomada única e você vai revelar depois, algo que não acontece no digital”, diz Antonio Carlos. “No festival, os filmes que foram feitos pelos alunos da oficina são revelados e eles mesmos só vão ver o resultado na hora da exibição”, diz ele.
A oficina é uma etapa prévia do festival. Os superoitistas mais experientes ensinam a usar o equipamento e preparam os alunos para fazer seu primeiro trabalho. O filme, em tomada única, tem de ser feito no primeiro take. Cada aluno tem um rolo de filme para usar e só: coisa para quem tem gosto pelo artesanal de verdade.
A hora dos aficionados
O festival, que acontece desde 2005, é o momento em que todos se reúnem. E se você acha que a produção é pequena, está redondamente enganado. Só nas oficinas já foram feitos cerca de 150 curtas. E neste ano, no Cine Passeio, serão exibidos 108 filmes. Além dos filmes da oficina, acontecem as mostras paralelas.
Uma das mostras será uma homenagem ao cineasta Nivaldo Lopes, o Palito; outra trará a produção exibida no Straight 8, um dos maiores festivais de super 8 do mundo; e uma terceira apresentará o lançamento do filme do superoitista francês Remy Batteault “O açougueiro cineasta”.
E ainda tem mais: como já é costume, o festival terá o Dia do Filme Caseiro. Aqui, os filmes são feitos pelo público. O Festival terá ainda duas masterclasses “O potencial do super 8 no mercado mundial”, com Ivan Cordeiro; e “História do cinema super 8 brasileiro”, com Flávio Rocha; além da oficina “Projeção em cinema super 8”, com Lucas Vega.
O festival é uma realização da Perfil Comunicação e Cultura e da Processo MultiArtes, que este ano tem patrocínio da Uninter, via Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Curitiba, contando ainda com os apoios da Fundação Cultural de Curitiba e da Prefeitura Municipal de Curitiba, além do Cine Passeio, do ICAC e da rádio Educativa
Serviço
CURTA 8 – Festival Internacional de Cinema Super 8 de Curitiba
Data: 27 a 30 de outubro de 2022
Local: Cine Passeio (rua Riachuelo, 410)
Horário: Confira a programação detalhada no site www.curta8.com.br