Dono da Britânia reúne funcionários de Curitiba para falar de eleições: “O Brasil é verde e amarelo”

Discurso de suposto assédio eleitoral chegou ao MPT. Funcionários receberam "camisetas da Havan" para votar

Cena protagonizada pelo dono da marca curitibana de eletrodomésticos Britânia está sendo acompanhada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) do Paraná como possível caso de assédio eleitoral. César Buffara reuniu funcionários na sede de Curitiba e distribuiu a eles camisetas de cores verde e amarela “para usar no dia das eleições”, após discurso de um pouco mais de um minuto em que diz que “eleições são perigosas” e que o Brasil é “verde e amarelo”.

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O episódio ocorreu no dia 21 de outubro, a menos de dez dias do segundo turno das eleições presidenciais, e reuniu trabalhadores de todos os setores da empresa, segundo apurou o Plural. A fala de Buffara – um “recado”, como disse ele – foi gravada em áudio; houve receio entre os empregados de registrar o momento com as câmeras de celular.

“Eu tenho aqui um recado para vocês, para lembrar que dia 30 tem eleições. Lembrando que o voto é cem por cento livre, não quero induzir ninguém a nada, mas tenho obrigação de dizer que eleições são perigosas, tensas. Dia 30 tá aí, nosso país é verde e amarelo, nosso país não é vermelho”, disse o empresário.

Verde e amarelo são as cores de metáfora do governo Jair Bolsonaro, que disputa a reeleição no segundo turno do próximo domingo. O discurso que reuniu também outros elementos do repertório corriqueiro do candidato do PL, foi durante o expediente. No áudio é possível ouvir a voz de uma mulher que pede a atenção dos trabalhadores.

“Lembrar a vocês que não deu certo, em lugar nenhum do mundo, o vermelho. Peguem qualquer exemplo, da Venezuela, Argentina, Nicarágua, Coreia do Norte. Não dá certo. ‘Ah, mas ouvi falar que é legal’. Não dá certo”.

Em seguida, Buffara diz ter uma “lembrança” aos funcionários, referindo-se a camisetas de cor verde e amarela que ele oferece a quem quiser “usar no dia da votação”.

“É só uma lembrança para vocês, uma camiseta para vocês usarem. Eu trouxe uma camiseta para cada um de vocês usarem, quem quiser usar, no dia da votação. Somente uma lembrança, respeito cada um de vocês, mas vim dizer que nosso país é verde amarelo”.

A reportagem questionou a Britânia sobre o conteúdo do áudio. Em resposta, a companhia afirmou “que não comenta assuntos políticos”.

Pressão Havan

A camiseta dada aos funcionários da unidade em Curitiba é a mesma distribuída desde as eleições passadas pela rede de lojas Havan.

A estampa traz uma bandeira do Brasil acima da frase “O Brasil que queremos só depende de nós”. A mesma expressão foi colocada automaticamente como fundo de tela dos computadores da empresa.

Com uma extensa malha de lojas espalhadas por todas as regiões do país – são 168 ao todo –, a Havan é uma das principais clientes da marca Britânia/ Philco. O dono da rede catarinense, Luciano Hang, conhecido como “Velho da Havan”, aliado fiel de Jair Bolsonaro e também próximo de Buffara, chegou a declarar que pararia de investir e deixaria Brasil no caso de o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, vencer as eleições presidenciais deste ano.

Segundo a reportagem apurou, há um clima de receio entre os funcionários da Britânia de que as decisões da Havan possam impactar na empresa, embora isso nunca tenha sido verbalizado pelos gestores.

O caso foi denunciado ao MPT na última segunda-feira (24). O órgão disse há um inquérito civil aberto para acompanhar o caso, mas que ainda não há Ação Civil Pública ou Termo de Ajustamento de Conduta firmado com a empresa.

O Paraná concentra, até agora, o maior número de denúncias de assédio eleitoral em ambiente de trabalho de toda a região Sul. De acordo com o Ministério Público do Trabalho, foram 138 queixas registradas até esta quarta-feira (26).

No início da semana, a Justiça do Trabalho determinou que a Lar Cooperativa deixasse de coibir seus empregados para votarem em Jair Bolsonaro, candidato do PL à reeleição. Foi um dos quatro acordos, anunciados desde sexta-feira passada (21), fechados com empresas para impedir assédio eleitoral contra empregados.  

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6 comentários em “Dono da Britânia reúne funcionários de Curitiba para falar de eleições: “O Brasil é verde e amarelo””

  1. Qual é o problema em falar, eu falaria se fosse dona , os retardado estão trabalhando na empresa e ainda criticam o dono , tipico de sindicalistas , quero saber se os sindicalistas dão ajuda pra quem fica desempregado!

    1. Rosiane Correia de Freitas

      Rosa, existe uma coisa chamada Lei Eleitoral que estipula que usar poder econômico para constranger as pessoas a votarem num candidato é crime. Não tem absolutamente nada a ver com sindicatos. Pode ficar tranquila. Tem a ver com o direito das pessoas de votarem livremente, sem imposição ou constrangimento de outros, especialmente daqueles que detém poder sobre eles. Um abraço democrático, Rosiane

  2. A quem comentou sobre buscar o nome da cor da bandeira da China no Google… aproveite o buscador aberto e procure “significado de Brasil”…

    O que não pode é empresas persuadindo funcionários a votar em tal candidato e governantes se apropriando de símbolos nacionais, assim como aconteceu em uma quadra de nossa história com a cruz de gamada.

  3. “Lembrar a vocês que não deu certo, em lugar nenhum do mundo, o vermelho”.

    [rápida busca pela cor da bandeira da China, e…
    é, acho que lá não deu certo mesmo…]

  4. Juarez Varallo Pont

    Isso é cabresto sim, versão Sul maravilha, mas também é desespero diante da possibilidade, cada vez mais concreta, desse período de trevas chegar ao fim. E esse negócio de que vou deixar o país se o Lula vencer, é antigo. Na primeira eleição da Lulao então presidente da FIESP, cujo nome não merece ser citado, fez uma ameaça de que 800 mil empresários deixariam o país. Nada aconteceu e o Brasil cresceu e melhorou.

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