Despejo em massa é ameaça para 1,2 mil famílias em ocupação

Com fim de vigência de liminar, comunidade Nova Esperança vive receio de ações da PM

Cerca de 1.200 famílias correm o risco de ficar sem moradia em Campo Magro, região metropolitana de Curitiba. A situação se repete em todo o Brasil, em plena crise sanitária, aumento dos preços e desemprego. Mais de 132 mil famílias correm o grande risco de desapropriação das áreas rurais e urbanas, segundo a campanha Despejo Zero. 

Dentro de duas semanas, em 31 de junho, vence a liminar que suspendia os despejos em todo Brasil durante a pandemia do Covid-19. A medida instituída pelo STF como Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) de nº 828, proíbe desapropriações e remoções forçadas de famílias vulneráveis ocupantes de terrenos e imóveis. 

Nadia Nogueira dos Santos, de 47 anos, mora há quase um ano na ocupação Nova Esperança. Quando conheceu o Movimento Popular por Moradia (MPM), estava em situação de rua sem esperança de melhoria em sua vida. “Cheguei já contribuindo, ajudei na cozinha comunitária na escolinha e hoje estou ajudando a organizar a biblioteca, minha vida começou a fazer sentido”, relatou a moradora.

Comunidade Nova Esperança 

Em 25 de maio de 2020, cerca de 400 pessoas ocuparam a “Fazenda Solidariedade” que foi abandonada há mais de dez anos. Na área, funcionava a Fundação de Ação Social (FAS), espaço de recuperação de dependentes químicos. O espaço estava abandonado e com diversas construções em ruínas. 

Atualmente vivem mais de 1.200 famílias na comunidade. Os moradores hoje dão vida ao espaço que é direito humano básico, previsto na Constituição Federal. Através da organização dos moradores, liderada pelo Movimento Popular por Moradia, diversos espaços comunitários têm tomado forma, como a cozinha comunitária, espaço escolar, biblioteca, padaria comunitária, consultório de saúde, barracão de reciclagem, projeto de costura visando gerar a economia da comunidade dentre outros.

Nádia Nogueira, moradora da Nova Esperança. Foto: Juliana Barbosa

A área atualmente tem várias estruturas incluindo casas de material e alvenaria, conta com mais ou menos 5.000 pessoas brasileiras, haitianas, cubanas e venezuelanas que se unem para lutar por seus direitos.

“Na nossa Constituição estão os quatro estatutos a que o cidadão tem direito: Trabalho, moradia, educação e saúde se for tirado a moradia não vamos conseguir nem um dos outros. O intuito da comunidade é assegurar que possamos lutar por nossos direitos”, diz Viviane Dzibanskei da coordenação da ocupação. 

Violência Policial

Além do preconceito sofrido, a comunidade foi palco de uma grande violência policial, em 30 de dezembro de 2021, a Polícia Militar matou um jovem de 24 anos e deixou uma adolescente grávida de quinze anos ferida.

“Já ficamos tristes em saber que corremos o risco de parar na rua novamente, mas o medo fica ainda maior pois sabemos como a polícia age nas ocupações. Sempre tem morte, eles entram para nos machucar, batem o pé nas nossas portas e não deixam nem a gente juntar nossas coisas”, afirma Nádia Nogueira que presenciou de perto a violência das autoridades. 

A população da comunidade também sofre outras violências sociais. Uma moradora vinda do Haiti, que não quis ter a imagem divulgada, relatou ter sofrido várias vezes racismo e preconceito fora da comunidade, “Tenho medo de deixar minha filha sair de casa, pois na escola ela sofre bullying por ser negra e por ser imigrante”. 

Texto produzido para o projeto Periferias Plurais, um espaço aberto a seis jovens de comunidades de Curitiba para relatar seu cotidiano.

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