Cantora Roseane Santos terá atendido seu último pedido: ao invés de velório, um bloco na rua

Nascida no Rio de Janeiro, cantora morou em Curitiba nos últimos 21 anos de sua vida

Afetiva, gentil, viva, pulsante. Esses são alguns dos adjetivos que ao longo dos anos foram usados para tentar definir Roseane Santos, uma carioca que fez de Curitiba seu lar e seu palco nos últimos 21 anos. Do começo de carreira como arte-educadora no Rio de Janeiro ao lançamento de seu primeiro álbum solo, já madura, aos 54 anos, em Curitiba, Roseane reuniu em torno de si uma multidão de amigos, músicos e fãs. Agora, são essas pessoas que preparam a última homenagem que ela pediu.

Antes de falecer neste sábado (14), vítima de um câncer, Roseane deixou claro que não queria cerimônias fúnebres tradicionais. Queria, isso sim, ser celebrada com música, com um bloco festivo que saísse às ruas para lembrar dela como ela sempre gostou de viver: cercada de música e gente. “Quero ser lembrada pela minha arte, pelo que deixo para vocês”, disse ela. “Façam das minhas cinzas confetes.”

Nas redes sociais da cantora, os amigos informam que no próximo dia 23 o Bloco Travessia partirá, embora ainda não se saiba o trajeto a ser feito.

Uma vida de música

Em entrevista à repórter Jess Carvalho, publicada pelo Plural em 2020, Roseane contou sua trajhetória. “Minha história musical começa lá atrás, ainda no Rio, como estudante de música e musicista amadora. Eu fazia o Conservatório Villa Lobos e cantava no coro da UERJ. Mas não considero profissional porque eu não recebia por esse trabalho”.

Ao mesmo tempo, ela trabalhava como arte-educadora. Isso mudou quando ela veio para Curitiba, em 2002. Inicialmente, era apenas uma passagem rápida para a Oficina de Música, mas a cidade acabou virando lar. “Foi apaixonante. Fiquei um mês respirando música e achando aquilo muito maravilhoso. Então prestei vestibular para a FAP [Faculdade de Artes do Paraná], passei e, em 2003, já estava morando aqui. Como eu tinha contato com as Noivas de Allfreddo, ingressei no grupo e comecei a cantar, ensaiar, aprender repertório”.

Roseane passou também pelo Conservatório de Música Popular Brasileira. Em 2003, deu “uma canja” para uma orquestra de gafieira que já existia há alguns anos, mas não tinha cantora. “E lá fiquei oito anos. Gravando disco, DVD, fazendo shows, saindo de Curitiba… Foi essa a transição de uma musicista amadora para uma musicista profissional. Curitiba foi um portal maravilhoso”, contou ela.

Durante esse período, Roseane também esteve no Serenô. “Talvez esse tenha sido o trabalho na noite que me deu maior projeção, porque a gente tocava todo sábado no mesmo espaço, que era a Sociedade 13 de Maio, e não tem como não criar vínculos com a plateia. Era um show a cada sábado. Nunca era uma noite em que se chegava, plugava o instrumento e tocava. A gente sempre tinha um diferencial, fosse um convidado ou tema, um motivo pra festa. Eram noites cheíssimas, tinha gente que ficava pra fora, tinha rodízio de primeiro e segundo tempo…”

Álbum

Em 2020, Roseane lançou seu primeiro álbum solo, já aos 54 anos. “Fronteiriça” contava com composições próprias e faixas de amigos como o poeta Francisco Mallmann e a atriz Leonarda Glück. O trabalho pode ser ouvido gratuitamente no Deezer e no Spotify.

Aos 54 anos, Rose celebrou o álbum, dizendo que era chegado o momento de compartilhar trechos de seu caderno de escritos e tantos outros de seus mistérios transformados em boa música afro-brasileira. “Sou eu de hoje, viva e pulsante”, diz ela, passeando pelo passado que dá forma ao presente.

O disco, segundo a entrevista dela para Jess Carvalho, falava de sua própria vida. “Eu estou contando a minha história. Falo de mim, dos meus amores, das minhas lutas, das parcerias. Até mesmo nos textos que não são meus, como “Pedras e escritos”, eu me vejo. Ele diz: “Segura pela mão as suas amigas, seus amores antigos e recentes”, e isso é muito de agora. Eu estou numa fase em que estou sendo muito cuidada”.

No final da entrevista, Jess pergunta a ela como foi a sensação de ver o primeiro álbum nascer já aos 54 anos. A resposta dela foi a seguinte.

“Eu acho que tenho uma bagagem, uma vida pregressa, mas nunca pensei em mim como estando madura. Dizem que pareço jovem porque sou um pouco sem noção mesmo [risos]. Já tenho 54 anos e talvez a vida tivesse que ser de um outro jeito, mas, pra mim, não. É isso. Eu vou vivendo. No disco, está a minha história, mas sou eu agora. Sou eu viva.”

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