Vestibular específico para população indígena está com inscrições abertas

Atualmente, 291 indígenas estão matriculados em universidades paranaenses; inscrições vão até 13 de fevereiro

As inscrições para o 22º Vestibular dos Povos Indígenas do Paraná já começaram e seguem abertas até 13 de fevereiro. Para realizá-la, os candidatos devem apresentar documento comprobatório da origem indígena e comprovar a conclusão do Ensino Médio. 

Em 2023, das 52 vagas ofertadas para cursos de graduação, dez são da Universidade Federal do Paraná (UFPR). As outras 42 são distribuídas entre as universidades estaduais de Londrina (UEL), Maringá (UEM), Ponta Grossa (UEPG), do Oeste do Paraná (Unioeste), do Centro-Oeste (Unicentro), do Norte do Paraná (UENP) e do Paraná (Unespar). 

Os 551 cursos estão disponíveis em diferentes câmpus localizados em Curitiba e em 32 municípios do interior paranaense, nos turnos da manhã, tarde e noite.

Neste ano, de acordo com o Manual do Candidato, as provas serão aplicadas nos dias 7 e 8 de maio, na capital e em territórios indígenas de seis cidades: Cornélio Procópio, Mangueirinha, Manoel Ribas, Nova Laranjeiras, Santa Helena e Tamarana. No primeiro dia haverá uma prova oral de Língua Portuguesa e no segundo uma prova objetiva, com questões de Português (interpretação de texto), Matemática, Biologia, Física, Química, História, Geografia e Línguas Estrangeiras e Indígenas (Inglês, Espanhol, Guarani ou Kaingang), além da redação.

Indígenas nas universidades

Há 20 anos o governo do Paraná incentiva pessoas de etnias, comunidades e territórios indígenas do estado a ingressarem no ensino superior. Anualmente, de forma gratuita, são ofertadas 52 vagas para diferentes cursos regulares de graduação no formato presencial e na modalidade educação a distância (EaD), em nível de bacharelado, licenciatura e tecnológico.

Atualmente, dos 13,3 mil indígenas que vivem no Paraná, 291 estão matriculados em universidades. No total, 195 já se formaram. Em 2022, aconteceu a primeira formatura do curso de Pedagogia Indígena da Unicentro. Foram 22 estudantes das etnias Kaingang, Guarani, Guarani-Mbya e Xetá que colaram grau em cerimônia realizada na Terra Indígena Rio das Cobras, no interior de Nova Laranjeiras.

Segundo dados do Censo da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o Brasil registrou um aumento de 695% no número de indígenas matriculados no ensino superior entre 2010 e 2018. Em oito anos, a quantidade de pessoas pertencentes aos povos originários nas universidades passou de 7.256 para 57.706. O número, no entanto, representa 0,68% do total de estudantes em universidades, centros universitários e faculdades.

Natural da Terra Indígena Pinhalzinho, no Norte Pioneiro, o Guarani Ronaldo Alves da Silva, ou Awa Djerokydju (seu nome indígena), de 33 anos, sonhava em ser professor. Em 2009, ingressou na UEM para cursar Educação Física, mas logo transferiu os estudos para a Pedagogia. 

“Eu optei por um curso que me formasse para voltar à minha comunidade e trabalhar nas escolas com as crianças indígenas”, conta Ronaldo, que atualmente é especializado em Gestão Escolar Indígena.

Desde 2018 ele é professor do Ensino Fundamental na Escola Estadual Indígena Yvy Porã, no município de Tomazina. Lá, seu principal objetivo é valorizar a cultura ancestral e a origem dos povos indígenas. “Procuramos formar as crianças mostrando para elas as raízes, fortalecendo a identidade cultural e mostrando o quanto a nossa cultura é importante.”

Ronaldo Alves da Silva com seu diploma da Universidade Estadual de Maringá. Foto: Arquivo pessoal

Silvana Matias, ou Kunhã Poty Porã, da etnia Guarani Nhandewa, decidiu entrar na universidade em 2005 para cursar Medicina na UEM. No ano seguinte, optou pelo curso de Enfermagem e toda a família, que vivia na Terra Indígena Laranjinha, em Santa Amélia, mudou-se com Silvana para Maringá.

Formada, hoje Silvana atua na Unidade Básica de Saúde Indígena (UBSI), onde coordena uma equipe multidisciplinar com 14 pessoas, todos indígenas. “Acompanhamos o pré-natal, vemos a criança nascer, desenvolver e crescer com a nossa ajuda. Você vê o idoso confiar na sua palavra, chamar você pra contar algo que aconteceu com ele, é especial.”

Assim como a mãe, os dois filhos de Silvana, Isabelly Nathuane Matias Claudino e Mateus Henrique Matias Claudino seguiram para a área de Saúde. Isabelly estudou Enfermagem na UEM e agora faz Residência Técnica em Gestão da Segurança Pública, em Maringá, e Mateus cursa Medicina na UEPG desde 2021.

Currículo e inclusão pedagógica

A educação superior dos povos originários envolve adaptações curriculares e pedagógicas para inclusão dessa parcela da população nos modelos educacionais. Por isso, foi criada a Comissão Universidade para os Povos Indígenas (Cuia), que além de organizar o vestibular, acompanha os estudantes e promove o acesso e a permanência deles nas instituições por meio de ações e investimentos.

Depois de matriculados, os universitários indígenas recebem o auxílio instalação no valor de R$ 1.125,00 e o auxílio permanência, durante o período que estiverem na universidade, no valor de R$ 1.125,00, com acréscimo de 50% do valor para os que possuem filhos, totalizando R$ 1.687,50. As bolsas pagas pelo Governo do Estado foram reajustadas em 25% em 2022, e o auxílio pago pelo governo federal segue com o valor de R$ 900.

Além do Vestibular dos Povos Indígenas do Paraná, as instituições de ensino superior também oferecem possibilidades para o ingresso de indígenas pelo sistema de cotas sociais nos vestibulares convencionais.

Cronograma do vestibular de 2023

  • Inscrições: até 13 de fevereiro
  • Homologação de inscrições: 15 de fevereiro
  • Ensalamento: 24 de abril
  • Aplicação de provas: 7 e 8 de maio
  • Divulgação de gabarito: 9 de maio
  • Divulgação de aprovados: 31 de maio

Cursos ofertados pelas universidades

  • UFPR – 95 cursos (Curitiba, Jandaia do Sul, Matinhos, Palotina, Pontal do Paraná e Toledo)
  • UEM – 86 cursos (Maringá, Cianorte, Cidade Gaúcha, Goioerê, Ivaiporã e Umuarama)
  • UEL – 65 cursos (Londrina)
  • Unespar – 78 cursos (Curitiba, Apucarana, Campo Mourão, Paranaguá, Paranavaí e União da Vitória)
  • UEPG – 75 cursos (Ponta Grossa e Telêmaco Borba)
  • Unioeste – 65 cursos (Cascavel, Foz do Iguaçu, Francisco Beltrão, Marechal Cândido Rondon e Toledo)
  • Unicentro – 58 cursos (Guarapuava, Chopinzinho, Coronel Vivida, Irati, Pitanga e Prudentópolis)
  • UENP – 29 cursos (Jacarezinho, Bandeirantes e Cornélio Procópio)

*Com informações da Agência Estadual de Notícias do Paraná

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