“Vacina para todos” de Greca prejudica muita gente. Veja quem

Para cumprir promessa Greca precisaria de 387 mil doses de vacina, mais do que a cidade já aplicou como primeira dose até agora

O prefeito Rafael Greca anunciou, em vídeo divulgado em suas redes sociais, que pediu ao Ministério da Saúde que a vacinação contra Covid-19 tenha doses liberadas em Curitiba para todas as pessoas maiores de 50 anos, independente de comorbidades ou outros grupos prioritários. A proposta liberaria a população de ter que conseguir uma declaração médica indicando ter uma comorbidade entre as 22 possibilidades elencadas no Plano Nacional de Vacinação.

A ideia parece atraente, especialmente para aqueles que ainda não têm perspectiva de ser vacinado. Mas é, na realidade, uma forma de adiar a vacina de quem, segundo o Plano Nacional, tem maior risco de desenvolver sintomas graves da doença ou até mesmo morrer.

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Segundo o Censo do IBGE de 2010, Curitiba tem 193 mil pessoas entre 50 e 59 anos. Isto é mais que a metade das 300.000 pessoas com menos de 60 anos e comorbidades ou deficiência permanente severa previstas no plano municipal de vacinação. Para liberar a vacinação de todas as pessoas entre 50 e 59 anos, Curitiba teria que necessariamente adiar a vacinação de pessoas com comorbidades em outras faixas etárias por tempo indeterminado.

Além disso, mesmo sem considerar o possível aumento desse público entre o dado do Censo de 2010 e agora, para vacinar essa faixa etária a cidade gastaria mais doses que já aplicou desde janeiro como primeira dose nos grupos prioritários.

Isso tudo num momento em que as entregas de novos lotes de vacina estão sendo revistas, uma vez que há atrasos na importação de matéria prima para fabricação da Coronavac e AstraZeneca no Butantan e na Fiocruz. O atraso, como das outras vezes, foi causado por um atrito entre o governo brasileiro e o chinês.

A proposta de Greca também acontece quando a cidade está sob escrutínio do Ministério Público por ter feito uma vacinação especial de funcionários de uma empresa privada, muitos dos quais em atividade administrativa. A ação, que aconteceu no sábado, dia 8, desrespeitou a determinação de priorizar grupos com maior risco de contaminação e de agravamento dada pelo Ministério da Saúde, segundo o MP.

Não é a primeira vez que Greca promete vacinas que sabe não poder entregar no futuro previsível. Já no início do ano o prefeito disse querer comprar diretamente as vacinas necessárias para imunizar a população, apesar dessa compra, de acordo com a legislação vigente, ter necessariamente que ser entregue ao PNI e distribuída igualitariamente em todo país. Isso sem considerar a impossibilidade de se negociar pequenos lotes num momento em que nações inteiras estão adquirindo imunizantes.

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