Principais rodovias do Paraná são reformadas por empresas que tiveram denúncias

Levantamento mostra problemas na Justiça de responsáveis por várias obras milionárias em rodovias paranaenses

As onze principais obras em andamento do Paraná estão sendo realizadas por empresas que tiveram problemas na Justiça. É o que mostra um levantamento feito pelo Plural em relação às licitações que o Governo lançou para reformar as rodovias do estado. Curiosamente, os contratos mais valiosos acabaram nas mãos de empresas de engenharia que já foram investigadas por irregularidade na execução das obras ou por ter pago propina. Os valores desses editais alcançam R$ 1.5 bilhão, que estão sendo administrados por construtoras suspeitas em passado de irregularidade. 

Isso não significa que estas empresas estejam cometendo irregularidades, mas mostra que o governo não introduziu barreiras para impedir que elas pudessem participar as licitações.

Por exemplo, o contrato da Ponte de Guaratuba foi vencido por o consórcio Nova Ponte, composto pelas empresas Goetze Lobato e Carioca Christiani Nielsen Engenharia, que apresentou uma proposta de R$ 386 milhões. As duas empresas já foram investigadas na Lava Jato. Em particular, a Goetze Lobato foi envolvida no escândalo das concessionárias de pedágio nas rodovias do Paraná, que teriam pago propina a vários políticos em troca de aditivos contratuais favoráveis. Por outro lado, a Carioca Christiani foi apontada por ter participado ao cartel de empreiteiras que decidiam quem venceria as licitações da Petrobras.

Outra empresa citada na Lava Jato é a Construtora Triunfo, que venceu a licitação para a pavimentação da PR-364 São Mateus do Sul – Irati. O valor do contrato é de R$ 108 milhões. A empresa controlava a Econorte, que gerenciava vários trechos de rodovias no Paraná e que também teria participado do esquema de corrupção entre a política paranaense e as concessionárias de pedágio. 

Em uma delação contida nesta investigação, foram citadas também outras duas empresas que atualmente estão executando obras para o Estado do Paraná. A primeira é a Compasa, que faz parte do consórcio que ganhou a licitação para pavimentação da PR-239 entre Pitanga e Mato Rico com uma proposta de R$ 89 milhões. A segunda é a Dalba Engenharia, que já foi mencionada na delação premiada do ex-diretor do DER Nelson Leal Justus como uma das empresas que teria sido envolvida no esquema de pagamento ilícitos a vários políticos paranaense. Em julho do ano passado, a Dalba foi investigada também na Operação Fora de Área. De acordo com a denuncia apresentada pelo MPPR, a Dalba teria subornado dois agentes do DER com R$ 1, 1 milhão para que não fossem realizadas verificações das obras relativas aos contratos adquiridos pela empresa. Este processo está ainda em andamento.

Atualmente a Dalba duplica três rodovias no Estado, com contratos que somados valem R$ 273 milhões. As obras são a reforma da rodovia das Cataratas; da BR-277 em Guarapuava; e do Contorno Oeste de Cascavel.  

Em particular sobre as rodovias, os contratos mais valiosos são a restauração da PRC- 280 e a duplicação da PR-317 entre Maringá e Iguaraçu. A primeira obra, do valor de 107 milhões, é de responsabilidade do Consórcio Sanches Tripoloni – Consol que é formado pelas empresas Sanches Tripoloni ltda e pela Consol Engenheiros Consultores. A Sanches Tripoloni foi apontada pela Policia Federal em 2016 por ter supostamente superfaturado a obra de pavimentação da rodovia BR-359 em Mato Grosso do Sul. 

Por outro lado, a duplicação da PR-317 entre Maringà e Iguaruçu, que prevê um investimento de 183 milhões por parte do Estado, está sendo realizada pela TCE Engenharia Ldta. Esta empresa, junta com a Construtora Triunfo, fazia parte do consórcio Estação Solar, que teria que dar continuidade à execução dos serviços do lote 4.1 da Linha Verde de Curitiba. Por não ter respeitado o cronograma da obra, como revelou uma reportagem do Plural, o consórcio foi obrigado a pagar R$ 1,9 milhões por parte da Secretária Municipal de Obras Publicas.

Andamento das investigações

Envolvido na Operação Integração da força-tarefa da Lava Jato, o proprietário da empresa Goetze Lobato foi denunciado pelo MPF e o processo está em tramitação no Tribunal da Justiça do Paraná. Por outro lado, a Carioca Christiani assinou um acordo com o Conselho Administrativo da Defesa Econômica (Cade) e se comprometeu a pagar uma multa de R$ 454 milhões junto com as demais empresas do cartel.

O então Presidente da concessionária Econorte fechou um acordo de delação premiada com o MPF e voltou à liberdade. Em 2021, a Justiça Federal aceitou uma denúncia contra ele no âmbito da Operação Integração.

A Lava Jato não investigou a Compasa nem a Dalba Engenharia, mas esta última empresa ainda responde no âmbito da Operação Fora de Área do MPPR. Em 2023, a denuncia foi aceita pela Justiça e o processo está ainda em andamento.

Não constam processos abertos contra a empresa Sanches Tripoloni em relação ao suposto superfaturamento da BR-359.

Sobre o/a autor/a

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima