Passagem a R$ 6,00 põe Curitiba de novo no topo de capitais com ônibus mais caro

Aumento da passagem em Curitiba para R$ 6 tem pandemia e integração na justificativa. Novo preço foi anunciado horas antes de começar a valer

O aumento de R$ 0,50 na tarifa do transporte público anunciado nesta terça-feira (28) pela gestão Rafael Greca (PSD) horas antes de começar a valer empurrou Curitiba, de novo, para o topo do ranking das capitais com os maiores preços de passagem de ônibus.

A partir desta quarta, o uso do sistema do município – à parte do metropolitano – custará R$ 6 ao passageiro, mesmo valor cobrado em Florianópolis e Porto Velho. Nestas duas cidades, no entanto, esse preço só é desembolsado em pagamentos com dinheiro. No uso dos cartões-transporte próprios, as tarifas caem para, respectivamente, R$ 4,98 e R$ 4,50.

O levantamento foi feito pelo Plural considerando valores pagos para ônibus, apenas, sem relacionar tarifas de metrô ou transporte público alternativo de mais conforto, como as lotações de Porto Alegre, que chegam a R$ 7. Preços metropolitanos também não entraram na relação.

Custo da tarifa nas capitais em dinheiro. Florianópolis, Porto Velho e Fortaleza cobram preços menores no cartão do sistema.

Novo modelo?

Isso significa que nenhuma outra capital brasileira tem preço tão elevado da tarifa quanto Curitiba, onde o sistema caminha para os anos finais dos atuais contratos. Em caso de não renovação, um novo modelo deverá entrar em vigor a partir de 2025, e tanto a prefeitura quanto o governo do Paraná já deram sinais de estar pensando sobre isso.

Um primeiro passo teria sido a decisão do governador reeleito Ratinho Jr. (PSD) de colocar o vice-prefeito de Curitiba, Eduardo Pimentel, na chefia da recém-criada Secretaria de Estado das Cidades (Secid). O acúmulo dos dois cargos deve facilitar – e bastante – o planejamento e a execução dos novos planos para o sistema de transporte da capital e da região metropolitana. No ano passado, a Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec), então gestora do transporte público das cidades ao redor da capital, foi dissolvida para dar lugar à Agência de Assuntos Metropolitanos do Paraná, mais alinhada à nova composição do Governo Federal.

Tanto Ratinho como Greca já haviam buscado Brasília para tratar da futura composição do transporte público de Curitiba, e mesmo a mudança de mandatário não deve travar as conversas, até mesmo pela representatividade do sistema de ônibus da capital paranaense. Projetado internacionalmente na década de 1990, o modelo foi muito admirado, mas hoje é objeto de críticas.

Denúncias e problemas

Em 2013, o atual sistema, licitado três anos antes, chegou a ser tema de CPI aberta pelos vereadores para apurar e investigar indícios de irregularidades no processo licitatório e na planilha de cálculo tarifário das empresas – algo que tanto as operadoras como o município sempre rechaçaram. O relatório final dos trabalhos sugeriu redução imediata no preço da passagem e revisão nos cálculos de composição da tarifa-técnica, à época em R$ 2,93 (hoje, em R$ 7,49) , o que nunca ganhou força judicial.

Paralelamente às investigações, as empresas conseguiram na Justiça o direito de contestar o contrato e não substituir ônibus de vida útil vencida. Novos acordos só foram firmados em 2017, no início da gestão Greca, mas as compras de novos veículos efetuadas a partir de então não foram suficientes para modernizar por completo a frota, como havia prometido o prefeito.

Em dezembro, o Plural mostrou que 503 dos atuais 1.469 veículos em operação transitam acima da idade-limite de dez anos estabelecida no contrato de concessão. A Prefeitura atribuiu o problema quase perpétuo ao legado da administração anterior, de Gustavo Fruet (PDT), e às condições agravadas pela pandemia da covid-19. Nos meses mais dramáticos da crise sanitária, o número de passageiros transportados por dia caiu para cerca de 350 mil, equivalente a menos da metade dos registros normais.

Pandemia

Foi também no embalo da crise sanitária que Rafael Greca gritou socorro em nome das operadoras e conseguiu aval da Câmara para destinar a elas recursos extraordinários na ordem de R$ 180 milhões. O Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR) chegou a alegar falta de informações sobre o impacto orçamentário no caixa público e barrou o primeiro repasse, mas a Justiça reverteu a liminar e garantiu a verba, defendida como uma injeção para manter o sistema em equilíbrio. Enquanto isso, denúncias de ônibus superlotados em meio ao ápice da transmissão do vírus desencadeavam um conjunto de fiscalizações realizadas por técnicos do TCE por descumprimento a normas antiaglomeração.

As consequências da pandemia, por certo, continuam a respingar nos sistemas de transporte mundo afora, mas algumas cidades já começam a buscar alternativas para superar os obstáculos e refazer o transporte público em um cenário pós-covid. A prefeitura de São Paulo começou nesta semana a primeira leva de audiências públicas para debater a viabilidade bastante polêmica da proposta da tarifa zero na maior capital brasileira. Há outras cidades no país onde a conversa avança.

O Plural questionou a Urbs sobre o que exatamente explicaria o fato de Curitiba ter novamente alcançado o topo da lista das capitais com as tarifas mais caras do Brasil, mas a reportagem não conseguiu entrevista com o presidente da empresa, Ogeny Maia Neto.

No texto sobre o aumento da tarifa publicado no site da prefeitura, o valor de R$ 6 é classificado como “o mínimo possível para manter a sustentabilidade do sistema frente ao aumento dos custos relacionados ao transporte, que subiram acima da média da inflação”.

Entre as justificativas elencadas, o conteúdo cita a quantidade de passageiros pagantes que, assim como os custos trabalhistas, de manutenção e de operação, também impactam nos cálculos do sistema. “Mesmo com a retomada, o número de passageiros no transporte coletivo – média de 550 mil/dia – está 26% abaixo do registrado antes da pandemia (744 mil/dia)”, diz o texto. Além disso, a prefeitura também defende o modelo de integração do sistema como uma “das grandes vantagens em relação a outras cidades”. Em entrevista geral à imprensa no fim da tarde, a característica voltou a ser destacada por Maia Neto. “Você pode andar com apenas uma passagem mais de 40km, 50 km”.

O texto oficial da prefeitura, contudo, deixa de fazer menção ao encolhimento da frota. Também por causa dos novos hábitos trazidos pela pandemia, Curitiba decidiu manter diminuída a quantidade de ônibus em circulação nas ruas. Hoje são praticamente 200 veículos a menos se comparado a 2017.

Esclarecimentos à parte, caberá agora à população usuária do sistema dizer se os R$ 6 são mesmo compatíveis com o que já vem sendo feito. Caso contrário, as avenidas vencerão as canaletas e sobrarão as lamúrias corriqueiras do início e fim do dia. O Uber agradece.

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4 comentários em “Passagem a R$ 6,00 põe Curitiba de novo no topo de capitais com ônibus mais caro”

  1. Precisamos de um prefeito de verdade em nossa capital, não de um fanfarrão como é esse Greca, o pior é que vem um idiota que fica sentado na cadeira de presidente da URBS e diz que o pessoal reclama do valor da passagem mas a tarifa de Curitiba é das menores, estão nos tratando com retardados.

  2. Um absurdo, falta de pulso se um prefeito alienado a máfia do transporte coletivo em Curitiba. Quando o diesel estava custando R$8,00, podia rodar com a passagem custando 5,50, agora em 2023 custando pouco mais de R$ 4,00, precisou reajustar para R$6,00. Aumento de 9%. enquanto o salário subiu apenas 5,79, o mesmo índice de inflação. Então o custo do diesel não foi, reajuste de salário também não; foi o quê??????? Se alguém puder explicar, agradeço.

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