Pais denunciam e vigilância sanitária interdita creche particular no Novo Mundo

Cerca de 40 crianças chegaram a ficar sob os cuidados de apenas duas funcionárias

Condições sanitárias precárias; falta de manutenção de estrutura física, dos mobiliários e equipamentos; portas e janelas com vidros quebrados; fiação exposta; ausência de lactário para preparação de mamadeiras, essas foram algumas das irregularidades encontradas pela Vigilância Sanitária de Curitiba no Centro de Educação Infantil Estrelinha Encantada, durante fiscalização realizada nesta segunda-feira (29). De acordo com mães entrevistadas pelo Plural, elas ficaram intrigadas quando as crianças começaram a chegar em casa com fome, relatando que ajudavam as professoras a cuidar dos bebês e, em alguns casos, doentes.

O caso veio à tona na última sexta-feira (26), quando duas mães de alunos foram à creche e gravaram vídeos mostrando banheiros com vasos sanitários cheios de fezes e urina, outro banheiro com o box repleto de dejetos de um coelho que vivia no local, fraldário com bastaste sujeira, mamadeiras sujas e expostas, entre outras coisas que revoltaram os pais das crianças. Jennifer Pinheiro da Silva foi uma das que gravou os vídeos. O filho dela, de três anos, frequentava a creche desde fevereiro.

“Recebi a mensagem de uma professora que trabalhou lá me dizendo que era para eu verificar, pois as crianças não tinham alimentação adequada e outras coisas. Eu já tinha observado que tinha dias que ele chegava em casa com muita fome e eu imaginava que era porque ele estava crescendo, que era uma fase. Essa ex-funcionária falou pra gente que chegou a faltar comida na creche, que teve dias que as crianças não tinham o que comer e que as funcionárias tiravam dinheiro do bolso dela para comprar. E assim, o café da manhã era bolacha maisena e não tinha nada diferente, não tinha fruta”, disse Jennifer, que pagava uma mensalidade de R$ 650 já com desconto pelo programa Educa Mais Brasil..

Ela diz que viu tudo isso com os próprios olhos na sexta. “Nos armários só tinha essas bolachas, arroz, feijão e macarrão, nada mais. Muita sujeira, muita bagunça, brinquedos sujos, os banheiros então nem se fala, dá para ver pelos vídeos que gravei.”

Ela também relatou que quando chegou ao local, na sexta, só havia duas funcionárias para dar conta de 37 crianças. “Meu filho já chegou a falar pra mim que ele estava cuidando dos nenês junto com a professora, que ele era o ajudante dela. Então eu parei pra pensar, como só tinha duas professoras para dar conta de tudo, da limpeza, da alimentação, então os maiorezinhos ajudavam a cuidar dos menores”, contou.

Denúncias

A designer gráfica, Dayane Meneguelli levou a filha, de quatro anos, para outra escola nesta segunda-feira (29), ela foi a outra mãe que também gravou os vídeos e constatou as condições da creche que a menina frequentava há seis meses.

“Depois de tudo que vimos, tiramos os nossos filhos, denunciamos para a Vigilância Sanitária, Conselho Tutelar e também registramos boletim de ocorrência no Nucria. Espero que a escola permaneça fechada até estar em condições decentes para receber crianças e que essa gestão seja punida pelo o que fez, eles já provaram não ter competência para prestar esse tipo de serviço”, detalhou Dayane.

Funcionárias esgotadas

Uma ex-funcionária, que preferiu não ter o nome divulgado, relatou como foram os últimos dias de trabalho. “Eu entrei em janeiro, fui registrada em março e saí agora dia 26 de agosto. Na verdade tem tempo que nós queríamos sair, mas ela ficava prometendo que ia melhorar, prometendo que ia reformar, prometendo que ia ser mais presente. E nós fomos ficando, mas ela não mudou, então resolvemos sair. Eu não tenho muita esperança que vou receber, pois as que saíram antes, já passou do prazo e ainda não receberam”, conta ela.

“A dona da escola me colocou lá falando que eu era pedagoga, mas não era nem contratada como pedagoga e nem tinha o salário de pedagoga. Eu só resolvia as ‘bombas’, conversava com os pais, se faltava cozinheiro eu ia pra cozinha, se faltou faxineiro ia pra faxina. Agora no finalzinho estávamos apenas em duas, com quase quarenta crianças pra pra essa quantidade de funcionários, teve dia que eu fiquei das sete da manhã às sete da noite para não deixar ela sozinha, era muita criança pra poder ficar entregando pros pais, trocando fralda”, contou ao Plural.

Portas fechadas

De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba, a Vigilância Sanitária esteve nesta segunda-feira (29) no estabelecimento, após denúncia recebida pelo 156, no fim de semana.
“Durante a fiscalização, foram encontradas diversas irregularidades que levaram à interdição do local: condições sanitárias precárias; falta de manutenção de estrutura física, dos mobiliários e equipamentos; portas e janelas com vidros quebrados; fiação exposta; ausência de lactário para preparação de mamadeiras, entre outros. A creche deverá permanecer fechada. Os proprietários poderão solicitar a desinterdição apenas após a correção e regularização de todos os itens apontados no auto de infração e após realização de nova vistoria”, informou a prefeitura, por meio de nota.

O Plural entrou em contato com os proprietários da creche, que não se manifestaram até o fechamento da reportagem, que também verificou que foi dado baixa no CNPJ da escola, em fevereiro do ano passado. Cadastro que existia desde 2009 e funciona, agora, com um CNPJ mais recente, ativo desde 2017.

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