Desconstruindo a verdade, a realidade do jornalismo no Brasil

A falta de uma entidade forte, que represente a comunicação social no país, derreteu direitos e fez-se perder a própria credibilidade da classe

Casos como os que ocorreram no mês passado envolvendo a exposição de mulheres e suas decisões particulares sobre aborto e doação de bebês, demonstraram o quão cruel pode ser a imprensa brasileira. Num vício que tem se perpetuado por décadas, a busca pelo “furo” da informação tem tomado proporções cada vez maiores e antes inimagináveis. Mas sempre pode piorar, lamentavelmente.

O jornalismo brasileiro começou a perder credibilidade quando sequer teve forças pra lutar contra uma decisão junto ao STF que, em 2009, derrubou a exigência de um curso superior para que alguém pudesse exercer a atividade jornalística. Uma vergonha! Todos acreditam que podem escrever deliberadamente a respeito de tudo. E assim deveria, mas com ética e responsabilidade.

Para que então serve um jornalista? O que eles fazem efetivamente? As respostas podem chocar quem passou anos estudando para o ofício….

Os gêneros jornalísticos foram se dissolvendo entre achismos e a liberdade de escrita, para ‘quem’ pode estar na imprensa. Fala-se primeiro, investiga-se depois. Publica-se o que se ouviu falar com o pensamento de índice-audiência, ameaçando a informação de qualidade – como nos aferiu o professor Bourdieu, ainda nos anos 80, nas emissoras de televisão. Audiência que procuram os produtores de conteúdo, conscientemente ou não, diplomados ou não.

“É que dará audiência”, justificam aqueles que consentem e promovem os passos mal dados. E isso não tem mudado… e nada ou pouco tem sido feito. Pecados éticos do nosso cotidiano, não mais postos para baixo do tapete, escondidos como grande vergonha, mas alçados ao mundo. É só mais um, mais outro, e quando vemos estamos envoltos num emaranhado de notícias sensacionalistas, na maioria das vezes exageradas e até falsas.

Quem defende o jornalismo bem feito? Quem mostra como deve ser? Quem preserva as fontes? Há sentimentos por aqueles que juraram na formatura ter ética e respeito pela informação, que vai do desalento à frustração, da angústia de querer fazer mais a um cenário de neblina. Nunca foi fácil exercer o bom jornalismo. Mas nunca pareceu tão inglório, como quando nos deparamos com a falta de humanidade diante do propalar para o entretenimento da audiência.

Quando pensamos nos últimos ‘furos’ da imprensa, aos quais nos referimos no início do texto, temos direto de resposta por parte das vítimas? Vão nos dizer que sim. É possível judicializar. As falas se alteram no programa seguinte – mas o anterior continua lá, no ar, no registro público das redes sociais para quem queira printar o que foi dito e não bem entendido. Pedidos públicos de desculpas são feitos ou talvez alguma indenização financeira. E vem o dinheiro sendo posto como moeda que pode fazer punir. Mas de fato, existe redução de danos para quem foi vítima? Não.

Claro que falhas acontecem, pessoas erram, mas certas ações jamais poderiam ser deixadas de lado, como fatos aferidos, fontes e suas pluralidades ouvidas, investigação… e aquelas perguntas… Interessa a quem? Qual a relevância social? Interfiro na vida, na liberdade e na escolha individual de alguém?

A população brasileira sequer sabe discernir o que é uma coluna opinativa do jornalismo, da comunicação de interesse social versus uma matéria paga para promover o interesse de um grupo ou de alguém. Tudo está manchado pelo véu do tendenciosismo político, religioso, preconceituoso… e assim vemos a mídia cada vez mais voltada à caçar likes – à qualquer custo – perdendo qualquer senso de humanidade.

O jornalismo, enquanto ofício estaria abandonado?

Sobre o/a autor/a

1 comentário em “Desconstruindo a verdade, a realidade do jornalismo no Brasil”

  1. Muito bem escrita esta reportagem.
    Concordo que o que trmos hoje de jornalismo é uma piada, uma sombra de noticias sem credibilidade.
    Coloco tambem a culpa de parte do problema na falta de obriatoriedade do curso superior, mas outra parte esta bos proprios jornalistas que, na sua maioria, perderam a nocao de ética pofissional e pessoal

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