Museu do Holocausto diz que atividade do colégio em Arapongas é desserviço para educação

O Museu do Holocausto já se colocou à disposição da Secretaria de Educação, do NRE de Apucarana e do Colégio para que possamos orientar e, em conjunto, elaborar práticas éticas e significativas para o ensino de temas como Holocausto, nazismo e Segunda Guerra Mundial

O Museu do Holocausto de Curitiba emitiu uma nota educativa após o caso de apologia ao nazismo registrado no Colégio Estadual Marquês de Caravelas, em Arapongas. A escola cívico-militar postou em suas redes sociais fotos de alunos com indumentarias nazistas em uma atividade que os levou a entrevistar a filha de um soldado das tropas de Hitler.

O caso repercutiu nas redes sociais neste domingo (08) e na segunda-feira (09) diversas organizações repudiaram o ato. Depois disso a Secretaria Estadual de Educação (Seed) emitiu uma nota e o post foi excluído do perfil da escola.

Educação

A nota educativa do Museu do Holocausto diz que a atividade teve caráter deturpado e que que há equívocos pedagógicos na proposta. Os historiadores do Museu afirmaram que receberam a notícia da atividade “com espanto e indignação”.

“Dois aspectos da atividade nos chamam atenção: 1) o uso de indumentária, simbologia e decoração associada ao nazismo; 2) a entrevista com a filha de um soldado nazista, chamada, na publicação do colégio nas redes (já apagada), de “sobrevivente”. Analisemos cada uma delas”, diz o texto do Museu.

A atividade foi proposta pela professora Ana Paula Giocondo, de história, que tem perfil conservador e é eleitora no Bolsonaro. No post apagado alunos aparecem com símbolos nazistas. “O uso de salas temáticas, decorações e caracterizações visando “vivenciar o tema” é uma prática didática comum. No entanto, para cada tema, são necessários cuidado e sensibilidade ao utilizar tais metodologias. Há necessidade de explicar historicamente o fenômeno do nazismo, visando o combate de suas continuidades e permanências no presente”, segue a nota.

Entrevista

Segundo o Museu do Holocausto a ideia de trabalhar as questões da Segunda Guerra Mundial é necessário trabalhar a questão do ponto de vista das vítimas. “(…) Na Pedagogia contemporânea do Holocausto, há consenso de que isso deve ser feito pela perspectiva das vítimas, e não dos perpetradores. Mesmo que a intenção não seja de apologia ao nazismo, o uso de simbologia tal como foi feito leva a um fascínio pelo nazismo. A encenação torna o nazismo, e não o seu combate, algo divertido, interessante e fascinante, deslocado do seu significado histórico”.

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A professora ainda permitiu que os estudantes entrevistassem a filha de um soldado nazista e a classificou como “sobrevivente”. “Já a categoria de “sobrevivente” se aplica a pessoas de fato perseguidas. Embora sem dúvida vivenciar um período de guerra seja uma experiência sofrida e traumática, é muito problemático borrar diferenças entre experiências como a da pessoa entrevistada. A entrevistada, apesar de todas as privações do período de guerra, não era perseguida por sua origem, ideias políticas ou por qualquer outro motivo – e pessoas, como os judeus, que foram alvo de um genocídio. A estes, cabe a categoria “sobrevivente (…) ou seja, entrevistou-se uma senhora cujo pai era nazista – o colégio não aponta isso como algo condenável”, condena o Museu.

O Museu do Holocausto está à disposição da Secretaria de Educação, do Núcleo Regional de Educação de Apucarana e do Colégio para que possamos orientar e, em conjunto, elaborar práticas éticas e significativas para o ensino de temas como Holocausto, nazismo e Segunda Guerra Mundial.

Leia a íntegra da nota:

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