Memória LGBTI+: projeto da UFPR percorre pontos históricos de Curitiba

O trajeto sai da placa que homenageia Gilda, na Boca Maldita

Projeto da Universidade Federal do Paraná (UFPR) faz Percurso LGBTI+” pelo centro de Curitiba com intuito de apresentar a história das pautas de diversidade na capital. 

De acordo com o professor Leandro Gorsdorf, coordenador do projeto de extensão e professor do curso de Direito da UFPR, em suas pesquisas ele começou a perceber as ausências de outras vozes da cidade e surgiu a ideia de relacionar seus estudos sobre cidade e gênero a partir da memória LGBTI+ nesses espaços.

 “Chegar aqui é o entrelaçamento de duas áreas de pesquisa que eu venho desenvolvendo na universidade. Uma é o direito à cidade e suas manifestações e comecei a perceber ausências de algumas vozes. Outra é sobre sexualidade e gênero. Na ponta dessas duas pesquisas, eu pensei ‘por que não entrelaçá-las?’ Todas as minhas pesquisas precisam ter uma intervenção ou transformação na realidade”, expõe.

O trajeto sai da placa que homenageia Gilda, na Boca Maldita. A travesti, morta em 1983, era figurinha carimbada na rua XV. A história impactou a assistente jurídica Ananda Cavalcante, que ainda não conhecia Gilda.  “Entender a história por trás da placa, que existia uma vivência ali, um corpo LGBTI+, foi importante. Dava pra ver o choque no rosto dos participantes ao ouvir essas histórias e ver que essas pessoas já estão ali há muito tempo, não é de agora, só que as pessoas esquecem ou fingem qu elas não existem. Quando a gente reforça isso, é um choque”, comenta.

O passeio segue pela praça Tiradentes, Clube Operário, Largo da Ordem e o Palácio Avenida foram também lugares cujas histórias foram recontadas. Por fim, em frente ao Teatro Guaíra e na escadaria do Prédio Histórico da UFPR, o grupo fechou o caminho de resgates e reflexões sobre o cenário artístico, tantas vezes palco e acolhimento dessa comunidade.

Naquele mesmo local, em 1995, aconteceu a Marcha Nacional de Luta contra a Aids e de formação da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT). Esse ato pode ser considerado uma das bases para o formato das paradas de Orgulho LGBTI+, que acontecem em diversas cidades brasileiras.

Imprensa

Não apenas a invisibilidade marca a história que o percurso busca materializar. A representação dessas pessoas também é desvelada. A forma com a qual as LGBTI+ eram noticiadas nos jornais da época, inclusive, documentam o tratamento e o olhar da sociedade.

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É o que explica o professor do Departamento de Comunicação da UFPR José Carlos Fernandes, que pesquisa a memória da imprensa no Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM), e foi um dos entrevistados para a elaboração do percurso. Ele também acompanhou a primeira experiência do passeio.

O pesquisador explica que até uma parte da história da imprensa, de modo geral, seus profissionais estavam atrasados em relação às pautas dos movimentos sociais, o que começa a mudar com o surgimento dos cursos superiores, entre outras transformações de estrutura.

 “Se você olhar, até ali nos anos 90, ainda vai encontrar o nome de uma travesti entre aspas. Existia um discurso dissonante na imprensa alternativa, como era o caso das revistas da Grafipar e do jornal Folha de Parreira. É pelas bordas que foi mudando essa mentalidade”, exemplifica.

Ainda não há data para o próximo passeio. A programação atualizada será divulgada apenas no ano que vem. 

Por: Alice Lima

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