Livro clássico sobre racismo é retirado de escolas por governo Ratinho Jr.

APP-Sindicato considera que "Avesso da Pele" está sendo alvo de censura do Governo do Paraná

O romance “O Avesso da Pele”, do escritor Jeferson Tenório, considerado um dos mais importantes romances sobre o preconceito racial no Brasil, está sendo recolhido das bibliotecas em todas as escolas estaduais do Paraná ligadas ao Núcleo de Curitiba. O motivo, de acordo com nota emitida pela Secretaria de Estado da Educação, é uma “reavaliação pedagógica” do livro. O romance estava indicado para alunos do Ensino Médio.

O recolhimento do livro ocorre dias depois de uma diretora de escola no Rio Grande do Sul criticar o uso da obra nas escolas e fazer um vídeo recitando trechos em que há menção a sexo. O vídeo da diretora foi rebatido pelo Ministério da Educação, que defendeu o Plano Nacional do Livro Didático e a escolha do livro de Jeferson Tenório (ocorrida durante o governo de Jair Bolsonaro).

No Paraná, a decisão de recolher o livro foi classificada pelo Sindicato que representa professores e funcionários da rede estadual, a APP-Sindicato, como censura. “Esse episódio entra para história como um dia triste e reforça a necessidade de denunciar e combater a contaminação da educação pública paranaense por ideologias extremistas, conhecidas pela negação dos direitos humanos e por atentar contra a democracia, a cultura, a diversidade e a pluralidade de ideias”, diz a nota.

A posição da APP coincide com um manifesto de intelectuais de todo o país feito nos últimos dias em defesa do livro de Jeferson Tenório, que venceu o Jabuti de Melhor Romance. Assinado por Ailton Krenak, Antônio Fagundes, Drauzio Varela, Djamila Ribeiro, Mia Couto e Ziraldo, dentre outros, o texto se chama “Contra a Censura à Literatura de Jeferson Tenório”.

“Ferem de morte a democracia, o direito de um autor se expressar, tiram a oportunidade de alunos entrarem em contato com textos escritos que foram observados e selecionados por comissões especializadas e preparadas para levar qualidade ao ensino”, diz o texto.

Veja a nota da Secretaria de Educação do Paraná

A Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed-PR) conduz habitualmente a revisão dos materiais incluídos no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) literário, inclusive da obra ‘O Avesso da Pele’.

A medida visa apoiar os professores no trabalho pedagógico aliado ao currículo e aos objetivos de aprendizagem em cada uma das etapas de ensino a partir do conteúdo exposto nas obras literárias disponíveis.

Ressalte-se que a temática abordada na referida obra literária faz-se primordial, sendo de suma importância no contexto educacional. A análise do livro, porém, mostrou-se necessária pelo fato de que, em determinados trechos, algumas expressões, jargões e descrição de cenas de sexo explícito utilizados podem ser considerados inadequados para exposição a menores de dezoito anos (janela etária da maioria dos alunos de ensino médio no Estado). Desta forma, em respeito aos próprios estatutos legais da lei brasileira, de salvaguarda à criança e ao adolescente, no que diz respeito à exposição aos referidos conteúdos, fez-se a medida necessária neste primeiro momento.

Sobre o/a autor/a

5 comentários em “Livro clássico sobre racismo é retirado de escolas por governo Ratinho Jr.”

  1. Toda ignorância (comportamental) será punida!
    Se não li a obra, sou ignorante (desconheço). Logo, não deveria explicitar nada além do meu desconhecimento. No entanto, se resolvo falar sobre o que não sei, evidenciando minha ignorância (comportamento idiota), eu e qualquer outro preciso arcar com as consequências da fala e ações.
    A obra é um marco contemporâneo em linguagem atual que combate o racismo em todos suas expressões – estrutural, institucional e individual. Se a Secretaria da Educação do Paraná, na figura de seu Diretor de Educação (sic), Chefe de Currículo, e Chefe do Departamento de Inclusão (esta é pra magoar…aff), não leram, então só resta arcarem com o comportamento ignorante por censurar uma obra que combate a prática vil do racismo. Do contrário, se a leram, estas “autoridades” negam o combate da discriminação racial nas comunidades escolares.

  2. Eu não li.
    Então não posso jugar certo ou errado.

    Mas não acho legal que na escola que meu filho estuda ter livros com descrições explicitas de sexo…

  3. Milena Ribeiro Martins

    Obrigada por ter dado espaço a um fato educacional tão importante, Jornal Plural. Chamo a atenção para a inconsistência da resposta da SEED: se o objetivo fosse analisar o livro e buscar apoiar o professor, um exemplar bastaria. No entanto, o NRE determinou a recolha de todos eles, de várias bibliotecas. Cenas de sexo estão presentes em muitos livros clássicos. Recolher um título só não resolveria, se a cruzada fosse apenas contra a representação de sexo. Os Lusíadas, para citar um só exemplo, é uma obra bem provocante, que já sofreu perseguições por motivos de pudicícia. Vamos caçar Camões? Deixem as bibliotecas escolares em paz. Deixem os professores e alunos lerem.

  4. Censura em pleno século XXI. E uma hipocrisia sem tamanho! Privar os alunos da importante discussão sobre racismo por causa de alguns palavrões !

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