Hipnose erótica? Ele jura que funciona

Alessandro Martins, dono de vários projetos excêntricos, é o mais novo hipnólogo da cidade

Ninguém jamais poderá dizer que Alessandro Martins é um sujeito tedioso, sem criatividade. A cada seis meses, lá vem uma novidade dele – e sempre alguma coisa que você não imaginava.

Uma hora é conseguir viver de blogs (quando quase ninguém conseguia isso); em seguida, vender todos os blogs (quando isso parecia não fazer sentido).

Daqui a pouco, ele é “Namorado de Aluguel”, e em dois tempos seu site tem 50 mil inscritos. Dê mais um tempo e ele está tentando montar uma casa dentro de um contêiner.

Pois a última do Alessandro, esse curitibano de 45 anos formado em jornalismo, é oferecer tratamento de hipnose erótica. Para saber exatamente o que é isso, o Plural entrevistou o mais movo hipnoterapeuta da cidade, que diz ser capaz de te hipnotizar até mesmo via WhatsApp.

O que é hipnose erótica?
A hipnose é a técnica usada para atingirmos um estado de transe que, de outra forma, atingimos naturalmente diversas vezes por dia, às vezes sem nos dar conta: pouco antes de dormir, pouco antes de acordar, no banho, dirigindo, ouvindo música, lendo um livro, vendo um filme ou quando sonhamos acordados.

Sabe quando ficamos olhando o vazio de olhos arregalados e, se alguém nos chama, às vezes nem sabemos dizer exatamente no que estávamos pensando? Quando chegamos a esse estado através de uma técnica apropriada, intencionalmente, costumamos chamar de hipnose. E, nesse caso, nossa intenção geralmente, é provocar algum aprendizado ou vivenciar alguma coisa através do subconsciente.

O subconsciente se diferencia do consciente, entre outras coisas, por não ter barreiras críticas. Aquelas barreiras que nos impedem de acreditar que podemos realizar, sentir ou ver certas coisas. Por exemplo, ser uma pessoa sem medo de alturas ou ser uma pessoa capaz de sentir grande prazer. Hipnotistas de palco usam essa incapacidade de julgar, por exemplo, para que uma pessoa acredite que uma cebola tem gosto de maçã.

A hipnose erótica usa o inconsciente para alcançar estados elevados de prazer e ensina a usar esses estados para uma melhor qualidade de vida em todas os setores do cotidiano. A hipnose, a propósito, nada tem a ver com dormir. Você fica consciente o tempo todo, capaz até mesmo de conversar com o hipnólogo. Você está consciente, mas acessando o subconsciente. Dizemos que consciente e subconsciente estão indiferenciados.

A hipnose erótica usa o inconsciente para alcançar estados elevados de prazer e ensina a usar esses estados para uma melhor qualidade de vida em todas os setores do cotidiano

Como você chegou a ela?
Desde criança gostei de hipnose e até a adolescência eu tive um relacionamento ficcional com ela, isto é, aquela hipnose que vemos nos filmes, que envolve controle sobre outra pessoa. A hipnose verdadeira nada tem a ver com isso, a não ser que a pessoa hipnotizada queira acreditar nisso.

Mas, mesmo nesses casos, a hipnose só acontece com o consentimento, não é possível hipnotizar alguém que não o queira. Muito embora, muitas vezes vezes nós demos esse consentimento sem saber que está rolando um estado de hipnose (por exemplo, quando um vendedor nos faz comprar algo que não queríamos realmente; nem o vendedor sabe que usou de técnicas de hipnose nesse caso).

Enfim, eu descobri esse lado real da hipnose e passei a estudá-la, sozinho. Enquanto aprendia, como não achava que tinha autoridade para hipnotizar alguém, me imaginava fazendo isso, nos momentos antes de dormir ou antes de acordar. Ou seja, entre o sono e a vigília, exatamente o estado de transe: eu estava me auto hipnotizando para me tornar um hipnotista, mesmo sem saber. Durante anos a fio.

Projeto da “casa contêiner” de Alessandro.

Um dia, uma amiga disse que precisava ter mais concentração para estudar. Eu, do nada, decidi que era uma oportunidade! Ofereci a possibilidade a ela e a hipnotizei por WhatsApp. Se alguém está perguntando se isso é possível, hipnotizar por texto, peço que imagine uma situação em que estava lendo um livro, compenetrado, sem ouvir os sons em volta, esquecido até de que estava naquela sala… alguém chamava e você preferia ler só mais um parágrafo e, quando via, já tinha lido duas páginas até decidir que era hora de atender o chamado do mundo exterior. Enquanto isso, o texto do livro ia sugerindo ideias, emoções, sentimentos, pensamentos que, antes, não estavam em você e que você abraçava de acordo com o seu consentimento de sentir e aprender. A hipnose é basicamente isso.

Um dia, uma amiga disse que precisava ter mais concentração para estudar. Eu, do nada, decidi que era uma oportunidade! Ofereci a possibilidade a ela e a hipnotizei por WhatsApp.

Depois, fiquei mais à vontade e pratiquei a hipnose recreativamente, em festas, com amigos e qualquer um que se mostrasse disposto a experimentar. Finalmente, fiz um curso se hipnose clínica no IBHT e diversos depois desse. Mas nunca atendi profissionalmente, ainda que estivesse mais do que preparado. Finalmente, descobri uma técnica de hipnose erótica com a qual me identifiquei e a aprendi. Depois de testar a técnica com parceiras e pessoas amigas dispostas a experimentá-la me senti pronto e, com apoio do IBHT, decidi me lançar profissionalmente.

Como tem sido a procura?
Com poucas matérias divulgando, tenho me mantido ocupado no momento em responder muitas pessoas curiosas e interessadas na experiência. Já fechei diversas sessões. Estou vendo que, em breve, será um trabalho de período integral.

Alessandro na época do “Namorado de Aluguel”.

Isso só mostra a indigência erótica em que vivemos: o erotismo, a sensualidade, deveria ser nosso bem imaterial mais abundante, pois está ao alcance de todos, em tese, mas a sociedade se estruturou de uma forma tão macabra que tornou isso em escassez. E essa escassez desse bem fundamental facilita a escassez em outras áreas, pois descontentes com nossa sexualidade, aliviamos nossas frustrações em comportamentos neuróticos: comer demais, beber demais, consumo impulsivo, relacionamentos tóxicos, violência, gosto pela autoridade impositiva, governos fascistas (sobre isso, ler a introdução à edição americana de A Função do Orgasmo).

Você trabalha só com mulheres?
Por enquanto são as mulheres que me procuram. De fato, a hipnose erótica ministrada por um homem a um homem tem a ver mais com o ensino de como abraçar sua masculinidade de uma forma não tóxica e portanto não é uma experiência pontualmente erótica, mas que vai aprimorar muito sua vida erótica posterior.

Existe contato físico na seção?
Não. No máximo regiões neutras como cabeça, pulso ou joelho. E, ainda assim, a intenção é ancorar certas sensações e não provocar sensações com o toque necessariamente. Para você ter uma ideia tenho tido sucesso com atendimentos via vídeo.

Muita gente vai achar que isso é picaretagem. Qual a base científica disso?

Eu poderia citar os resultados das pesquisas da Escola de Medicina de Starford que, por meio de escaneamento cerebral, comprovou alterações na consciência.

Ou o uso da hipnose no lugar de anestesia geral em hospitais franceses (note que esta matéria foi publicada no site da Associação Paulista Para Desenvolvimento da Medicina.

Eu poderia citar o artigo sexto da Lei 5081 de 1966, que regulamenta a profissão de Odontologia, o Conselho Federal de Medicina, que reconhece a hipnose como recurso terapêutico e autoriza seu uso segundo o parecer 2172 de 1997, aprovado em 1999, o Conselho Federal de Psicologia, que aprova a hipnose com a Resolução 013, de 2000 e, ainda, o Conselho Federal de Fisioterapia Ocupacional, na Resolução 380 de 2010. São todas ocupações que têm fundamentação científica, cada uma em diferentes graus.

Se alguém considerar a hipnose picaretagem, sugiro que procure cada uma dessas entidades.

Hipnose: paixão para uns, ceticismo para outros.

Porém, prefiro citar um exemplo muito mais cotidiano. Uma pessoa que não acredita em hipnose não pode acreditar em cinema, pois a hipnose nada tem de misterioso ou místico ou estranho. Vou citar o trecho do livro que estou escrevendo (Hipnotize e Torne Seu(s) Relacionamento(s) Extraordinário(s)):

O transe hipnótico no dia a dia
É muito comum que eu seja procurado por pessoas que costumam dizer coisas como:
– Eu não sou hipnotizável! Sou muito racional!
– Só pessoas de mente fraca são hipnotizadas!
– A hipnose é perigosa. Você pode não voltar!
– Não tenho concentração…
– Hipnose simplesmente não existe!
A todas elas eu vou responder com uma simples pergunta, altamente hipnótica (por quebrar o padrão de pensamento e as expectativas):
– Ah, pois não… e você por acaso já foi ao cinema alguma vez na vida?
Veja só:
1. Por mais racionais que sejamos (e por pior que o filme seja), dificilmente deixamos de nos envolver com o roteiro e com as imagens, a ponto de esquecermos que estamos numa sala escura, com uma imagem sendo projetada na tela, junto de outras pessoas; de fato, chegamos a sentir alegria, tristeza, medo e muitas outras emoções que, antes de sentarmos na poltrona, sequer estavam ali: foram sugeridas pela história e nós aceitamos essas sugestões
2. Pessoas de “mente fraca” ou “mente forte” – seja lá o que isso signifique – passam por esse processo de envolvimento com o filme. Isso só não acontece se houver algum déficit cognitivo, isto é, se a pessoa, por sérias questões neurológicas ou psicológicas, não consegue entender o que está se passando na tela
3. Gostaria que você me dissesse se conhece alguém que entrou no cinema e não conseguiu sair. No mínimo, os funcionários vão expulsá-la em algum momento, porque querem ir para casa. Já pessoas que assistem ao Super-Homem e passam a acreditar que há gente que voa por aí com uma cueca por cima da calça entram na categoria de déficit cognitivo. Ou são esquizofrênicas. Ou são crianças, mas crianças são uma outra história que não discutiremos neste livro
4. Mesmo pessoas que se dizem sem concentração são capazes de se concentrar em um filme que, por alguma razão, tenha algo que lhes interesse. A não ser, é claro, os chatos que são capazes de ficar trocando mensagens pelo celular durante a projeção. Mas esses estão hipnotizados pelo celular.
5. Se você acha que os filmes e o cinema não existem, você se enquadra no grupo de pessoas com déficit cognitivo. Provavelmente também acredita que a Terra é plana, possivelmente tem esquizofrenia e deveria estar sendo medicado. E, a propósito, um hipnotista vai preferir não atendê-lo por suas condições neuropsicológicas.

Você já fez bastante coisa “estranha”, como o projeto do Namorado de Aluguel. Como acabou aquilo?
O projeto Namorado de Aluguel acabou por vários motivos e por erros que, assumo, cometi. Faltou uma definição melhor do que era o serviço e pelo que estava se pagando. Faltou mais discrição (suponho que muitas possíveis clientes não gostariam de sair com um “namorado de aluguel” tão conhecido: em 3 dias o site já tinha perto de 50 mil acessos). Isso e diversas questões interpretativas errôneas me fizeram abandonar a ideia, antes mesmo de começar de fato apesar da empolgação das pessoas próximas que me incitavam a ir em frente.

Qual é o teu objetivo pessoal com esse trabalho?
Meu objetivo é ajudar as pessoas a terem uma sexualidade mais saudável e viverem mais felizes. Não tem preço ver o rosto de surpresa, gratidão e felicidade de alguém que conseguiu atingir um orgasmo de corpo inteiro sem nenhum estímulo físico e que, a partir de agora, terá acesso a isso sempre que quiser e que, além de tudo, pode usar esse estado de descontração para se colocar no mundo de forma mais relaxada, de maneira que sua comunicação e ações fluam com mais clareza, potência e energia.

Conheça mais no site.

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