Suplicy, o evangelista da renda mínima, traz sua pregação a Curitiba

Em palestra na UFPR, ex-senador segue seu circuito para promover a ideia de dignidade mínima para cidadãos

Eduardo Suplicy sempre teve um ar meio de monge. Milionário, preferiu se dedicar a uma vocação – a da política. Escolheu o lado oposto do que normalmente escolhem os empresários, e entrou num partido de trabalhadores. No PT, enquanto mil caíam à sua esquerda e dez mil à sua direita, ele caminhava de cabeça erguida.

Agora, tendo perdido o mandato de senador muito mais por faltas alheias do que por erros seus, segue fiel a suas causas. Uma delas, o próprio partido: vereador por São Paulo, faz muito mais o papel de embaixador do petismo, viajando como mascate de ideias pelo país.

Perto de completar oitenta anos, Suplicy fala com voz cada vez mais grave e mais lenta. Agora, parece de fato um padre, pastor. E sua pregação, claro, tem um mandamento que paira acima de todos: “Darás renda mínima a todos os cidadãos”.

Na semana passada, Suplicy esteve em Curitiba pregando para centenas de universitários do curso de Direito, em evento alternativo organizados por discentes, contrapondo a programação oficial. Falou numa sala da UFPR com 200 estudantes. Como havia mais inscritos, sua fala foi retransmitida em tempo real em outra sala ao lado, além das dezenas de estudantes que se amontoaram pelos corredores.

Em sua chegada foi muito aplaudido e dividindo a mesa com a professora Megg Rayara Gomes de Oliveira, primeira travesti negra a obter o grau de doutora na instituição, resgatou se histórico de trabalho na pauta durante sua gestão como secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo. Bem-humorado, encerrou cantando O Homem na Estrada do Racionais MC’S.

Depois, recebeu o Plural, onde repetiu basicamente sua eterna crença na justiça entre os homens, que começa com a ideia de que é preciso dar a cada pessoa um mínimo de dignidade – e isso passa por garantir que ninguém passe fome, que não haja pessoas sem capacidade de ter pelo menos um teto e três refeições.

Na entrevista, citou os dois princípios de Justiça de John Rawls. Primeiro, o da liberdade – é preciso garantir um sistema que dê a todos a máxima liberdade possível, desde que possa ser estendida a todos. O segundo, o da igualdade: todos os postos devem estar abertos a todos, e qualquer diferença precisa ser justificada por melhorias obtidas para aqueles que estejam em piores condições.

Mas falou principalmente da renda básica. Contou de sua recente visita ao Quênia, país da África subsaariana que acaba de implantar uma política de renda mínima: são 22 dólares por adulto nas vilas rurais mais pobres. Suplicy diz que os resultados, mesmo com tão pouco dinheiro, são excelentes.

E cobra que o atual governo – sim, o governo de Jair Bolsonaro (PSL) – termine de implantar o que o Congresso aprovou e Lula sancionou 15 anos atrás. “Escrevi uma carta para o Bolsonaro. Ele foi deputado na época, e a lei foi aprovada por unanimidade”, disse.

Sobre o futuro do partido, disse apenas que todos estão preocupados, e que seu périplo pelo país tem a ver com a reconstrução do petismo, ao qual continua fiel.

Fidelidade que continua a demonstrar também ao ex-presidente Lula. Aproveitando a passagem por Curitiba, o ex-senador foi visitar a vigília Lula Livre ao lado da Polícia Federal, no Santa Cândida. Já anunciando que a próxima parada de sua caminhada é Quixeramobim, no Ceará – isso antes de voltar a Curitiba, no mês que vem, dessa vez a convite dos alunos da PUC, que também querem tê-lo por lá.

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