Fiscalizações disparam e donos de bares acusam Aifu de abordagens truculentas

Operações aumentaram mais de 3.000% na pandemia e empresários relatam clima de intimidação e punições desproporcionais

*Texto atualizado às 10h50 de terça-feira (19) para incluir o posicionamento da Polícia Militar

Por volta de 1h da madrugada do último sábado (15), uma operação da Ação Integrada de Fiscalização Urbana (Aifu), coordenada pela Polícia Militar do Paraná, com apoio de outros órgãos estaduais e municipais, expulsou cerca de 300 pessoas que lotavam o James Bar e interditou a casa localizada no Batel, em Curitiba.

Na noite seguinte, por volta das 22h20, o Soft Lounge Bar, um pequeno bar e tabacaria no Seminário, foi invadido por uma equipe de mais de dez pessoas da Aifu e sofreu a mesma punição. Os clientes assustados se retiraram e o local foi interditado. Na ação, foram recolhidas seis garrafas de bebidas alcoólicas sob suspeita de serem irregulares, embora o dono do local afirme ter apresentado as notas fiscais de compra.

Os donos dos dois estabelecimentos rechaçam as acusações e dizem que trabalham dentro da lei. Empresários do setor com os quais o Plural conversou relatam um clima de intimidação e acusam os agentes de agirem com truculência e aplicarem punições desproporcionais para pequenas infrações ou até mesmo em situações em que não haveria irregularidades.

“A impressão é que os bombeiros já vieram na intenção de fechar a gente, vieram caçando motivo para nos fechar. Eles tratam a gente como se fôssemos vilões ou bandidos que passam a perna em todo mundo”, desabafa Ana Priscila Raduy, dona do James Bar.

A interdição se deu pela falta de uma placa de saída na área externa da balada e pelo botão do alarme de incêndio estar obstruído por uma mesa. A empresária diz que possui alvará do Corpo de Bombeiros, que foi concedido após vistoria, e que eventuais problemas poderiam ser resolvidos por meio de uma orientação.

Não há previsão para que a balada volte a funcionar, já que estará sujeita à multa caso reabra sem se adequar às novas exigências. “Imagina o prejuízo, ainda mais depois de uma pandemia”, se queixa Ana Priscila.

O empresário Andrey Luiz Petris, que há quatro anos comanda o Soft Lounge Bar, diz que todo dia abre seu bar com medo de ser alvo de novas fiscalizações, embora garanta ter toda a papelada em ordem. Ele, que tem alvará de microempreendedor individual (MEI), acusa os órgãos de fiscalização de exigirem documentação que não se enquadra na sua atividade econômica.

“Faltam regras claras. Cobram o que eles querem na hora. Eles procuraram algo para me multar de qualquer maneira”, critica Petris que recorreu a um advogado para tentar solucionar o imbróglio burocrático.

As operações da Aifu deram um salto de 3.438% em quatro anos. Em 2018, foram 36 fiscalizações; em 2019, subiram para 84 e explodiram na pandemia. Em 2020, foram registradas 531 ações e, no ano passado, 1.274, uma média de mais de três por dia.

Nos primeiros seis meses deste ano, as intervenções somam 440, uma média de mais de duas por dia. Em nota, a prefeitura de Curitiba informou que o aumento se deve em razão da pandemia e que questionamentos sobre a atuação da Aifu devem ser direcionados à Polícia Militar, que comanda as abordagens.

“Os agentes municipais só verificam se está tudo dentro da lei e autuam, caso haja necessidade”, informou a secretaria de Urbanismo.

Em nota, a PM afirmou que diariamente recebe denúncias da população e do Ministério Público sobre irregularidades em estabelecimentos comerciais, que impactam na saúde, na tranquilidade e na segurança das pessoas.

“Importante citar que o planejamento e a condução das fiscalizações observam os princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, primando rigorosamente pelo interesse público. Os responsáveis pelos estabelecimentos fiscalizados e eventualmente notificados recebem todas as informações e esclarecimentos relacionados, o que inclui os caminhos para apresentação de recursos e até mesmo reclamações”, diz o órgão.

Por fim, a coordenação da AIFU diz estar “à inteira disposição para receber qualquer empresário, frequentador ou funcionário que se considere prejudicado durante ação de fiscalização”.

Empresários denunciam perseguição política

Alvos recorrentes da Aifu, alguns donos de bares, que deixam claro seu posicionamento político de esquerda ou atraem um público diverso, suspeitam que por trás da fiscalização pesada haveria uma repressão com motivações política e ideológica.

“Percebemos que há uma perseguição quanto ao tipo de público que a gente recebe. A repressão não seria tão grande se a gente não se posicionasse a favor dos direitos das pessoas mais vulneráveis”, afirma Gustavo Machado, dono do Camaleão Cultural, no Centro.

O bar é frequentado por um público LGBTQIA+, tem entrada franca para pessoas transexuais e promove eventos de cultura alternativa e festas voltada para uma clientela que Machado define como “marginalizada”. O bar já foi alvo de atos violentos por moradores do entorno que arremessaram ovos e, em três ocasiões, bombas que não causaram danos, mas que obrigaram o empresário a instalar câmeras de segurança.

A Aifu já aplicou uma multa de R$ 50 mil durante a pandemia após encontrar oito pessoas a mais que o permitido pela capacidade da casa. Machado está recorrendo, mas caso a sanção for confirmada, ele teme ir à falência.

“Na primeira visita, [os agentes] encontraram algumas irregularidades e nos deram 21 dias de tempo para saná-las. Só que voltaram depois de uma semana. É uma coisa extremamente intimidadora, eles tentam de tudo para fechar os bares”, se queixa o empresário, que diz se esforçar para atender as demandas dos vizinhos e da Aifu.

Na calçada, o bar instalou placas para exigir silêncio à clientela e a equipe passa pelas rodas de conversa para pedir que não se extrapole o tom da voz. “Somos acusados de sermos negligentes com essas questões, embora a gente faça tudo que está ao nosso alcance”, reclama Machado.

A empresária Fabíola Nespolo, sócia da Rua Pagu, no Juvevê, foi alvo de três fiscalizações em três anos e oito meses de funcionamento do bar, sendo que a casa ficou fechada por meses durante a pandemia. Ela, que recebe um público diverso, diz ser vítima das denúncias da vizinhança conservadora que se sente incomodada pela sua presença.

“A legislação é conivente com a permissividade deste tipo de abordagem ostensiva. Os alvarás são concedidos periodicamente após vistoria, então não há necessidade desse tipo de abordagem. Tudo pode ser consultado on-line e não desta forma arcaica”, critica a empresária.

O Folia Bar, no Centro, que também atrai uma clientela LGBTQIA+, é alvo constante da fiscalização e já levou duas multas que somam R$ 14 mil, uma por colocar mesas na calçada para garantir a segurança sanitária dos clientes durante a pandemia.

“Desde então temos deixado de fazer várias coisas por medo de levar mais multas. As fiscalizações sempre procuram brecha, vivemos um sentimento constante de estar fora da lei, mesmo não fazendo nada errado”, reclama o empresário Pedro Solak.

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13 comentários em “Fiscalizações disparam e donos de bares acusam Aifu de abordagens truculentas”

  1. Quando o barulho e a bagunça não é perto da sua casa, está tudo certo, né!!!

    Só reclama e falam mal da AIFU quem está irregular.

    Estabelecimento que trabalha dentro da lei não tem o que temer.

  2. É fácil reclamar da polícia, qdo o estabelecimento não está próximo a sua casa.
    Muitos estabelecimentos estão em irregularidades, como por ex ( som sem isolamento acústico).
    Parabéns a todos os órgãos que estão multando essas irregularidades.

  3. Quando é barulho não é perto de sua casa, é fácil criticar.

    AIFU faz um trabalho de excelência.
    Se o estabelecimento estiver com a documentação ok, e trabalhando dentro da lei, não há o que temer.

    – Lembre-se antes de criticar nossa honrosa Polícia Militar:

    Quando o calo aperta, é para o 190 que ligamos!!!

  4. Por que deverão e civilidade não podem andar juntos? Por que não respeitar os limites alheios? É tão difícil assim a percepção de que não se está sozinho no mundo e de que o seu direito termina onde o do outro começa? Você tem o direito de se divertir e o outro tem o direito de descansar, de pensar, de trabalhar em casa. Há regras claras sim. É só estar em ordem que não tem consequências. Parabéns à AIFU, seus componentes e colaboradores. Bom senso vai bem em todo lugar e a todo instante, além de não requerer prática, habilidade ou custo.

  5. Claudia Medeiros

    Ainda bem que existe a Aif.
    Eles tem feito um excelente trabalho , sim porque já foram pagos vários pontos de drogas também.
    A população de bem agradece .

  6. Valéria Prochmann

    Ótima notícia!
    Parabéns ao Comando e a toda a equipe da AIFU pela alta produtividade. Por estar cuidando bem da segurança pública, da saúde e da qualidade de vida da população. Por estar atendendo aos pedidos da comunidade, que clama por fiscalização do poder público. Por estar aplicando as leis. Por ser idônea, íntegra, respeitável e eficiente. Nossa AIFU é modelo para todo o Brasil.

    Que tipo de empresário reclama de fiscalização do Corpo de Bombeiros? Da Vigilância Sanitária? Do Urbanismo? Da Polícia e da Guarda Municipal?
    Vamos esperar um bar pegar fogo sem acesso aos equipamentos e sem saída sinalizada, um prédio desabar, uma bebida alcoólica falsificada fazer mal ao consumidor, alguém morrer por falta de fiscalização dos poderes públicos?
    Se a vizinhança está indignada é porque os estabelecimentos fomentam condutas antissociais, como a perturbação do sossego, bebedeira coletiva no meio da rua, algazarra, baderna, não deixando as pessoas dormirem em paz, desrespeitando o descanso do trabalhador. Ostensivos, abusivos e intimidadores são os bêbados e traficantes que ameaçam moradores, respondendo com cinismo às pessoas e mandando “que se mudem”.
    Empresário que tem responsabilidade socioambiental respeita a vizinhança, cumpre a legislação e faz as adequações necessárias quando advertido pelas autoridades.

  7. Fui abordada duas vezes pela aifu e eles chegam como se tivesse bandido é muito constrangedor, tive q fechar sendo q estava td certo com a documentação, a resposta deles porque é norma q norma é essa .

  8. Walter Malschitzky

    O largo vem sofrendo esses tipo “ação”, e com essas denúncias fica mais claro que é orquestrada. A corregedoria, o MP, os vereadores alguém precisa fiscalizar o que ocorre. No caso do largo é a guarda municipal, aquela mesma que deu tiro de 12 pelas costas do Mateus Noga.

  9. A rua está livre… qual o problema? Se for no barigui vai estar tão “desorganizado ” quanto… não é bom impor restrições meramente estéticas aos grupos de pessoas que só estão tendo seus momentos de lazer

  10. Queria saber se a AIFU fiscalizou o evento do dia do rock nesse final de semana? O hardrock interditou a calçada, colocou uma palco pro lado de fora, tinha uma multidão aglomerando na frente e cobrava 300 reais pra entrar. Quem tava do lado de fora poderia consumir um chopp de 300 ml ao preço de 25 reais. Alguém foi lá incomodar o hard rock?

  11. A própria foto da reportagem mostra uma bagunça. Sem organização. Nào entendo. Pode ter diversão e ordem ao mesmo tempo. Não precisa ser essa zona da foto. Nitidamente tem demanda. Portanto deveriam lutar por fechar a rua, colocar cones. Coisas desse tipo. Entre outro ponto, fiscais normalmente tem sindrome do pequeno poder. Querem impor tudo sem bom senso. Em suma, não é uma solução fácil.

  12. Aifu são perseguidores de CNPJ, muitos estão aí na surdina trabalhando livremente irregular e não são fiscalizados, enquanto aquele que cai atrás para estar regularizado a prefeitura persegue.
    Não há uma legislação específica
    Os fiscais vem fechar e multar.
    Em muitos casos poderiam informar. Mas a ordem é fechar…. já fiz denúncias de festas e estabelecimentos que estão irregular que até hoje a prefeitura não fiscalizou. Muita burocracia e não deixa o nosso país crescer.

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